A notícia do DN de hoje, em que se revela o teor de e-mails trocados entre jornalistas do Público, sobre o caso das alegadas escutas a Belém, veio abalar a Comunicação Social e o poder político a meio de uma campanha. A análise ao caso por Pedro Leal, director-adjunto de Informação da Renascença: "A manchete do “Diário de Notícias” de hoje é inaceitável. Parece um grande furo jornalístico, mas faz deste dia um dia triste para imprensa portuguesa. O caso resume-se num parágrafo. Tudo começou em Agosto com a notícia do “Público” sobre alegadas suspeitas de que o Presidente da República estaria a ser escutado pelo Governo. Hoje, o “Diário de Notícias” revela um e-mail de 2008, em que um jornalista do “Público” pede a outro Jornalista, também do “Público”, que investigue o caso. Nesse e-mail, são reveladas fontes, pistas de investigação e mesmo dúvidas sobre a veracidade do caso. Era um e-mail de trabalho, confidencial. Na sua edição de hoje, o “Diário de Notícias” publica essa mensagem e faz manchete com o seu conteúdo. É muito grave a leveza com que o “Público” avançou com a notícia das escutas em Agosto. É muito grave um assessor do Presidente da República, perante a suspeita da Presidência de estar a ser escutada pelo Governo, recorrer a um jornalista para denunciar o caso e não às autoridades policiais e judiciais competentes. É muito grave o silêncio do Presidente da República sobre o assunto. Tudo isto é escandaloso e próprio de uma novela mexicana. Mas há, pelo menos, um segundo aspecto nesta história muito mais preocupante: como é que um jornal publica o teor de um e-mail de um jornalista de outro jornal, no qual são reveladas as fontes de informação de um caso que, à data, estava a começar a ser investigado. O “Diário de Notícias” justifica a sua decisão com o “absoluto interesse nacional”. De facto, a história tem interesse nacional, mas - verdade de La Palisse - os fins não justifi cam os meios. Um dos pontos mais sagrados para os jornalistas é a protecção das fontes. Aí, assenta a confiança. Apesar da leveza com que tratou o caso, o “Público” nunca identificou a fonte de Belém que estaria na origem da denúncia. Surpreendentemente, o “Diário de Notícias” revela a fonte da notícia do “Público”, divulgando um e-mail do próprio “Público”. Este comportamento está errado. Mesmo que o e-mail tenha caído em cima de uma secretária de um jornalista do “Diário de Notícias”, o seu teor nunca poderia ser publicado. Seria responsabilidade do jornalista do “Diário de Notícias” procurar comprovar, por outras formas, o seu conteúdo. No meio de tudo isto, pergunta-se: quem encomendou, a quem e o quê? Em democracia, os políticos legitimam o seu poder através de eleições. Em democracia a Imprensa só tem um poder: o da credibilidade" (artigo publicado no site da Rádio Renascença em 18 de Setembro de 2009)
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