Segundo o site da RTP, "o primeiro-ministro britânico admitiu que um referendo sobre a relação da Grã-Bretanha com a União Europeia seria a melhor maneira de o Governo legitimar um acordo mais favorável com Bruxelas. Confrontado com a pressão crescente dos eurocéticos do Partido Conservador, David Cameron defende que o país deve continuar a fazer parte da UE, o seu maior parceiro comercial, mas deve renegociar as condições, num momento em que os 17 membros da Zona Euro estão, eles próprios, a redefinir os seus laços para fazer face à crise da moeda única. Numa entrevista à BBC, Cameron não deu qualquer indicação sobre quando poderia ser realizado o referendo, ou qual a pergunta que será feita aos cidadãos, mas disse que é contra um plebiscito que coloque as opções “ficar ou sair”. “A Europa está a mudar… a Zona Euro vai integrar-se mais… é necessário se quiserem salvar a moeda única, mas creio que isso abre uma oportunidade à Grã-Bretanha para conseguir um novo e melhor acordo com a Europa”, disse, à margem da reunião do Partido Conservador que se realizou em Birmingham. “Estou determinado em fazer tudo para conseguir esse acordo até às próximas eleições e depois procuraremos obter consentimento (popular) para esse novo acordo”, acrescentou o primeiro-ministro britânico.
Referendo deve legitimar "novo" acordo
“Quando obtivermos esse novo acordo, ele precisa de legitimação (do eleitorado), seja num referendo ou em eleições gerais”, disse, para acrescentar que “francamente um referendo é, obviamente, a maneira mais clara, simples e sensata de fazer isso”. Cameron tinha prometido realizar um referendo depois de 2015 sobre qualquer novo tratado europeu e evitar também que o país fique enredado em soluções dispendiosas para a crise da dívida na Zona Euro, bem como a tentar recuperar alguns dos poderes nacionais transferidos para Bruxelas. Mas alguns membros influentes do Partido Conservador querem que o país renegoceie imediatamente a sua relação com a Europa e não fazem segredo do seu desapontamento por o primeiro-ministro ter renegado a sua promessa eleitoral de realizar um referendo sobre o Tratado de Lisboa. A própria ala eurocética do Partido Conservador está longe de ser homogénea nas suas exigências. Os mais moderados querem que o Governo negoceie a devolução de uma série de poderes e competências que passaram para Bruxelas, mas os mais duros exigem um referendo mais decisivo, para perguntar aos britânicos se querem ficar ou sair da União Europeia.
Eurocéticos receiam concorrência de radicais
Para além de não acreditarem nas vantagens da União Europeia , os eurocéticos receiam que o partido venha a perder votos para partidos declaradamente antieuropeus nas próximas eleições. Um exemplo destas forças políticas é o Partido da Independência do Reino Unido (UKIP), que desde que foi criado batalha por um plebiscito à permanência do país na UE. Cameron desvalorizou recentemente o receio dos seus correligionários ao descrever o UKIP como “uma perda de tempo”, mas os eurocéticos receiam que a mensagem antieuropeísta desse partido possa custar a maioria aos conservadores nas legislativas de 2015.
Partido da independência já tem dissidentes
O cenário político britânico conta também com a formação dissidente do UKIP, lançada no mês passado, que sugestivamente se chama "Partido Exigimos um Referendo” (We Demand a Referendum Party). Esta última força política, cujo lema é “deixem o povo decidir”, foi formada pelo deputado europeu Nikki Sinclaire e conta entre os seus membros com muitos ex-membros do UKIP, incluindo Roger Knappman, que até 2006 chefiou o Partido da Independência. Niki Sinclair diz que, se o primeiro-ministro não definir uma data para um referendo sobre a continuação do país na União Europeia, o partido tenciona apresentar candidatos por cada região às eleições europeias de 2014. “Provámos que seis em cada dez pessoas querem um referendo sobre esta matéria”, disse Sinclair. “É tempo de deixar as pessoas decidir. Se o senhor Cameron não nos der uma votação, vamos exigir uma nas eleições europeias de 2014”, frisou. Um porta-voz do UKIP desvalorizou a criação desta força política dissidente, classificando-a de “uma distração”. “Temos visto surgir uma série de partidos e de candidatos independentes que favorecem a saída [da União Europeia] e todos acabam por desaparecer sem deixar rasto”, disse, acrescentando que “o que eles defendem é correto, mas acreditamos que o mesmo vai também acontecer desta vez”.
Cameron forçado a "jogar duro"
A presença destas forças no espetro político de um país que, desde a primeira hora, tem mantido uma relação algo ambígua e sui generis com as instituições europeias força a mão de David Cameron, que assim se vê forçado a reforçar a firmeza e a intransigência nas negociações com os parceiros europeus.No domingo passado, o chefe do Governo britânico ameaçou bloquear as negociações para o orçamento da União Europeia, se os outros Estados-membros não concordarem com um “controlo apropriado” da despesa, sem no entanto especificar quais as condições que Londres estaria disposta a aceitar.Na ocasião, David Cameron apoiou uma proposta segundo a qual passaria a haver dois orçamentos separados da união, um deles para a Zona Euro e o outro para a Grã-Bretanha e para os outros países do bloco de 27 que também não pertencem à moeda única. Já em dezembro Cameron tinha utilizado o veto britânico para bloquear a aprovação do Tratado Orçamental da UE, numa posição que alegrou os conservadores eurocéticos mas provocou grande frustração entre os liberais democratas, que são o parceiro minoritário da coligação governamental, e de outros líderes europeus. O pacto acabaria por avançar apenas a 26, com a exclusão da Grã-Bretanha, mas embora isolada a posição do líder britânico bastou para impedir que fosse considerado um tratado de toda a União.