quinta-feira, agosto 09, 2012

nacionalismo: As medalhas são britânicas ou são escocesas, galesas, etc.?

"Os Jogos de Londres têm mostrado vários pequenos países com queda para a conquista de medalhas olímpicas. Mas os analistas parecem ter-se esquecido de um: a Escócia. Com pouco mais de cinco milhões de habitantes, a nação escocesa já somava, a meio do dia de quarta-feira, 11 das 48 distinções amealhadas pelo chamado Team GB... Apesar da vaga de patriotismo que varre o Reino Unido ao sabor dos triunfos olímpicos, há nacionalismos bem vivos que continuam a fazer-se ouvir. A Escócia propõe-se organizar um referendo sobre a independência em 2014. Com cerca de um terço do território, mas só 1/12 avos da população da Grã-Bretanha, há quem acredite que a secessão poderá trazer benefícios. E também quem considere a ideia uma receita para o desastre. Em termos desportivos, porém, não há como negar a boa prestação dos atletas escoceses - com o ciclista de pista Chris Hoy, o mais medalhado britânico da história, à cabeça. O único problema é que não existe uma equipa escocesa. Os seus representantes competem pelo Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda do Norte. Só este nome já é complicado. Imagine-se a teia de relações, influências, rivalidades e ressentimentos que grassa pelas ilhas quando se fala de nacionalidades. A Grã-Bretanha representa a ilha maior, onde está a maior parte do território de Inglaterra, Escócia e País de Gales (mas não algumas ilhas adjacentes). Isto deixa de fora a Irlanda, dividida em dois territórios - a Irlanda do Norte e a República da Irlanda. Os desportistas irlandeses podem optar por qualquer delas.
Confusos? É normal. Ainda mais quando, em muitas modalidades, existem no Reino Unido quatro federações desportivas autónomas que fazem alinhar selecções próprias em competições internacionais - o futebol e o râguebi são os melhores exemplos. Para o torneio olímpico organizou-se uma selecção conjunta de futebol, afinal à imagem do que acontece noutras modalidades. Mas há quem continue a olhar para as partes e não para o todo. Quando Chris Bartley conquistou a medalha de prata no remo, incluído numa equipa que integrava, ainda, Rob Williams, Richard Chambers e Peter Chambers, muitas notícias destacavam o facto de se tratar da primeira medalha do País de Gales nos Jogos de Londres...
Há 30 atletas galeses a competir sob a bandeira do Reino Unido, um recorde. Escoceses, são 55, segundo o Sport Scotland Institute of Sport. Poderão as suas proezas desportivas ajudar a causa independentista? Ou antes pelo contrário? Após o triunfo sobre o suíço Roger Federer na final olímpica de singulares masculinos, o tenista escocês Andy Murray cantou o God Save the Queen enrolado na Union Jack - a bandeira que, já agora, junta as cruzes escocesa, inglesa e norte-irlandesa num único estandarte, deixando Gales de fora. Por seu turno, o nome da equipa nacional "esqueceu" a Irlanda do Norte. Podia ser Team UK, mas não é. Durante algum tempo chamou-se Great Britain & Northern Ireland. Demasiado complicado. O marketing ditou a mudança para Team GB. Mas a BBC, por exemplo, não abdica da designação politicamente correcta: a equipa da "Grã-Bretanha e Irlanda do Norte" segue na terceira posição do quadro de medalhas
" (texto do jornalista do Publico, Luís Francisco, com a devida vénia)

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