"Parece-me importante desmistificar, de uma vez por todas, algumas declarações feitas a propósito dos meios aéreos de combate aos incêndios e da sua utilização nas regiões insulares, particularmente nas Canárias. Refiro-me a declarações de alguns políticos.
Desconheço o conteúdo e a base de sustentação científica do estudo sobre a utilização de meios aéreos de combate a incêndios na Madeira, cuja existência foi confirmada por ocasião dos últimos grandes incêndios florestais que assolaram e destruíram grande parte das serras da nossa ilha. Mas não é isso que pretendo abordar neste momento, devido a uma falta de informação que assumo e que acho que não devia existir. Se existem decisões técnico-científicas sustentadas, sérias e plausíveis, que desaconselham o uso de aviões e de helicópteros no combate aos fogos florestais na Madeira, então essa informação devia ser do conhecimento público. Para que se evitem especulações, desconfianças e repetidas polémicas.
Contrariando o que tem tido escrito e dito, não existem meios aéreos permanentes de combate aos incêndios nas Canárias. Quem disser o contrário, mente. Uma coisa é a existência de meios próprios naquela região autónoma espanhola, que não existem; outra coisa é a utilização desses meios aéreos de combate aos fogos, o que se confirma, sobretudo depois do governo de Madrid, a pedido do governo de Rivero Paulino, os ter enviado para Canárias.
Comecemos pelo essencial, para que não se continue a enganar as pessoas: em Canárias não há meios aéreos permanentes de combate a incêndios florestais. Depois dos grandes incêndios florestais que assolaram as ilhas de La Gomera e de Tenerife, este mês, tem-se intensificado e alargado o debate público em torno da inexistência de meios aéreos nas Canárias para combate aos fogos. Estamos a falar de um tema que é recorrente assenta numa discussão que conjuga o clima de Canárias com hidroaviões que apenas carregam água no mar, o clima quente durante todo o ano em muitas das ilhas do arquipélago com a orografia e o uso de helicópteros, inclusivamente até para outros fins.
Os hidroaviões só podem ser usados no combate a incêndios enquanto os helicópteros são mais versáteis e representam um investimento mais reduzido. Lembro que em Canárias existem organismos públicos ligados aos socorros e emergência que possuem helicópteros de intervenção rápida, ao contrário do que que acontece na Madeira. Comparativamente com os aviões, os helicópteros embora tendo menos capacidade de armazenamento de água, podem realizar mais viagens, abastecer-se em lagoas ou piscinas, enquanto o avião tem que fazê-lo ao longo da costa descendo e voltando a subir vezes sem conta, gastando elevadas quantidades de combustível. Para os técnicos canarianos, a abordagem é mais segura quando feita por helicópteros que tem uma outra vantagem, a de poderem utilizar água doce, enquanto os aviões de maior porte só podem transportar água do mar (não existem rios nem represas nas Canárias) o que não é muito benéfico para os terrenos assolados pelos incêndios.
Recentemente o tenente-coronel Tomás Palácios, que liderou a equipa que combateu os incêndios em Tenerife, reconheceu numa entrevista a um jornal local que “a orografia de Canárias é muito complicada, tornando muito mais cansativo o trabalho de combate aos incêndios realizado pelos bombeiros em terra. Além disso, há locais que são absolutamente inacessíveis e neste caso só se pode atacar os incêndios com recurso a meios aéreos”.
Interrogado sobre se os hidroaviões são essenciais no combate a um incêndio com as características daqueles que assolaram Tenerife (destruídos mais de 5 mil hectares de terrenos), o tenente-coronel reafirmou que os meios aéreos são necessários: “A vantagem dos aviões Foker é que lançam uma quantidade de água tremenda, mas o helicóptero também é importante. De uma maneira geral, direi que os meios aéreos devem existir, são importantes e complementando-se com os demais meios existentes, ajudam a combater um incêndio". Sobre se devia haver ou não hidroaviões em Canárias, permanentemente, Garcia Palácios recusou responder à questão: "Suponho que quem tem que tomar essa decisão o fará em função dos parâmetros que tenha à sua frente".
Um jornal canário, com posições distantes do governo regional de coligação (Coligação Canária, nacionalista e os socialistas do PSOE) escrevia no editorial no passado dia 19 de Julho:
"É lamentável que um governo canário que de repente se tornou ecologista, recusando querer saber informações sobre a quantidade e a qualidade do petróleo existente em torno de nós, seja incapaz de objetivamente priorizar gastos. Para ele é mais importante ter uma polícia autonómica que ter um serviço próprio de combate a incêndios, devidamente equipado com hidroaviões que possam operar nas nossas florestas e ajudem a preservar uma das maiores atrações turísticas, a nossa paisagem. Sabendo de antemão o risco constante de incêndios que padecem as Canárias, nomeadamente na época estival, por causa das ondas de calor, da escassez de chuva, do vento e das dificuldades resultantes do nosso terreno acidentado, teria sido mais consistente que, antes de criar uma força policial regional, fosse dada prioridade à aquisição de hidroaviões para combater os incêndios e que possam juntar-se aos demais meios operacionais já existentes, com tripulações devidamente treinadas para enfrentar e extinguir os incêndios nesta terra cheia de ravinas, desfiladeiros e locais inacessíveis. Um serviço que poderíamos até prestar a outras comunidades autónomas sempre que fosse necessário".
Todos os meios aéreos usados no combate aos incêndios de La Gomera e Tenerife, foram enviados pelo governo de Madrid a pedido do governo regional de Canárias, incluindo alguns que se encontravam estacionados em Sevilha, no sul do país, depois de terem estado uma semana empenhados no combate a um tremendo incêndio florestal que devastou vastas áreas da Comunidade Valenciana, curiosamente a primeira a recorrer ao fundo financeiro criado pelo governo de Rajoy para apoiar as Comunidades com maiores dificuldades financeiras.
O próprio Presidente das Canárias, Paulino Rivero, defendeu a necessidade do Estado ter permanentemente nas ilhas, sobretudo em épocas de maior risco como o verão, hidroaviões preparados para intervir sempre que surgirem incêndios florestais graves, como o que ocorreu no sul de Tenerife e que consumiu mais de 5.000 hectares de florestas e terras agrícolas. “As ilhas Canárias estão muito longe do continente para que os hidroaviões se incorporem rapidamente nas operações de combate aos incêndios florestais”, disse Rivero. O presidente do executivo local recordou que estas aeronaves especiais, com capacidade para cerca de 5.500 litros de água, apenas se juntaram às ações de combate ao fogo 30 horas depois do seu início, “muito tempo para uma situação de emergência”. Rivero diz que não há outra solução senão a de estabelecer em Canárias "uma base permanente de meios estatais anti-incêndios”.
O Presidente do Governo de Las Palmas lembrou que enquanto na Península se pode mover facilmente equipamento e recursos humanos, de um lado para outro, em apenas duas horas, trazer um helicóptero para Canárias é uma operação complexa que leva no mínimo dois dias, porque o aparelho não pode fazer a viagem de uma só vez, como um avião ou um hidroavião, já que está obrigado a efetuar várias escalas (que regra geral ocorrem em Marrocos) na sua viagem entre o continente e as Canárias. O debate prossegue mas a verdade é que as Canárias continuam sem meios próprios de combate aos fogos florestais" (in JM)
Desconheço o conteúdo e a base de sustentação científica do estudo sobre a utilização de meios aéreos de combate a incêndios na Madeira, cuja existência foi confirmada por ocasião dos últimos grandes incêndios florestais que assolaram e destruíram grande parte das serras da nossa ilha. Mas não é isso que pretendo abordar neste momento, devido a uma falta de informação que assumo e que acho que não devia existir. Se existem decisões técnico-científicas sustentadas, sérias e plausíveis, que desaconselham o uso de aviões e de helicópteros no combate aos fogos florestais na Madeira, então essa informação devia ser do conhecimento público. Para que se evitem especulações, desconfianças e repetidas polémicas.
Contrariando o que tem tido escrito e dito, não existem meios aéreos permanentes de combate aos incêndios nas Canárias. Quem disser o contrário, mente. Uma coisa é a existência de meios próprios naquela região autónoma espanhola, que não existem; outra coisa é a utilização desses meios aéreos de combate aos fogos, o que se confirma, sobretudo depois do governo de Madrid, a pedido do governo de Rivero Paulino, os ter enviado para Canárias.
Comecemos pelo essencial, para que não se continue a enganar as pessoas: em Canárias não há meios aéreos permanentes de combate a incêndios florestais. Depois dos grandes incêndios florestais que assolaram as ilhas de La Gomera e de Tenerife, este mês, tem-se intensificado e alargado o debate público em torno da inexistência de meios aéreos nas Canárias para combate aos fogos. Estamos a falar de um tema que é recorrente assenta numa discussão que conjuga o clima de Canárias com hidroaviões que apenas carregam água no mar, o clima quente durante todo o ano em muitas das ilhas do arquipélago com a orografia e o uso de helicópteros, inclusivamente até para outros fins.
Os hidroaviões só podem ser usados no combate a incêndios enquanto os helicópteros são mais versáteis e representam um investimento mais reduzido. Lembro que em Canárias existem organismos públicos ligados aos socorros e emergência que possuem helicópteros de intervenção rápida, ao contrário do que que acontece na Madeira. Comparativamente com os aviões, os helicópteros embora tendo menos capacidade de armazenamento de água, podem realizar mais viagens, abastecer-se em lagoas ou piscinas, enquanto o avião tem que fazê-lo ao longo da costa descendo e voltando a subir vezes sem conta, gastando elevadas quantidades de combustível. Para os técnicos canarianos, a abordagem é mais segura quando feita por helicópteros que tem uma outra vantagem, a de poderem utilizar água doce, enquanto os aviões de maior porte só podem transportar água do mar (não existem rios nem represas nas Canárias) o que não é muito benéfico para os terrenos assolados pelos incêndios.
Recentemente o tenente-coronel Tomás Palácios, que liderou a equipa que combateu os incêndios em Tenerife, reconheceu numa entrevista a um jornal local que “a orografia de Canárias é muito complicada, tornando muito mais cansativo o trabalho de combate aos incêndios realizado pelos bombeiros em terra. Além disso, há locais que são absolutamente inacessíveis e neste caso só se pode atacar os incêndios com recurso a meios aéreos”.
Interrogado sobre se os hidroaviões são essenciais no combate a um incêndio com as características daqueles que assolaram Tenerife (destruídos mais de 5 mil hectares de terrenos), o tenente-coronel reafirmou que os meios aéreos são necessários: “A vantagem dos aviões Foker é que lançam uma quantidade de água tremenda, mas o helicóptero também é importante. De uma maneira geral, direi que os meios aéreos devem existir, são importantes e complementando-se com os demais meios existentes, ajudam a combater um incêndio". Sobre se devia haver ou não hidroaviões em Canárias, permanentemente, Garcia Palácios recusou responder à questão: "Suponho que quem tem que tomar essa decisão o fará em função dos parâmetros que tenha à sua frente".
Um jornal canário, com posições distantes do governo regional de coligação (Coligação Canária, nacionalista e os socialistas do PSOE) escrevia no editorial no passado dia 19 de Julho:
"É lamentável que um governo canário que de repente se tornou ecologista, recusando querer saber informações sobre a quantidade e a qualidade do petróleo existente em torno de nós, seja incapaz de objetivamente priorizar gastos. Para ele é mais importante ter uma polícia autonómica que ter um serviço próprio de combate a incêndios, devidamente equipado com hidroaviões que possam operar nas nossas florestas e ajudem a preservar uma das maiores atrações turísticas, a nossa paisagem. Sabendo de antemão o risco constante de incêndios que padecem as Canárias, nomeadamente na época estival, por causa das ondas de calor, da escassez de chuva, do vento e das dificuldades resultantes do nosso terreno acidentado, teria sido mais consistente que, antes de criar uma força policial regional, fosse dada prioridade à aquisição de hidroaviões para combater os incêndios e que possam juntar-se aos demais meios operacionais já existentes, com tripulações devidamente treinadas para enfrentar e extinguir os incêndios nesta terra cheia de ravinas, desfiladeiros e locais inacessíveis. Um serviço que poderíamos até prestar a outras comunidades autónomas sempre que fosse necessário".
Todos os meios aéreos usados no combate aos incêndios de La Gomera e Tenerife, foram enviados pelo governo de Madrid a pedido do governo regional de Canárias, incluindo alguns que se encontravam estacionados em Sevilha, no sul do país, depois de terem estado uma semana empenhados no combate a um tremendo incêndio florestal que devastou vastas áreas da Comunidade Valenciana, curiosamente a primeira a recorrer ao fundo financeiro criado pelo governo de Rajoy para apoiar as Comunidades com maiores dificuldades financeiras.
O próprio Presidente das Canárias, Paulino Rivero, defendeu a necessidade do Estado ter permanentemente nas ilhas, sobretudo em épocas de maior risco como o verão, hidroaviões preparados para intervir sempre que surgirem incêndios florestais graves, como o que ocorreu no sul de Tenerife e que consumiu mais de 5.000 hectares de florestas e terras agrícolas. “As ilhas Canárias estão muito longe do continente para que os hidroaviões se incorporem rapidamente nas operações de combate aos incêndios florestais”, disse Rivero. O presidente do executivo local recordou que estas aeronaves especiais, com capacidade para cerca de 5.500 litros de água, apenas se juntaram às ações de combate ao fogo 30 horas depois do seu início, “muito tempo para uma situação de emergência”. Rivero diz que não há outra solução senão a de estabelecer em Canárias "uma base permanente de meios estatais anti-incêndios”.
O Presidente do Governo de Las Palmas lembrou que enquanto na Península se pode mover facilmente equipamento e recursos humanos, de um lado para outro, em apenas duas horas, trazer um helicóptero para Canárias é uma operação complexa que leva no mínimo dois dias, porque o aparelho não pode fazer a viagem de uma só vez, como um avião ou um hidroavião, já que está obrigado a efetuar várias escalas (que regra geral ocorrem em Marrocos) na sua viagem entre o continente e as Canárias. O debate prossegue mas a verdade é que as Canárias continuam sem meios próprios de combate aos fogos florestais" (in JM)
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