Segundo o Correio dos Açores, “o Hospital de Ponta Delgada, Açores, apresentava no final de 2011 um passivo superior a 273 milhões de euros, segundo o relatório e contas do ano passado ontem divulgado, indicando que a situação de tesouraria da instituição é “bastante grave”. O relatório à situação económica e financeira, a que ontem a agência Lusa e o ‘Correio dos Açores’ tiveram acesso, refere que a situação financeira da maior unidade de saúde dos Açores “está a conhecer um crescente agravamento, desde 2000, em resultado do aumento dos custos sem os correspondentes reforços nas rubricas de proveitos, coincidindo com a mudança do antigo para o novo edifício e com o consecutivo crescimento da actividade assistencial”. “Esta situação tem-se vindo a agravar, agora com o esgotamento dos sistemas de pagamento a fornecedores e dos sistemas de factoring por antecipação dos proveitos de subsistemas de saúde”, sublinha o relatório que corresponde ao quinto ano da instituição como entidade pública empresarial. Segundo o documento, os instrumentos de financiamento “permitiram, até junho de 2011, ir mantendo os prazos de pagamento acordados com as empresas, relativamente àquelas abrangidas pelo sistema de pagamento a fornecedores, sem que fosse possível, para as restantes empresas não incluídas no sistema, por falta de meios financeiros, manter prazos adequados. Mas, “em 2011 continuaram a agravar-se as necessidades de financiamento” da maior unidade de saúde dos Açores, “fruto do insuficiente financiamento público à Instituição e do esgotando das alternativas de financiamento”. Neste sentido, o relatório alerta que a situação de tesouraria da Instituição é “bastante grave”, o que se traduz numa “crescente dificuldade em fazer face aos compromissos assumidos, não obstante o esforço significativo que a SAUDAÇOR foi realizando ao longo dos anos de 2010 e 2011, concedendo diversos adiantamentos que acabaram por não ser liquidados pelo Hospital, na medida em que os mesmos serviram de suporte à assunção de custos” da instituição. O documento refere “grande apreensão em relação ao futuro”, tendo em conta “o atual esgotamento de alternativas de financiamento, não compensadas por transferências de fundos públicos, que “irá originar previsíveis situações de ruptura de tesouraria, com consequências indesejadas e que ainda não podemos avaliar”. O relatório alerta ainda para necessidades de “investimentos crescentes”, nomeadamente “substituição de equipamentos em fim de vida útil, quer pela inovação técnica com tecnologias mais seguras e eficazes no diagnóstico e tratamento dos doentes”. O hospital serve as populações de S. Miguel e Santa Maria, num total de cerca de 143.000 habitantes e ainda, nas especialidades regionais, a restante população do arquipélago. Contactada pela pelo ‘Correio dos Açores’ a administração do Hospital não quis comentar o relatório em causa.
Governo fala em poupanças de 23 milhões na saúde
Fonte de informação do gabinete do secretário regional da Saúde, Miguel Correia, disse ao ‘Correio dos Açores’ que, “destes relatórios anuais sobressaiu uma poupança de 12,5 milhões de euros nos três hospitais em custos operacionais a que se soma uma outra poupança de 10,8 milhões de euros nas unidades de saúde (centros de saúde)”. No caso do Hospital do Divino Espírito Santo, os resultados correntes foram “aproximadamente idênticos” aos registados em 2010. Para esse facto, explica o hospital, “contribuiu decisivamente os resultados financeiros negativos, de - 11 856 495 euros, traduzindo o agravamento das condições de financiamento” do hospital. Segundo o relatório, os resultados operacionais do exercício de 2011, comparativamente ao ano anterior, melhoraram significativamente, (- 11.361,7 mil euros) fruto do “comportamento favorável e conjugado” da evolução dos custos operacionais e dos proveitos operacionais. Assim, o ano passado, houve uma diminuição de mais de 3,9 milhões de euros com custos globais com pessoal; uma diminuição de mais de 1,4 milhões de euros da conta de fornecimentos e serviços externos e 882,7 mil euros de fornecimentos e serviços.
17 milhões de euros de prejuízo em 2011
O resultado negativo do exercício do Hospital do Divino Espírito Santo, de Ponta Delgada, ascendeu a 47 milhões de euros o ano passado, um agravamento na ordem dos 17,4 milhões de euros, segundo o relatório e contas da unidade de saúde. A administração do Hospital do Divino justifica que este resultado negativo reflecte “o crónico problema de sub-financiamento da actividade operacional da instituição”. Para explicar o aumento do resultado negativo do exercício o ano passado, a administração hospitalar releva o facto de, no ano de 2010, não serem contabilizados 4.325.476 euros, correspondentes aos encargos financeiros suportados, naquele ano, pela SAUDAÇOR, S.A. por despacho do secretário da Saúde. Miguel Correia. “Este facto condiciona a análise dos resultados correntes”, lê-se no relatório a que o ‘Correio dos Açores’ teve acesso. Por outro lado, em resultado da aplicação do Despacho do secretário da Saúde de 31 de Dezembro de 2010, foi determinado que a Região “não devia assumir quaisquer encargos resultantes da facturação de Instituições prestadoras de cuidados de saúde integradas no Serviço Nacional de Saúde (SNS), relativamente a cuidados prestados a cidadãos residentes nos Açores,”. Este despacho levou a que a administração do hospital do Divino Espírito Santo procedeu-se à anulação da facturação emitida pelas instituições de saúde nacionais. Segundo o relatório e contas, “a contabilização do princípio previsto no citado despacho, tendo por base as orientações para o efeito transmitidas pela SAUDAÇOR, S.A, teve um impacto positivo tanto nos resultados operacionais (facturação emitida no ano de 2010, neste caso, com a diminuição dos resultados antes referidos em 2.104 mil euros) como em resultados extraordinários (facturação emitida em anos anteriores, neste caso, com o aumento dos resultados extraordinários do exercício em 17.126,9 mil euros”. “A aplicação dos despachos referidos teve implicações nas demonstrações económicas e financeiras do exercício de 2010, afectando positivamente diversas contas e classes de custos e proveitos, facto que não aconteceu em 2011”, explica a administração hospitalar, concluindo que “os resultados do exercício, para serem comparáveis, têm de ter em consideração o referido anteriormente, uma vez que os movimentos contabilísticos em causa, são responsáveis pela afectação de resultados (do ano passado) no montante de 24.444,1 mil euros”. Fonte do hospital de Ponta Delgada afirmou ao ‘Correio dos Açores’ que a informação que consta do relatório do hospital “é meramente informativa” e que se mantem a decisão do Governo dos Açores de que deve ser o Governo da República a pagar os custos dos doentes açorianos tratados em unidades de saúde do Continente integradas no Serviço Nacional de Saúde. Esta é também a opinião do gabinete do secretário regional da Saúde, Miguel Correia. O despacho de 2010, segundo fonte do gabinete “mantem no sentido de não se contabilizar os valores correspondentes aos custos do tratamento dos doentes açorianos no Continente”.
Hospital do ‘Divino’ é um barril de pólvora...’
A administração do Hospital do Divino Espírito Santo’ assume, no relatório e contas de 2011, que a prestação de cuidados de saúde pela instituição “está condicionada por factores externos, de entre os quais se destaca a insuficiente capacidade assistencial dos Centros de Saúde, quer pela existência de uma elevada percentagem da população sem médico de família (sobretudo nos Concelhos de Ponta Delgada e Lagoa), quer pela falta de internamento de rectaguarda para continuação de tratamentos nas instituições de cuidados primários”. “A primeira limitação agrava a pressão da procura sobre a consulta externa hospitalar e, a segunda, inviabiliza a transferência dos doentes para os Centros de Saúde, nas situações clinicamente possíveis e economicamente recomendadas, agravando assim a demora média sobretudo nas enfermarias de especialidades médicas – e contribuindo para o aumento dos custos”. Por outro lado, lê-se no relatório, “o envio de doentes insuficientemente/inapropriadamente referenciados pelos médicos de família, contribui muitas vezes para a pouca rentabilidade das consultas externas, situação que importa modificar”. No entender da administração hospitalar, o movimento do Serviço de Urgência embora tenha decrescido em 2011, continua elevado, (um em cada dois habitantes procura a urgência deste Hospital anualmente), sendo consequência sobretudo da carência de resposta dos cuidados primários, bem como do déficit de oferta hospitalar de consultas externas nalgumas especialidades”. “O utente persiste numa procura inadequada da urgência hospitalar, porque assim tem resposta imediata às suas queixas”. O relatório releva ainda que, a nível interno, “diversos são os factores que impedem a obtenção de melhores resultados, designadamente a insuficiência de alguns recursos humanos, como médicos de algumas especialidades, designadamente Patologia Clínica, Otorrinolaringologia, Psiquiatria, Urologia e Anestesiologia”. Consideram, a propósito, que o número de Médicos Internos do Internato Complementar em formação, abre, contudo, perspectivas de significativa melhoria nos próximos anos”. A administração da unidade de saúde reconhece ainda “existirem dificuldades a ultrapassar na capacidade de resposta do HDESPD às necessidades dos utentes, designadamente na melhoria dos circuitos da acessibilidade à Instituição, principalmente através da consulta externa nalgumas especialidades, na redução das listas de espera para consultas, Bloco Operatório e em alguns meios complementares de diagnóstico e terapêutica e também, qualitativamente, na manutenção do esforço de valorização e actualização das técnicas, na melhoria das condições hoteleiras e da qualidade e humanização no atendimento”. Prossegue que, durante o ano de 2011, “persistiram alguns estrangulamentos que têm atingido o Hospital e o Sistema de Saúde em geral, sucessivamente mencionados em relatórios de anos anteriores, destacando-se os seguintes: - A insuficiência de resposta dos Cuidados Primários, com a consequente procura inapropriada do Serviço de Urgência, situação que, por arrastamento, afecta toda a actividade hospitalar; pela necessidade de colocação de recursos excessivos naquele Serviço, em prejuízo de actividades programadas; a persistência do problema do subfinanciamento com recurso excessivo a crédito bancário e acumulação de saldos em dívida a fornecedores”.
Listas de Espera para Cirurgia
O relatório e contas salienta que o Hospital do Divino Espírito Santo “não é excepção” ao “grave problema” das listas de espera nas unidades hospitalares, “quer quanto à relevância” do problema “quer quanto aos condicionalismos do funcionamento do Bloco Operatório”. A administração da unidade hospitalar ressalva que, para que seja dada continuidade ao programa de recuperação de listas de espera implementado, até “com objectivos sucessivamente mais ambiciosos de modo a que se atinjam valores compatíveis com as médias nacionais, que se situam em tempos de espera médios não superiores a 6 meses, será simultaneamente necessário fixar objectivos e compromissos de melhoria da produtividade nos tempos normais do Bloco Operatório bem como na crescente implementação da cirurgia de ambulatório, de modo que se comprovo que os recursos são adequadamente rentabilizados”. Em 2011 apenas 29,9% dos doentes do Hospital do ‘Divino’ estão em espera há menos de 6 meses e que para 57,4 % dos doentes o tempo de espera é inferior a 1 ano. Por outro lado, cerca de 28% dos doentes tem uma espera no intervalo de 1 a 2 anos e 11,1% dos doentes tem uma espera superior a 2 anos o que se afigura, no entender da administração hospital, “já muito grave”. O objectivo para o final do triénio 2011-2013, é que o HDES preste cuidados de saúde com tempos de espera para 1as consultas inferiores a 30-45 dias e para cirurgias inferiores a 6 meses, reforçando a quota de mercado e diferenciação clínica no conjunto dos Hospitais da Região. As estatísticas mostram que o mais provável é que o hospital falhe este objectivo.
Três hospitais da Região estão falidos: Esta “é uma herança dos governos PS”, diz o PSD/Açores
O PSD/Açores acusou ontem o governo regional do PS de deixar “como herança”, os três hospitais açorianos “falidos”, conforme o comprovam “os resultados apurados referentes a 2011, com o sector da Saúde a ter quase 800 milhões de euros de passivo”, diz um comunicado do partido divulgado ontem Para os social-democratas trata-se de uma “dura realidade, que vem atestar a desastrosa gestão levada a cabo pelos governos de Carlos César e Vasco Cordeiro. Uma realidade que o ruído da campanha eleitoral não pode abafar”. Apurados os resultados da gestão de 2011, “confirma-se que os três hospitais da Região estão falidos. Os hospitais do Divino Espírito Santo, de Santo Espírito e da Horta têm um passivo acumulado de 464 milhões de euros, que representa um crescimento exponencial de 112 milhões de euros, em relação à gestão de 2010”, sublinha o PSD. “O Hospital do Divino Espírito Santo, em Ponta Delgada, está sem crédito e à beira da ruptura de tesouraria, por se terem esgotado as fontes de financiamento”, avançam os social-democratas, lembrando que “a tudo isso, junta-se o passivo da Saudaçor, que é de 320 milhões de euros”. “Atinge-se um valor de 784 milhões de euros de dívidas no sector da Saúde, sem falar nos compromissos com Parcerias Público Privadas, que chegam aos 378 milhões de euros”, afirmam. O PSD/Açores acrescenta que “para lá das enormes dívidas comerciais existentes na área da Saúde, o Governo do PS já deu ordens para que as empresas fornecedoras só apresentem as suas facturas no próximo ano de 2013. E isto já depois do executivo ter antecipado os duodécimos de novembro e dezembro”, sublinha o comunicado. Segundo os social-democratas, “este é o espelho da governação do Partido Socialista, após 16 anos de permanência no poder. É esta a herança calamitosa que o PS deixa, com cofres vazios, dívidas imensas e falências entre as empresas que fornecem a tutela”. O PSD conclui, lembrando que os açorianos “vão decidir, no próximo domingo, sobre quem querem que governe a Região nos próximos quatro anos. E essa é uma grande responsabilidade”.
