sexta-feira, fevereiro 13, 2015

Populistas e delatores: Patrões do 'Le Monde' acusam jornalistas que investigaram o escândalo Swissleaks

Escreve o jornalista do Expresso, Daniel Ribeiro, que um "frente a frente tenso e controvérsia em público entre, de um lado, a direção editorial e a redação e, do outro, os patrões do jornal francês, "Le Monde". Estes criticam abertamente a publicação pelo vespertino francês de alguns dos nomes de franceses com contas na delegação suíça do banco HSBC, no quadro do escândalo Swissleaks, em cuja investigação jornalística internacional participaram jornalistas do "Le Monde". Pierre Bergé, acionista e patrão do Conselho de Vigilância do jornal, disse reprovar a publicação de alguns nomes pelo jornal. "Delação é delação, reprovo", disse Bergé, antes de acrescentar: "É o papel de um jornal lançar às feras o nome de pessoas? Isso é populismo, serve para alimentar certos instintos. Não foi para isso que eu permiti ao jornal adquirir a sua independência, são métodos que eu reprovo". Também Mathieu Pigasse, acionista e vice-presidente do banco Lazard, evocou a "delação". "É necessário encontrar um justo equilíbrio entre a divulgação de informações de interesse geral, de interesse público, e não cair numa forma de maccarthismo, de delação", acrescentou o banqueiro. Pigasse e Bergé são desde 2010 os patrões do jornal, na companhia de outro homem de negócios, Xavier Niel.
Redação "orgulhosa"
A direção editorial respondeu de imediato às críticas. Lembrando a "carta ética" do jornal, segundo a qual "os acionistas não têm nada a dizer sobre os conteúdos editoriais", o diretor, Gilles Van Kobe, acrescentou: "O debate sobre se devemos divulgar ou não tal ou tal nome existe na redação, mas a decisão é de ordem editorial, é da nossa competência". Também a "Sociedade dos redatores do Le Monde" (SRM) emitiu um comunicado contra as críticas dos patrões: "A SRM Está muito orgulhosa do tratamento do escândalo Swissleaks pelas equipas do jornal (...) a crítica e a liberdade de julgamento fazem parte das nossas missões fundamentais". A polémica estalou porque alguns dos nomes divulgados dizem respeito a franceses, designadamente pessoas do mundo do espetáculo, que já tinham regularizado há algum tempo a situação das suas contas na delegação do HSBC na Suíça. Recorde-se que um consórcio de jornalistas internacionais revelou há dias listas com os nomes de milhares de pessoas alegadamente envolvidas em esquemas de evasão fiscal através de contas nesse banco, na Suíça. Diversos nomes portugueses também figuram nas listas. Os três acionistas do "Le Monde" são conotados com a esquerda moderada francesa e, por exemplo, Mathieu Pigasse é atualmente conselheiro do Governo grego para as negociações de Atenas com os credores internacionais”