"Vítor Gaspar quer controlar directamente a comunicação do seu ministério e prepara a criação de uma unidade de comunicação no Terreiro do Paço. "Unidade de Comunicação Institucional - responsável pelo protocolo e relações públicas; relações com a imprensa; gestão de conteúdos dos sítios da Internet e intranet do Ministério; (esta unidade coloca algumas questões delicadas. As relações com a comunicação social são naturalmente políticas. Esta questão de fronteira terá de ser esclarecida para evitar problemas. A minha sensibilidade é a de que precisamos de uma unidade de protocolo, informação e comunicação interna e de divulgação de conteúdos. Se esta abordagem for razoável a expressão comunicação deve ser evitada)." A frase anterior descreve uma das alterações orgânicas planeada pelo Ministério das Finanças para o próximo ano e está inscrita no relatório do Orçamento do Estado. Chega acompanhada de um comentário que é uma rara oportunidade de perceber a sensibilidade atribuída pela equipa de Vítor Gaspar à relação com a imprensa. A "Unidade de Comunicação Institucional" ficaria, segundo a proposta de Orçamento, "responsável pelo protocolo e relações públicas; relações com a imprensa; gestão de conteúdos dos sítios da Internet e intranet do Ministério". No Terreiro do Paço, é considerada uma alteração "delicada", especialmente nas relações com a imprensa que, lê-se numa nota incluída no relatório, são "naturalmente políticas".
O plano chega num momento marcado por polémica em torno da divulgação de informação relativa ao Orçamento do Estado, com alegadas fugas de informação para a imprensa vindas directamente de membros do Governo e por dificuldades de comunicação sobre a capacidade de mitigar ou não a austeridade através de cortes de despesa no Estado. Ontem, por exemplo, o ministro das Finanças defendeu que "não temos qualquer margem de manobra. Esta proposta de orçamento é a única possível", afirmou em conferência de imprensa. Já hoje Miguel Relvas, ministro Adjunto e dos Assuntos Parlamentares, afirmou que "há espaço para podermos olhar para mais cortes na despesa". O Negócios sabe também que no último ano e meio a política de comunicação do ministério das Finanças, incluindo a oportunidade de entrevistas com altos responsáveis do ministério, tem sido condicionada por decisões ao nível da equipa de coordenação política mais próxima do primeiro ministro. A passagem incluída no relatório de Orçamento do Estado parece não ter sido editada para publicação e deixa clara a sensibilidade das relações com a imprensa. "Esta unidade coloca algumas questões delicadas", isto porque, "as relações com a comunicação social são naturalmente políticas". "Esta questão de fronteira terá de ser esclarecida para evitar problemas" lê-se.
A mesmo comentário deixa uma sugestão: "a minha sensibilidade é a de que precisamos de uma unidade de protocolo, informação e comunicação interna e de divulgação de conteúdos. Se esta abordagem for razoável a expressão comunicação deve ser evitada", mas no organograma publicado no relatório do OE – onde se incluem os novos serviços do ministério das Finanças – o serviço é designado como "unidade de comunicação" perdendo apenas a palavra "institucional". Fonte oficial do ministério das Finanças confirmou ao Negócios que a criação da unidade de comunicação "está em discussão" e sublinhou que os comentário incluído no relatório do Orçamento foi um "comentário de um técnico" que foi publicado "inadvertidamente". A mesma fonte realça tratar-se de uma unidade de comunicação institucional. O gabinete de Vítor Gaspar garante também que as decisões do ministério das Finanças em termos de comunicação não são condicionadas pela equipa de coordenação política do primeiro-minsitro, mas antes tomadas em "estreita colaboração": "A comunicação do ministério das Finanças, incluindo a decisão nas entrevistas concedidas, nunca foi condicionada por decisões da equipa de coordenação política mais próxima do primeiro ministro. As decisões em matéria de comunicação são da responsabilidade do gabinete do ministro das Finanças, em estreita colaboração com os responsáveis pela equipa de coordenação política do Governo", lê-se numa nota enviada a meio da tarde ao Negócios (texto dos jornalistas do Jornal de Negócios, Elisabete Miranda e Rui Peres Jorge com a devida vénia)