quarta-feira, agosto 08, 2012

Opinião: "Quando um cabide vale mais do que uma acção"

"Os ‘rankings’ de milionários não são simples e inocentes exercícios de voyeurismo sobre as fortunas alheias. Mais do que isso, eles valem tanto pelo que reflectem do estado da economia ou de um país como por aquilo que revelam da fortuna ou talento pelo negócio de quem os integra. E a lista actualizada ontem pela Bloomberg volta a deixar pistas curiosas. Warren Buffett, o homem que o mundo conhece por ter o dom de antecipar e aplicar capital em (quase) tudo o que multiplica dinheiro, foi ultrapassado por Amancio Ortega. Um investidor financeiro? Um especulador de bolsa? Não. O ‘oráculo de Omaha', o conselheiro de presidentes norte-americanos e altos executivos e há muito um dos homens mais ricos do mundo, foi superado por um empresário, um homem que investiu em trapos, que apostou no negócio têxtil e no acesso fácil a moda a preços baixos. A crise que fustiga os mercados e que está a atirar ao fundo as participações financeiras em muitos bancos e empresas, castigando assim boa parte da fortuna de Buffett, é a mesma crise que está a alavancar o negócio do espanhol Ortega e a elevá-lo no ‘ranking' dos mais ricos do planeta. O clima depressivo que leva hoje o investidor norte-americano a repensar as suas aplicações, é o mesmo clima depressivo que não travou a Inditex de investir na expansão internacional da sua rede (é o grupo espanhol com mais lojas fora do país), a crescer em mercados emergentes e, por isso, a somar lucros há 12 trimestres consecutivos. Entre os portugueses, a realidade parece não fugir a esta tendência. O último ‘ranking' da Exame dá o trono a Alexandre Soares dos Santos, presidente da Jerónimo Martins, um dos mais importantes grupos retalhistas do País. Atrás de si estão agora Américo Amorim, Belmiro de Azevedo, famílias como os Mello, os Mota ou os Espírito Santo, empresários e investidores de sectores como indústria, construção ou banca, em tempos poderosos agentes financeiros do País, hoje donos de negócios em apuros. Mais do que a exposição da fortuna, os ‘rankings' de milionários valem quase como um indicador económico. Que avalia o risco de quem investe, o sucesso de quem empreende, as escolhas de um mercado quando a crise lhes leva o dinheiro. Essa crise, como as listas dos mais ricos parecem dizer, leva os consumidores a preferir quem lhes oferece mais por um preço mais competitivo. E a quem, como Amancio Ortega, no mesmo dia em que Mariano Rajoy anunciou uma subida do IVA de 18 para 21%, informou que nas suas lojas nenhuma etiqueta iria mudar o preço por isso. Mera estratégia de marketing ou politiquice pura, o certo é que não deve ter havido consumidor que não gostasse de saber isso. O prémio chega mais tarde, provavelmente num ‘ranking' de multimilionários" (texto de Helena Cristina Coelho, Subdirectora do Económico, com a devida vénia)

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