quarta-feira, outubro 19, 2011

Outra vez Sócrates: amigo atrasa justiça...



Escrevem as jornalistas do Correio da Manhã, Ana Luísa Nascimento e Sónia Trigueirão que “o pedido de audição de sete testemunhas, em Inglaterra, do arguido Horácio Carvalho - amigo de Sócrates e conhecido empresário da Covilhã - bloqueou durante dois anos o ‘processo Cova da Beira', relativo a suspeitas de pagamentos para favorecimento na adjudicação da central de tratamento de resíduos sólidos à empresa HLC. O principal arguido, Horácio Carvalho, acusado de corrupção activa e branqueamento de capitais, arrolou sete testemunhas, antigos e actuais funcionários das suas empresas, residentes em Inglaterra, com o objectivo de explicarem a sua relação com o ex-professor de Sócrates António Morais. O empresário alega que as transferências feitas para a conta offshore de António Morais e da ex--mulher, Ana Simões, foram pagamentos por projectos que nada tiveram que ver com a central da Cova da Beira e que ocorreu um erro no registo das mesmas. A Polícia Judiciária encontrou transferências para António Morais referindo "consultadoria da Cova da Beira". Para concretizar a audição das testemunhas, o Ministério Público (MP) enviou a primeira carta rogatória a solicitar a colaboração das autoridades britânicas em Setembro de 2009. Mas Inglaterra só respondeu sete meses depois. "Não nos é possível dar seguimento ao pedido na sua forma actual, pois necessitamos de mais informações para o podermos executar", lê-se numa das cartas recebidas em Portugal a 19 de Março de 2010. Para ponderar uma audição das testemunhas, os ingleses pediram vários dados: "Nome completo das pessoas abrangidas no processo, datas de nascimento, nacionalidade, descrição dos factos e das provas." E pediram também uma "confirmação sobre a situação" de José Sócrates no processo. A 5 de Maio de 2010, o Ministério Público informa os ingleses de que os autos estão "em fase de julgamento e não de investigação" e que o então "primeiro--ministro não é arguido no presente processo", tendo sido arrolado como testemunha pela arguida Ana Simões, ex-mulher de António Morais, ex-professor de José Sócrates. A transcrição das audições das sete testemunhas - antigos e actuais funcionários de empresas do grupo HLC em Inglaterra - só chegou ao processo a 16 de Setembro de 2011. Só depois disso foi possível a marcação do julgamento, para 19 de Outubro.
TESTEMUNHA DE ANA SIMÕES
A arguida Ana Simões, ex-mulher de António Morais, colocou José Sócrates, que era secretário de Estado do Ambiente no início da investigação deste processo, como sua testemunha abonatória.
OS TRÊS PROTAGONISTAS
Horácio Carvalho, empresário
Era dono da HLC, empresa que ganhou o concurso de construção da central de compostagem da Cova da Beira. É amigo de Sócrates e conhecido na Covilhã. Suspeita-se de que pagou a António Morais para que a sua empresa fosse escolhida. Está acusado do crime de corrupção activa e branqueamento de capitais.
António Morais, engenheiro
Conhecido como o professor das quatro cadeiras da polémica licenciatura de Sócrates. Foi a sua empresa, e da mulher, Ana Simões, a Ana Simões & Morais, Arquitectos e Engenheiros Associados, que fez o relatório para a escolha da HLC no projecto da central. É acusado de corrupção passiva para acto ilícito e branqueamento de capitais.
Ana Simões, arquitecta
Foi casada com António Morais e alega que o marido é que tomava conta dos negócios da empresa de ambos. Pediu o reconhecimento da sua assinatura na ficha de abertura da conta offshore em Guernesey, uma vez que não sabia da sua existência. Está acusada de corrupção passiva e branqueamento de capitais.
CENTRAL CUSTOU MAIS DE 30 M €
Construída na Quinta das Areias, no concelho do Fundão, por um consórcio de empresas liderado pelo grupo HLC, a central demorou mais de dois anos a ser erguida. O investimento total realizado na Central de Compostagem de Lixo da Cova da Beira, desde 1997, ano em que o projecto foi a concurso público, até agora, ascende a mais de 30 milhões de euros.
ERROS NOS RECIBOS
As sete testemunhas do arguido Horácio Carvalho ouvidas em Inglaterra foram interrogadas sobre a relação de trabalho entre o empresário, dono da HLC, e António Morais (ex-professor e amigo de José Sócrates) e sobre as transferências efectuadas para a conta offshore deste último. Uma das testemunhas, Rameshandra, confirmou que Morais fez trabalhos para a HLC e que teve conhecimento de um erro nas transferências, que fez com que no recibo estivesse escrito: "Por trabalhos relacionados com o projecto Cova da Beira." Sobre este aspecto, Kiran Kumari, outra das testemunhas, revela que Morais era conhecido na empresa como o "homem da Cova da Beira" por ter sidoele a fazer o "programa de especificação do centro de compostagem" e que isso está na origem do engano”.

Sem comentários: