"Não se vive bem com 4.800 euros. Aliás, 5.000 euros não é milionário… E 5.200 euros é
classe média baixa na Europa. Mil euros por mês? É miséria. Mas salários baixos
tornam o país competitivo. Cortá-los é inevitável. Isso e empobrecer. Tudo
somado, o que irá receber dá para pagar as suas despesas? Há quem diga que não. Quando Marinho Pinto afirmou esta terça-feira à
Rádio Renascença que os deputados deviam ganhar mais dinheiro e que mesmo 4.800
euros, o salário do procurador geral da República, “não permite ter padrões de
vida muito elevados em Lisboa”, já sabia que estava a tocar num ponto sensível.
Minutos depois, a frase estava espalhada pela Internet. É muitas vezes assim. Falar de salários é quase sempre polémico.
Sobretudo quando se diz, como se disse muitas vezes desde o início da crise da
dívida soberana, que seria necessário cortar salários. O Expresso coligiu uma
série de frases de que provavelmente se lembra, publicando cada “soundbyte” mas
também as frases completas.Subscreve?
"Salário de 4.800 euros não permite padrões de vida muito elevados em
Lisboa", ANTÓNIO MARINHO PINTO, RÁDIO
RENASCENÇA, SETEMBRO DE 2014
A frase completa: “[3.515 euros brutos, o
salário de um deputado,] não é digno. Digo-o perfeitamente. (…) Os órgãos de soberania em
Portugal são mal remunerados, a começar no Presidente da República e a acabar
nos juízes. Deveria haver essa cautela. E não há porque muitos políticos
encontram formas, por vezes ilícitas, de suprirem essa deficiência. (…) Para quem vivia em Lisboa, sim
[4.800 euros por mês, é um salário digno]. Acho que não permite grandes coisas.
Não permite ter padrões de vida muito elevados em Lisboa, fora de casa, quando
deixa de exercer a profissão. Eu ganhava mais quando exercia a profissão, bem
mais. (…) O que lhe digo é que o Parlamento português tem que encontrar
rapidamente uma remuneração condigna para a função de legislador. Tem que tomar
também outras atitudes. Tem que fazer exigências aos deputados. Não se pode ser
advogado e deputado ao mesmo tempo. Não se pode utilizar o Parlamento para
tráficos de influências.”
"O ideal era que os salários descessem", ANTÓNIO BORGES, MARÇO DE 2013, RÁDIO RENASCENÇA
A frase completa: “O ideal era que os salários descessem como aconteceu
noutros países como solução imediata para resolver o problema do desemprego.
Ninguém quer um país de gente pobre, toda a gente quer um país próspero. Mas,
antes disso, temos uma emergência nas mãos e a emergência é uma taxa de
desemprego acima dos 17%”.
"5.800 euros por mês em
qualquer país europeu é classe média-baixa", DIOGO LEITE DE CAMPOS,SIC, 2009
A frase completa: “Houve um ministro das
Finanças que disse que ricos são aqueles que têm mais de dez mil euros por mês.
Mas se nós levarmos em conta que sobre estes dez mil euros incidem 42% [de
IRS], isso significa que estas pessoas ficam reduzidas a 5.800 euros. Será que
se pode dizer que 5800 euros por mês para casa, roupa lavada, comida, instrução
de filhos, doença e tudo é muito? 5800 euros por mês em qualquer país europeu é
classe média-baixa. Será que são esses os ricos portugueses? Tudo não chega
sequer para o consumo. É evidente que as pessoas que ganham mil euros por mês acham
isto enorme, mas mil euros por mês não e classe media, é miséria.”
Aumentar salário mínimo é estragar a vida aos pobres
JOÃO CÉSAR DAS NEVES, DIÁRIO DE NOTÍCIAS, NOVEMBRO DE 2011
A frase completa: “Uma das piores coisas que
está a acontecer em Portugal é [haver] uma data de gente a falar dos pobres,
que não são pobres, e que em nome dos pobres querem defender o seu. Estão a
defender o seu e a fingir que são pobres. Os pensionistas, a maior parte deles
não são pobres, estão a fingir que são pobres, e dos verdadeiros pobres ninguém
fala deles ou quando fala é para dar direitos a todos esses. São pessoas que
estão a sofrer, não estou a dizer que não estão a sofrer. O que estou a dizer é
que, de facto, dos verdadeiros pobres ninguém fala e só fala para criar
disparates como por exemplo esta ideia agora de subir o salário mínimo, que é a
melhor maneira de estragar a vida aos pobres, de destruir a vida aos pobres,
mas dá muito jeitinho, até parece que vai haver um movimento… É criminoso. No
momento em que a taxa de desemprego está em 17%, mas sobretudo, e ninguém tem
reparado, o desemprego das pessoas sem nenhuma formação, que era das mais
baixas em Portugal, agora subiu e já está das mais altas, subir o salário
mínimo, ou seja, tornar mais caro esse trabalho é a pior maneira de ajudar
essas pessoas”.
"Temos de reaprender a viver mais pobres", ISABEL JONET,SIC NOTÍCIAS, NOVEMBRO DE 2012
A frase completa: “Vamos ter de empobrecer muito, sobretudo vamos ter de
reaprender a viver mais pobres. Estamos a empobrecer realmente mas estamos a
empobrecer porque vivíamos muito acima do que eram as nossas possibilidades. Há
toda uma conceção de vida e de consumo e de necessidade permanente consumo e de
necessidade permanente de bens para uma satisfação das pessoas que conduz à
felicidade que não é real. Nós vivemos de uma maneira completamente idiota, por
exemplo, a Dr.ª Manuela [Ferreira Leite], o Dr. Rui Vilar, eu fomos habituados
a lavar os dentes com um copo dos dentes. Os meus filhos lavam os dentes com a
torneira a correr. Há aqui toda uma maneira de viver em que se deixou de
atribuir o valor real aos bens e perdeu-se a total noção do que é o custo de
oportunidade. Há toda uma reaprendizagem de vida. Ou vamos a um concerto de
rock ou efetivamente podemos ir tirar uma radiografia quando caíamos numa aula
de ginástica. Há que fazer uma lógica de quase contabilidade doméstica. Se nós
não temos dinheiro para comer bifes todos os dias, não podemos comer bifes
todos os dias. Esse empobrecimento é pelo facto de nós estarmos habituados a
comer bifes todos os dias. Achávamos que podíamos comer todos os dias, não
podemos.”
"Impõe-se a redução dos salários reais", VÍTOR BENTO,VISÃO, MARÇO DE 2009
A frase completa: “Não havendo desvalorização da moeda, impõe-se reduzir os
factores de custo, neste caso por redução dos salários reais.”
Cinco mil euros “não é”
salário milionário", ALEXANDRE SOARES DOS SANTOS, OBSERVADOR, SETEMBRO DE 2014
A frase completa: “Não há ninguém que vá trabalhar com gosto ganhando
pouco. E o salário mínimo nacional de 500 ou 520 euros não dá para nada. Vocês
[jornalistas] têm muita culpa quando escrevem ou dizem, reforma milionária de
5.000 euros. Onde é que isso é milionário? E quanto é que fica para a pessoa?
Está tudo muito contente neste país. Porque somos miseráveis e gostamos de ser
miseráveis.”
"Tudo somado, o que irei receber não dá para pagar as minhas
despesas", CAVACO SILVA, JANEIRO DE
2012
A frase completa: “Eu neste momento já sei
quanto irei receber da Caixa Geral de Aposentações. Eu descontei quase 40 anos
uma parte do meu salário para a CGA como professor universitário e também
descontei alguns anos como investigador da Fundação Calouste Gulbenkian. Irei
receber 1.300 euros por mês. Eu não sei se ouviu bem: 1.300 euros por mês.
Quanto ao fundo de pensões do Banco de Portugal, para o qual eu descontei
durante quase 30 anos parte do meu salário, eu ainda não sei quanto é que irei
receber, mas os senhores não terão dificuldade, eu fui um funcionário de nível
18 que exerceu funções de dirão. Tudo somado, o que irei receber do fundo de
pensões do Banco de Portugal e da CGA, quase de certeza que não vai dar para
pagar as minhas despesas. Por que como sabe eu não recebo vencimento como
Presidente da República, nem faço questão quanto a isso, porque existem outros
portugueses na mesma situação. Felizmente, durante os meus 48 anos de casado,
eu e a minha mulher fomos sempre muito poupados.”
"Só vamos sair da crise empobrecendo", PASSOS COELHO, OUTUBRO DE 2011
A frase completa: “As metas que temos de atingir
não podem estar em aberto. O país tem de estar tranquilo, e a Europa também, de
que as metas que foram definidas serão cumpridas po nós. São essas metas que
obrigam a que muitas das medidas que têm sido mais polémicas ou mais discutias,
ou que são associadas à maior dureza do orçamento, essas são as medidas que são
necessárias para que as metas sejam atingidas. Relativamente a isso, o governo
não tem uma posição de hesitação"
"Cortar salários e pensões será inevitável, MIGUEL FRASQUILHO, CONGRESSO PSD, ABRIL DE 2010
A frase completa: “Sejamos claros: as áreas dos
salários e das pensões poderão não escapar a descidas. Será injusto,
possivelmente, mas não seria inédito. E portanto, a correção terá de ser feita
às claras. E como é sobre a Função Pública que o Governo tem controlo, e é a
Função Pública que serve como referência para toda a economia, é aí que tem de
se atuar. Provavelmente com uma atuação diferenciada, isto é, com reduções
inversamente proporcionais aos níveis salariais, o que permitirá que os
salários mais baixos não sejam afetados e obviamente com os decisores políticos
a dar o exemplo (… Também na área social não será possível deixar de congelar e impor tetos em
diferentes prestações sociais não contributivas. Será inevitável que estas
opções ou opções parecidas sejam tomadas em Portugal (...) Para contar a
história da carochinha já nos basta o PS”.
"Custos salariais têm de baixar", VÍTOR GASPAR, JUNHO 2012
A frase completa: “A economia portuguesa precisa
de ajustar e esse ajustamento depende de uma evolução favorável
dos custos unitários do trabalho que permita ganhar competitividade
relativamente aos nossos parceiros. Esse processo é inevitável”
"Somos um país competitivo por termos
salários baixos", MANUEL PINHO, JANEIRO DE 2007, NUMA
APRESENTAÇÃO A INVESTIDORES EM PEQUIM
A frase completa: “Portugal é um país em que há
segurança e estabilidade política, características que não se registam noutros
países europeus (…). Portugal tem bons portos e boas vias rodoviárias (…). Portugal introduziu o inglês
no Ensino Básico e as universidades portuguesas têm acordos com algumas das
melhores universidades do mundo, em particular nos EUA (…) Somos um país competitivo em termos de custos, nomeadamente,
os custos salariais são mais baixos que a média europeia”
"Falar dos
salários dos gestores é politiquice da mais barata e da mais reles” FERNANDO ULRICH, LUSA, MAIO DE 2008
Frase completa: Não há registo da frase completa
e não editada. A notícia original do Jornal de Negócios cita as declarações
assim: “Fernando Ulrich defende que o Governo não tem nada a ver com os
salários que as empresas cotadas pagam aos gestores. O presidente do BPI diz que
os líderes das empresas cotadas são examinados todos os dias pelo mercado de
capitais e pelos colaboradores e que a regulação do que se passa nas empresas
“compete-nos a nós e aos colaboradores e o Governo não tem nada a ver com
isso". Ulrich considera ainda que se o Estado achar que há discrepância
entre os rendimentos das pessoas deve aumentar os impostos. "Porque falar
dos gestores é estar a falar de para aí 140 pessoas", enquanto subir o IRS
(para os escalões mais elevados) " já afecta vários milhares de pessoas é
que tem custos políticos". Teixeira dos Santos defendeu hoje a necessidade
de limitar os salários dos gestores de forma concertada nos países da zona
euro, num processo mais "transparente" e tendo por base uma
"avaliação de desempenho" dos responsáveis das empresas. O presidente
do BPI diz que não ouviu as declarações do ministro, mas "falar dos
salários dos gestores é politiquice da mais barata e da mais reles" (texto de Pedro Guerreiro, Expresso Diário, com a devida venia)