terça-feira, fevereiro 21, 2012

Lembrando (I)

"Não tenho dúvidas que o desporto regional precisa de um programa de resgate financeiro que resolva os problemas financeiros imediatos, mas que estabeleça novas linhas de rumo para o futuro.
É sabido que as transferências para o desporto, em 2012, sofrerão uma redução de 15%, não transversal a todas as modalidades /e clubes) mas uma redução média desse valor, o que implica oscilações nas diferentes modalidades em função de critérios que em devido tempo serão estabelecidos. Contudo, há que ter presente, ninguém sabe se em 2013 e 2014, e anos seguintes, essa redução continua a crescer, colocando inquestionavelmente desafios novos aos clubes, associações e ao desporto regional em geral. Em Espanha a Comunidade Valenciana por razões financeiras, prescindiu de apoiar o grande prémio de Formula-1 que ali se realizava. A Itália, pelos mesmos motivos, desistiu da candidatura aos Jogos Olímpicos. Quando a crise chega, é evidente que ela apanha todos na sua caminhada.
Penso, a propósito da questão financeira, que é importante que se conheça a real situação financeira de todos os clubes regionais, sem exceção, bem como a viabilidade dos mesmos, caso não introduzam as mudanças que a situação exige. Há clubes que não acredito terem qualquer possibilidade de manter a sua atual dimensão, e alguns deles nem conseguirão sobreviver num cenário de redução dos apoios oficiais que já todos percebemos será inevitável. O problema é que poucos assumirão essa realidade e, mais do que isso, poucos terão a coragem de tomarem as medidas que a situação exigirá. Como é que esse levantamento deveria ser realizado? Caberá a cada clube decidir. Acredito que essas auditorias técnicas, a exemplo do que aconteceu com o Sporting recentemente - que não hesitou em reconhecer publicamente, mesmo tratando-se de uma instituição cotada na bolsa, o seu estado de falência técnica - seriam a melhor solução. Aliás a própria Região ficaria liberta de responsabilidade se os clubes que tiverem que tomar decisões mais extremas devem fazê-lo no tempo próprio em vez de prolongarem a agonia. Desconfio que há clubes que estão em situação de óbvia insolvência disfarçada (ou adiada) mas que tentam, tanto quanto lhes for possível, resistir e esconder essa situação, na expectativa de uma salvação. Ora, pergunto eu, de que serve adiar a decisão que tem que ser tomada e prolongar a agonia, se o bom senso recomenda que se atue enquanto é tempo?
Alberto João Jardim disse esta semana que a Região pagará as suas dívidas mas que não o fareia aios clubes que pensam encerrar. Um acho sinceramente que deve fazê-lo mesmo a esses, pois desta forma está a contribuir para uma redefinição da estrutura clubística regional que neste momentos e impõe. Parece-me mais do que evidente, por exemplo, que a Região não pode pagar mais de 5 milhões de euros só em viagens. Não creio que os clubes, depois do IDRAM ter suspendido os pagamentos adicionais (água, luz, etc.) tenham condições para o fazer. Quanto custa por exemplo, a manutenção do Estádio dos Barreiros considerando também asa despesas com eletricidade? O Marítimo fez essas contas antes de reivindicar os barreiros para a sua posse? Dada a realidade financeira regional, e atendendo a que não acredito que o Marítimo tenha possibilidades de encontrar outros financiamentos, confirma-se a informação que me deram que seria possível concluir as obras no Estádio com 2,5 a 3 milhões e euros (o material necessário está todo num estaleiro de uma empresa de construção), mas que oi clube ainda não suspendeu o projeto da bancada central, orçado em 20 milhões de euros, e que o Marítimo sabe constituir neste momento uma utopia? Será que aquela situação deprimente que o Estádio dos Barreiros dá da Região (e do Marítimo) uma péssima imagem (televisiva) não poderia ser resolvida, sem a estranha insistência em megalomanias?
É sabido que o Governo Regional pretende alienar a sua participação nas sociedades desportivas (SD) onde a Região tem participação financeira. Alberto João Jardim já revelou que essa alienação se fará sem qualquer margem de lucro, até porque a situação financeira das coletividades envolvidas e parceiras do Governo Regional não deixa qualquer margem de manobra. E isto também é uma nova realidade que o Marítimo tem que ponderar. Ir aos mercados com o Governo Regional como parceiro, no qual de uma SD. será substancialmente diferente de uma situação similar apenas envolvendo o clube.
Não será tempo de se pensar, a par da reformulação, já em curso, da atual estrutura governativa regional, de termos organismos que sejam, efetivamente, organismos de consulta e não meras extensões de clubes ou associações? O caso do Conselho de Desporto Regional – que deve ser um órgão de análise, de reflexão e de consulta, em vez de apenas mais uma entidade da qual fazem parte dirigentes associativos ou de clubes, no fundo circunscrevendo o universo desportivo regional a uma pequena “casta” de pessoas – sem ofensa, como é evidente – já associadas ao universo desportivo regional, não me parece ser a melhor solução quando se procuram ideias novas e plausíveis. Acabamos por ter uma sobreposição de participações e de funções, quando temos antigos praticantes, especialistas universitários na temática desportiva, temos economistas, juristas e jornalistas da especialidade, que poderiam emprestar um pouco do seu tempo e do seu saber para uma reflexão mais aberta, que precisamos. Enfim, temos uma panóplia de pessoas, com ideias, pensamentos e sugestões diferentes, que poderiam, e deveriam, ser aproveitadas e fazer parte desse organismo desportivo em vez de deixar aquele Conselho com uma atividade quase nula e com uma composição demasiado institucional que o torna quase desnecessário, porque, repito, quase uma extensão dos clubes, associações e da estrutura oficial desportiva regional.
Estamos, ao que tudo indica, a caminho de uma revolução tranquila nos alicerces da política desportiva regional, assente num modelo de gestão novo, decorrente de mudanças na própria tutela, mas acelerada pela realidade financeira regional para os próximos anos e, sobretudo, pela necessidade de conjugar uma aposta mais criteriosa em objetivos desportivos com o fomento da prática desportiva regional, envolvendo mais as escolas, se quiserem, num regresso às origens do modelo desportivo regional, mantendo contudo um envolvimento em competições nacionais assente em objetivos e em critérios seletivos. Os regulamentos actuais são demasiado expansivos porque não restringem o acesso a provas nacionais nem estabelecem diferenciação entre modalidades, considerando sobretudo a respetiva representatividade. Por isso serão renegociados e alterados, com vista a uma nova política na nova época desportiva.Os novos alicerces da política regional desportiva estarão definidos, aso que julgo saber. Há algumas modalidades - ao contrário de outras – que já estão envolvidas em negociações informais a pensar já numa nova visão desportiva e em novas exigências. Há clubes que se mostraram compreensíveis e disponíveis para discutir ao contrário de outros que insistem num fundamentalismo que não pode ser tolerado. As associações serão envolvidas neste processo e serão responsabilizadas pela tomada de decisões que estão no âmbito das suas competências. Esta revolução tranquila, mais do que inevitável, é claramente necessária, porque precisamos de um novo ciclo. O que implica, desde logo, a resolução, logo que possível, dos valores em dívida e referentes a contratos-programa passados. Até para se retirar, no caso de muitos clubes que deixaram de ter possibilidades de funcionar, um dos argumentos esgrimidos mais recorrentemente, como se os problemas de muitos dos clubes regionais tivessem apenas a ver com as verbas para as viagens" (JM, 16 de Fevereiro)

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