A disseminação de informação falsa, em nome das
empresas, tem feito mossa nos negócios pelo menos desde o ano 2000. Antes da
Vinci, que foi o alvo desta semana, já houve muitos outros casos. Em 2012 o
preço das acções da pequena companhia ICOA quadruplicou de repente, depois de
ser noticiado em vários meios de comunicação reputados que o Google tinha pago
a quantia astronómica de 400 milhões de dólares pela sociedade. Só que nada
disso aconteceu. O que aconteceu foi que um falso comunicado, distribuído por
uma plataforma online conhecida, a PRWeb, lançou a confusão no mercado e levou
a uma série de desmentidos e a um debate sobre a facilidade com que este tipo
de acções desestabiliza empresas e mercados. Mas este caso nem sequer foi o
primeiro.
Quase desde o advento da Internet que a informação falsa, que tanta
tinta tem feito correr por causa das eleições americanas, tem lançado o caos
não só nas empresas, mas também nos meios de comunicação sociais que por vezes
não conseguem detectar a tempo o engano. E isto antes da existência de facilitadores
como as redes sociais. No já longínquo ano 2000, um comunicado supostamente da
tecnológica Emulex, dava conta de uma investigação à empresa por parte da
agência americana que vigia os mercados, a SEC. A informação, falsa, garantia a
saída do CEO do grupo e acabou por ser noticiada por meios como a Bloomberg. No
ano seguinte, a mesma SEC publicou uma sentença, da condenação de Mark S. Jakob
pelo engodo, que levou as acções da Emulex a perder 62% do seu valor.
"Usando um pseudónimo, Jakob, fingindo agir em nome da Emulex, usou um computador
pessoal da Universidade de El Camino para enviar um e-mail, a instruir um
antigo empregador, a Internet Wire, Inc, a emitir o press release que estava em
anexo. O documento parecia ter como origem a própria Emulex e nele podia ler-se
que a SEC estava a investigar a companhia, o que era falso", adiantou a
agência. Este ano tem sido pródigo em informações falsas. Em Março, o
Washington Post publicou uma notícia (que depois retirou) em que dava conta que
a farmacêutica Pfizer iria deixar de aumentar os preços dos seus medicamentos.
O comunicado falso foi enviado em nome de um porta-voz (real) da companhia e
referia que o grupo iria "cessar os aumentos de preços tradicionais"
e reduzir os dos medicamentos para aumentar o acesso dos pacientes aos seus produtos.
O documento, que incluía um número de telefone (que não era atendido) tinha
também um link para um site que imitava a aparência do da Pfizer, com ligações à
página verdadeira da empresa.
Nove meses depois, a Vinci foi alvo de um esquema
muito semelhante. Um comunicado, enviado em nome da gestora de infra-estruturas
francesa, que é dona dos aeroportos portugueses, dizia que a empresa iria
reescrever as contas de 2015 e do primeiro semestre de 2016, por causa de um
erro contabilístico, que tinha favorecido, e mesmo empolado, os resultados da
empresa. Consequentemente o CFO da empresa teria sido despedido. E havia um
link que enviava os utilizadores para uma página praticamente igual à da
empresa onde estava o comunicado falso, que mesmo assim foi noticiado pela
Bloomberg. O grupo francês, no seu site (o verdadeiro) desmentiu veementemente
que tenha enviado tal informação. " O primeiro press release foi seguido
de mais dois, um que disseminava uma negação parcial e outro contendo uma
espécie de reivindicação de responsabilidade", referiu a empresa. As
acções da Vinci chegaram a caír 18% nesse dia (22 de Novembro). O grupo,
liderado por Xavier Huillard (na foto) apresentou queixa contra desconhecidos
(Jornal de Negócios, pela jornalista Alexandra Noronha)
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