sexta-feira, julho 26, 2013

Como foi manipulada uma fotografia de guerra

Segundo o site da RTP, a fotografia, tirada em 2003, nos primeiros dias da guerra do Iraque, correu mundo para documentar a humanidade dos invasores norte-americanos. Afinal, a criança que aparece nos braços do militar era a sobrevivente de uma família que acabava de ser morta pelas tropas dos EUA. O repórter fotográfico bósnio Damir Sagolj era um dos jornalistas "embedded" nas tropas norte-americanas que entraram no Iraque em 20 de Março de 2003. Mas essa relação sempre equívoca com a tropa anfitriã não o impediu de legendar conscienciosamente a imagem que acabava de captar. Assim, Sagolj explicou na legenda que o fuzileiro do corpo médico Richard Barnett sustentava nos braços uma menina iraquiana, cuja família acabava de ser morta pelo fogo de tropas norte-americanas. A família parecia fugir de perseguidores locais, em direcção às tropas dos EUA, e estas abriram fogo, sem fazer perguntas. Apesar da legenda explicativa que acompanhava a imagem, a imprensa tablóide logo viu nela uma oportunidade de ouro para documentar o escrúpulo humanitário das tropas invasoras. Barnett tornou-se para muita dessa imprensa um símbolo do "bom soldado americano". Segundo Sagolj, a revista People, com uma tiragem de 20 milhões de exemplares, ligou para ele a perguntar o que sabia de Barnett e se este tinha filhos. Mas a mesma revista não se interessava nada por saber a história da fotografia e o que tinha acontecido naquele dia, 29 de Março. A história não tinha nada de secreto e o fotógrafo há vários anos que a conta a quem queira saber. Mas pouca opinião publicada quis debruçar-se sobre o assunto. Agora, como relata um artigo do diário francês Le Monde, o tema foi alvo de atenção no festival de fotojornalismo Visa, em Perpignan, cujo director, Jean-François Leroy, comentou a propósito: "O fotógrafo não fez em momento algum propaganda americana com essa foto. Para mim, ele fez o seu trabalho. Será que os media fizeram o seu trabalho? Nem sempre".