domingo, agosto 04, 2019

Nota: não brinquem (mete nojo) com a questão da "inclusão" de emigrantes nas listas. Alguns factos que desmistificam uma treta

Não brinquem por favor com a questão de inclusão dos emigrantes, sobretudo aqueles com ligações à Venezuela, nas listas de deputados. Não é por causa disso que os problemas dos emigrantes se resolvem, nem será por essa vi que sensibilizam os emigrantes a votar. É tudo demagogia rafeira e uma treta de políticos oportunistas empenhados na caça ao voto, borrifando-se para os problemas dos emigrantes.
Vamos a factos que desmistificam este tema e abrem um debate - que abordarei oportunamente aqui - em torno da alegada representação das comunidades no parlamento regional, como se não bastasse a farsa dos representantes das comunidades na  Assembleia da República - basta ver quem serão os candidatos pelos dois círculos da emigração às eleições de Outubro para constatarmos a farsa em torno deste tema.
Ainda nas recentes eleições europeias tivemos uma taxa de abstenção entre os eleitores residentes no estrangeiro de 99,9%. Uma vergonha.
Só poque tudo mudou entre 2015 e 2019, por acusa da triste evolução da situação na Venezuela, é que as coisas serão agora diferentes? Qual a garanta de que os cerca de 5 ou 6 mil emigrantes regressados da Venezuela estão todos recenseados e votarão nas regionais, ou seja, se se revêm nestes políticos regionais ou nacionais. Eu não acredito até porque para muitos, sobretudo para os jovens, eles consideram que estão cá de passagem à espera de uma mudança na Venezuela para poderem regressar. Digo estas coisas deste modo porque sei que é essa a realidade, não me venham com o politicamente correcto porque recuso alinhar por essa via. Durante cerca de 30 anos lidei de perto com as comunidades e o tema e sei que as pessoas desvalorizavam, nem se recenseavam, e os jovens nem queriam ouvir falar de política portuguesa. Nunca tivemos sucesso nesses anos todos com os apelos à participação dos emigrantes na política dos países de acolhimento, sobretudo através das segundas e terceiras gerações, muito menos sucesso teríamos relativamente ao recenseamento eleitoral e ao envolvimento com a política nacional. Deixem-se de histórias e de falsidades. Sei do que falo. O "boom" agora registado no recenseamento quase que foi imposto por lei, não fosse isso e não teríamos os valores que hoje temos, mais de 1 milhão de recenseados no estrangeiro.
Alguns dados deixados à consideração de quem usa este tema com recurso a uma demagogia da mais rasteira e idiota de que há memória:
Eleições legislativas nacionais 2015
- Abstenção nos eleitores residentes no estrangeiro, 83% num total de 195.109 inscritos (33.059 votantes na esmagadora maioria na Europa, cerca de 18 mil votantes)
- Na rubrica consulados dos restantes países da América e África - que envolve Venezuela e África do Sul - nas legislativas de 2015 tivemos 10,1% de votantes, 2.050 eleitores entre 20.209 recenseados!
Eleições presidenciais 2016
- apenas 4,1% dos eleitores recenseados no estrangeiro votaram. Na Venezuela votaram apenas 1.285 dos 19.802 eleitores inscritos com uma abstenção da ordem dos 93,5% (em Caracas votaram 550 pessoas e 735 em Valência). Já agora na Africa do  Sul votaram apenas 710 dos 8.515 recenseados, abstenção de 91,7%!
Eleições europeias de 2019
- já com esta crise na Venezuela no seu epílogo e com todos os contornos conhecidos, e já com um universo inimaginável (e absurdo porque irrealista) de 1.441.570 eleitores recenseados nos 100 consulados no estrangeiro, votaram apenas 13.816 eleitores, ou seja, uma abstenção da ordem dos 99%. Não me gozem por favor. Só na Venezuela votaram 922 dos 53.987 recenseados, ou seja, uma abstenção de 98,3% (384 votantes em Caracas e 538 em Valência). Por curiosidade direi que na Africa do Sul votaram nas europeias apenas 486 dos 33.024 recenseados, 98,5% de abstenção
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Finalmente se a questão tem a ver com a integração dos madeirenses regressados da Venezuela na sociedade madeirense, acho bem que os governos, sejam eles o nacional ou o regional façam o que lhes compete e o que estão obrigados e não façam demagogia em torno do tema.
Quanto ao resto essa (re) integração depende da própria comunidade madeirense oriunda da Venezuela, que tem que se abrir, tem que se integrar, caso queira, num novo mundo e numa nova realidade. A Madeira nunca foi um paraíso para ninguém e com os milhares de desempregados que têm certamente que as pessoas percebem que está longe de ser um oásis, tal como Portugal não é, nem a Europa. Vender gato por lebre é criminoso. E deixar que certos "lideres" desses regressados, alguns oportunistas locais a eles associados, e outros "líderes" auto-propostos (reparem que uso sempre as aspas para os catalogar para não os chamar de escroques ou bandalhos oportunistas) manipulem as pessoas na procura de tachos e de visibilidade mediática é igualmente ofensivo e deve ser rejeitado pela grande massa de pessoas que tem que pensar pela sua cabeça e dispensar esses oportunistas. Se a ideia é o regresso - e admito que a esmagadora maioria o queira fazer e pense nisso - estamos a entrar num diálogo e surdos pelo que me coloco fora disso para não ser demasiado agreste. E porque não olho para as comunidades madeirenses no estrangeiro como um negócio, olho para elas como um conjunto de pessoas com muitos problemas e desafios cada vez mais exigentes pela frente. Isso faz toda a diferença (LFM)

Nota: Já agora, como curiosidade, e porque Londres se transformou numa especie de romaria excursionista para a classe política regional, alguns dados a reter:
Legislativas de 2015
Na rubrica "restantes países da Europa" sem que sejam devidamente identificados, votaram 2.949 dos 9.558 eleitores inscritos (cerca de 70% de abstenção). Globalmente votaram apenas 28.354 eleitores no estrangeiro dos 242.852 inscritos, abstenção de 88%
Presidenciais de 2016
- Votaram apenas 583 dos 2.800 eleitores inscritos, abstenção de cerca de 80% (486 votantes em Londres e 97 em Manchester). Em termos totais no estrangeiro votaram apenas 14.150 dos 301.463 eleitores inscritos, abstenção de 95,3%
Autárquicas de 2017
Os eleitores das comunidades no estrangeiro não participam
Europeias de 2019
- Votaram 512 dos 120.261 eleitores recenseados (abstenção de 99,6%). Em Londres votaram 445 dos 89.715 eleitores, abstenção de 99,5% e em Manchester votaram apenas 67 dos 30.546 eleitores, abstenção de 99,8%! Os valores totais para o estrangeiro foram os seguintes: votaram apenas 13.816 dos 1.441.570 eleitores inscritos, abstenção de 99%

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