domingo, agosto 25, 2024

“Voltem para casa”: protestos contra o excesso de turismo aumentam na Europa


Cidades como Barcelona, Málaga, Atenas, Amesterdão e Veneza têm sido palco de protestos nos últimos meses. Residentes queixam-se do impacto nas comunidades locais, nomeadamente pelo aumento do preço da habitação, e no meio ambiente

BARCELONA

Em julho, milhares de manifestantes protestaram nas ruas de Barcelona contra os impactos negativos que o turismo excessivo tem causado na cidade, empunhando cartazes com slogans como “Barcelona não está à venda” e gritando “Turistas, voltem para casa”. Alguns turistas que se encontravam em esplanadas foram atingidos com pistolas de água durante o protesto. Os manifestantes também denunciaram o efeito do turismo no preço da habitação e as consequências negativas para o comércio local, ambiente e condições de trabalho no setor turístico. Nos últimos anos, as manifestações contra o turismo excessivo em Barcelona têm-se intensificado. Os residentes expressam crescente frustração com o que consideram ser um desequilíbrio entre os interesses turísticos e a qualidade de vida dos habitantes. Espanha é o segundo destino do mundo mais procurado por turistas, depois de França. Em 2023, recebeu 86 milhões de visitantes estrangeiros, segundo estatísticas oficiais.

MÁLAGA

Em junho, milhares de pessoas protestaram nas ruas da cidade espanhola contra o turismo de massas, sob o lema “Málaga para viver, não para sobreviver”. Num protesto anterior, realizado em março, foram afixados cartazes em paredes e portas com mensagens como: “isto costumava ser a minha casa”, “isto costumava ser o centro da cidade”, “volta para a tua casa”, e “[este sítio] tresanda a turista”. A cidade, localizada na Costa del Sol, no sul de Espanha, é, desde há muito, um destino turístico muito popular, devido ao clima soalheiro e ao custo de vida relativamente baixo. No entanto, tornou-se recentemente ainda mais atrativa para veraneantes e nómadas digitais, o que gerou descontentamento entre a população local.

TENERIFE

Dezenas de milhares de pessoas saíram às ruas, em abril deste ano, para exigir uma revisão urgente da estratégia turística do arquipélago espanhol e a implementação de limites à entrada de turistas nas ilhas, argumentando que o modelo atual está a causar prejuízos significativos às comunidades locais e ao meio ambiente. Cartazes com mensagens como “Turistas: respeitem a minha terra!” e “Voltem para casa” foram erguidos durante os protestos. A iniciativa contou com o apoio de grupos ambientalistas como o Greenpeace, WWF, Ecologists in Action, Friends of the Earth e SEO/Birdlife. Em solidariedade, manifestantes em Madrid e Barcelona também se reuniram para apoiar os protestos. Em fevereiro, já tinha havido uma iniciativa do género em Gran Canaria, uma das ilhas do arquipélago espanhol, com mensagens em muros a ordenar aos “turistas e nómadas digitais” para “voltarem para casa”

MAIORCA

Milhares de pessoas manifestaram-se em Palma de Maiorca, em julho deste ano, contra o que dizem ser os impactos negativos do turismo excessivo. Queixaram-se especificamente da descida dos salários, perda de qualidade de vida, ruído e aumento do preço da habitação. O protesto foi organizado pela plataforma "Menos Turismo, Mais Vida", formada por mais de uma centena de associações, coletivos e movimentos sociais de Maiorca. As principais medidas defendidas pela plataforma são limitar o número de voos, de cruzeiros, do aluguer de automóveis e de casas para férias, e regular a compra de habitação para não residentes. Em agosto, num protesto de menor dimensão, mais simbólico, residentes colocaram sinais falsos ao longo de várias praias com avisos como “Cuidado com as medusas perigosas” e “Cuidado com a queda de pedras”, numa tentativa de afastar turistas desses locais.

ATENAS

Embora os protestos em Atenas sejam menos frequentes e menos intensos do que noutros destinos turísticos europeus, a cidade tem enfrentado tensões crescentes relacionadas com o turismo nos últimos anos. Após a pandemia, com o regresso em massa de visitantes à cidade, grupos de moradores começaram a organizar campanhas para sensibilizar a população e as autoridades para os problemas causados pelo turismo excessivo. Estas ações incluíram apelos para limitar o número de cruzeiros que chegam ao porto de Pireu, o principal porto de Atenas, e para regulamentar de forma mais rigorosa o Airbnb e outras plataformas de aluguer de curta duração. No último ano, têm-se intensificado os protestos nas ruas, e recentemente, começaram a surgir mensagens em muros e paredes pedindo aos turistas que “voltem para casa”. Os manifestantes têm afirmado que o número excessivo de turistas não só contribui para a sobrelotação da cidade, como também para a perda de habitação por parte dos residentes locais.

AMESTERDÃO

A crescente preocupação com o turismo em excesso tem levado a diversas ações e protestos por parte dos residentes. O impacto negativo do turismo na cidade tem sido amplamente debatido, com alguns grupos a manifestaram a sua insatisfação nas ruas.

VENEZA

O mesmo tem acontecido em Veneza, com residentes a protestarem nas ruas e a criticarem a sobrelotação, a perda de habitação devido à conversão de imóveis em alojamentos turísticos e as medidas adotadas pela cidade, consideradas insuficientes para mitigar os vários problemas. Em 2019, milhares de manifestantes bloquearam a entrada de grandes cruzeiros no porto de Veneza, exigindo restrições mais severas. E várias famílias ocuparam edifícios desabitados, em protesto contra a subida do preço das rendas. Em 2021, os protestos intensificaram-se novamente, com moradores a denunciarem a falta de políticas eficazes para equilibrar a economia turística com a qualidade de vida local (Expresso, texto das jornalistas Helena Bento e Joana Pereira Bastos)

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