terça-feira, maio 28, 2019

TURISMO: COMO VÃO SER OS HOTÉIS NO FUTURO, SEGUNDO DIONÍSIO PESTANA

Para onde está a evoluir a hotelaria? Dionísio Pestana, presidente do grupo Pestana – que vai atingir este ano o marco dos 100 hotéis, dentro e fora de Portugal, adverte que “a transformação que re regista no mundo está a entrar rapidamente nos hotéis”, e que o sector tem de acompanhar esta mudança. Segundo o maior hoteleiro português, “é preciso cortar com o que é antigo, estamos num momento de viragem total, há que ver alternativas novas em tudo o que se fazia, e como se fazia em hotelaria, estar muito atento ao que se passa no mundo” A nova geração de clientes, “e não necessariamente os mais jovens”, obriga a mudar todos os padrões atualmente estabelecidos na hotelaria, adianta o empresário. “As pessoas hoje vão para os destinos já com muita informação, sabem o que querem”, frisa. Para atender aos ‘millennials‘, em particular, “os quartos têm de ter outro tipo de conforto, obriga-nos a reformular tudo nos hotéis, desde os buffets aos ginásios, e áreas comuns como a receção”. Seguem-se algumas das principais tendências que se desenham ao sector, na visão do hoteleiro.

HOTÉIS DE CIDADE MAIS PRÁTICOS E COM MENOS SERVIÇOS
A primeira tendência destacada por Dionísio Pestana para os hotéis de cidade é o ‘limited service’ (serviço limitado). “Aprendemos isso em Nova Iorque. O principal foco agora é ter um custo por quarto menor, para o preço final ao cliente ser menor. Isso consegue-se não dando o serviço todo, como restaurantes, spa ou ginásio”, explica. “As pessoas que visitam Nova Iorque ficam dois dias e são muito práticas: querem ficar no centro, visitar os museus, e não estão dispostas a pagar 500 dólares por um quarto em hotéis tradicionais que têm tudo, e nem sequer utilizam esses serviços”. A nova tendência de serviço limitado nos hotéis de cidade dispensa em primeiro lugar a existência de restaurantes, um dos espaços de maior aposta do sector nos últimos anos. “As pessoas só querem os hotéis para ir dormir. Saem cedo para ir aos museus e voltam tarde ao hotel. Querem comer fora, muitas vezes até o próprio pequeno-almoço, preferem ir ao Starbucks para ter experiências novas”.
Dionísio Pestana frisa que “nas grandes cidades é o que está a acontecer, e não é só em Nova Iorque, também está a chegar a Lisboa. Na nova cultura, que não inclui necessariamente só os mais jovens, as pessoas não querem pagar demasiado por um quarto que inclui coisas que não utilizam. O importante aqui é conseguir um quarto de custo barato, e para isso o investimento do hoteleiro também tem de ser menor”.
Fundamental, neste campo, é uma boa localização: “Ter o hotel num local nobre da cidade, perto dos museus e restaurantes”, mas sem a preocupação de incluir espaços e serviços que encarecem o investimento. “Quem está muito à frente nisto são os holandeses. Têm hotéis de serviço limitado, mas compensam com a tecnologia que têm nos quartos, e têm lá dentro muita coisa para a pessoa se entreter. E este menor investimento em termos de hardware reflete-se no preço final”, salienta.
CRIAR ‘STORYTELLING’, CONTAR AOS TURISTAS UMA HISTÓRIA SOBRE O LOCAL
Nos destinos de resort, Dionísio Pestana enfatiza que “as pessoas querem ter experiências, e para isso é preciso produtos hoteleiros originais que têm de ter um ‘stotytelling’, contar uma história aos clientes”. Dá aqui o exemplo do hotel que o grupo Pestana vai abrir em junho em Câmara de Lobos, na Madeira, dedicado a Winston Churchill, o Pestana Churchill Bay.
 “As pessoas adoram este tipo de histórias, ir a uma vila piscatória, que já de si é bonita, e onde Churchill ia pintar. No nosso hotel temos lá muitas das suas pinturas”, refere o empresárioo, adiantando que os hotéis ‘all inclusive’ (com tudo incluído) continuam a ser uma tendência no sector. “Mas estes hotéis têm de se diferenciar pelo ‘stotytelling’, são espaços onde as pessoas gostam de ficar por um tempo a descansar e ter o mínimo possível de chatices, levando a família, os filhos, os pais e os sogros, e tem de ser um produto com atividades e experiências dirigidas a todos”.
Também nos hotéis de cidade, “uma componente sempre importante de valorizar é a história do local, do nosso azulejo, cada vez mais as pessoas procuram isso”, enfatiza Dionísio Pestana, avançando que as zonas históricas se perfilam de valorização crescente para os hotéis.
PESSOAL MOTIVADO: JEANS E TÉNIS PODEM SUBSTITUIR AS FARDAS TRADICIONAIS
A transformação que está a ocorrer no sector, em particular com a geração de ‘millennials’, também obriga a reformular aspetos como as fardas. “Antigamente era tudo igual: calça preta e camisa branca. Mas agora já não”, faz notar Dionísio Pestana, referindo que em hotéis do seu grupo, como o South Beach em Miami, ou as unidades CR7 (em parceria com Cristiano Ronaldo), os ténis e jeans tomaram o lugar das tradicionais fardas. “O perfil do colaborador é completamente diferente num hotel destes, e também dá alegria no trabalho andar de sapatilhas”, reconhece o hoteleiro.
Para conseguir melhores resultados no novo mundo que se avizinha na hotelaria, é fundamental “ter o pessoal motivado e em coordenação com os objetivos do grupo”, e para isso “o próprio ambiente de trabalho tem de ser inspiracional”, sustenta Dionísio Pestana, que foi à sede da Google nos Estados Unidos recolher ideias para incorporar no seu grupo, onde em vez de ‘escritórios‘ já se fala mais em ‘espaços de trabalho’.
 “Com a transformação no mundo atual, a disrupção passou a ser a norma. Como 50% dos nossos quadros têm menos de 35 anos, também têm de ser eles a contribuir com novas ideias”, frisa o presidente do grupo Pestana, que lançou um concurso de ideias junto dos seus colaboradores. “Já reunimos 700 ideias, que estão em análise para ver as que têm aplicação. Esta mudança nos hotéis tem de ser feita de baixo para cima”, defende.
TECNOLOGIA, TECNOLOGIA, TECNOLOGIA
A mudança para o hotel do futuro não passa só pelos aspetos físicos, envolve sobretudo uma parte invisível associada às tecnologias. “O wi-fi e as comunicações internas, para as novas gerações é fundamental”, sublinha Dionísio Pestana, frisando que a revolução tecnológica nos hotéis atinge a própria operação.  “Talvez o mais o mais importante, e mais difícil de avaliar, são os instrumentos que os hotéis têm de ter para monitorar as receitas e ocupação, e isto requer tecnologias muito avançadas e pessoas altamente qualificadas em ‘business inteligence’ ou ‘revenue management’”, adianta. “Hoje, a segunda pessoa mais importante numa unidade hoteleira é o ‘revenue manager’, uma posição que nem existia na hierarquia”. Destaca também as profissões novas que estão a entrar na hotelaria, associadas às tecnologias de informação. “São pessoas que nunca trabalharam na hotelaria, nem a hotelaria tem pessoas com estas qualificações. Temos atualmente matemáticos e físicos a trabalhar no grupo, e fomos à Google buscar o Luís Monteiro, que já ia a caminho de Sillicon Valley”.
REDUZIR O IMPACTO AMBIENTAL, INCENTIVAR OS COLABORADORES A AJUDAR A COMUNIDADE

Os consumidores, sobretudo as novas gerações, são cada vez mais sensíveis às questões ambientais e às alterações climáticas, pelo que os hotéis têm de se preocupar em diminuir a pegada, adverte Dionísio Pestana. O seu grupo hoteleiro tem em marcha um programa de sustentabilidade, designado de “Planet Guest”, no âmbito do qual foram recentemente lançadas seis medidas destinadas a reduzir em 50% do plástico não reutilizável até 2020, nos seus mais de 90 hotéis em Portugal e no estrangeiro. Estas medidas envolvem a eliminação, por ano, de mais de 1,5 milhões de palhinhas de plástico, a substituição de cinco milhões de copos de plástico descartável por copos reutilizáveis ou de papel, ou a substituição dos frascos de plástico de gel ou champô por dispensadores colocados nas casas de banho. Segundo Dionísio Pestana, a sustentabilidade dos hotéis também passa por apoiar a comunidade local, e neste campo o seu grupo dá bolsas de estudo a estudantes mais carenciados, e também incentiva aqui os colaboradores a fazerem voluntariado. “Temos, por exemplo, juristas que dão uma hora do seu trabalho por semana a pessoas que precisam desse apoio, ou técnicos de oficina que vão à casa das pessoas ajudar a resolver um problema com a televisão. Já há muitas pessoas do grupo a fazer voluntariado, tem sido bom, cria bom ambiente, e vamos incentivar isso no futuro, pois os hotéis têm de ter uma maior ligação à comunidade local”, frisa (Expresso)

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