terça-feira, setembro 23, 2014

Grandes acionistas do BES saíram a correr do banco

Segundo o DN de Lisboa, "a CMVM está a analisar todas as ordens de compra e venda com títulos do banco. E tem poucas dúvidas: na sexta- feira, 1 de agosto, só os pequenos compraram. Os pequenos investidores compraram gato por lebre nas últimas 48 horas de vida do Banco Espírito Santo. A Comissão do Mercado de Valores Mobiliários ( CMVM), o polícia da bolsa, está a passar a pente fino todas as ordens de compra e venda relacionadas com ações do banco efetuadas entre quinta e sexta- feira – 31 de julho e 1 de agosto – e já concluiu que uma grande parte dos investidores institucionais se desfizeram dos títulos naquele período de tempo. O despejo sistemático e massivo encontrou do outro lado pequenos e médios investidores dispostos a comprar e que, por isso, acabaram por ficar sem nada quando, no domingo à noite, 3 de agosto, o Banco de Portugal, em coordenação com o Governo, decidiu partir o BES ao meio, criando um banco bom, controlado pelo fundo de resolução, e um outro, mau, para onde foram remetidos todos os acionistas do BES. Para a CMVM, presidida por Carlos Tavares, este mês e meio que passou desde esse momento fatídico serviu para tentar perceber se a queda do valor das ações do BES entre quinta- feira – o dia seguinte à apresentação dos prejuízos históricos – e sexta- feira a meio tarde, quando os títulos foram definitivamente suspensos, tinha alguma explicação além do natural efeito rebanho. A conclusão, segundo fonte próxima do processo, deixa poucas dúvidas. Na quinta- feira, o valor das ações caiu 49,28%, para 18 cêntimos, em resultado do anúncio dos prejuízos revelados na véspera. Uma desvalorização considerada natural face à hecatombe. Mas, depois, os títulos acabaram por estabilizar e, na sexta- feira, o mercado até abriu com o BES a subir 5,9% face ao fecho do dia anterior. Foi a partir das 13.30 que se deu o descalabro, com o BES a cair para os 10 cêntimos sem qualquer explicação plausível. Entre a uma e meia da tarde e as 15.42 daquela sexta- feira, altura em que a CMVM suspendeu definitivamente as negociações – explicando que ia ser anunciado um facto relevante durante o fim de semana –, o volume de ações transacionadas bateu todos os recordes, com níveis de liquidez anormais ( ver gráfico). “Foi um despejo sistemático que já não podia estar relacionado com a apresentação de resultados de quarta- feira, já que de manhã o BES até subira ligeiramente”, diz a mesma fonte, assinalando que atrás das ordens de venda encontravam- se, em regra, grandes investidores. Do outro lado, a comprar, estavam os pequenos e médios investidores, convencidos de que aquele era um bom momento para entrar no BES e aproveitar uma pechincha. Para a CMVM, a grande dificuldade é conseguir provar que houve de facto abuso de informação privilegiada, o que implica seguir o rasto do dinheiro e dos títulos. Mas não basta isso. É preciso provar que as vendas estiveram mesmo relacionadas com o acesso a informação sigilosa, obtida e usada ilegitimamente, sobre o que iria acontecer ao BES naquele fim de semana, isto é, a sua extinção. O facto de o Governo ter aprovado, na quinta- feira, em Conselho de Ministros, o decreto- lei que outorgou ao Banco de Portugal o poder de dissolver qualquer banco, já com o BES debaixo de mira, pode ter transpirado e esse é um rasto a ter em conta. Mas há outra pista a ser avaliada: a decisão, tomada pelo Banco Central Europeu ( BCE), de excluir o BES do eurosistema porque, com os prejuízos de 3,5 mil milhões de euros, os rácios de solvabilidade haviam caído muito abaixo dos 8% exigidos – decisão que foi tomada entre quinta- feira à noite e sexta- feira, 1 de agosto, e comunicada então pelo BCE ao Banco de Portugal –, também pode ter sido alvo de uma fuga que chegou, então, aos tais investidores institucionais. A dificuldade para o polícia da bolsa está em provar isto mesmo. Vai ser preciso tempo. Meses, talvez mais de um ano"