Opinião: "Madeira - a comoção é má conselheira"
"Quando acontecem tragédias os corações amolecem. No dia seguinte à catástrofe da Madeira, o PS anunciou que abandonava a fiscalização da constitucionalidade da Lei das Finanças Regionais. A iniciativa foi muito aplaudida, da esquerda à direita. A atitude merece duas leituras: ou a lei não era inconstitucional (e o PS queria fazer guerrilha política), ou era… e o PS desistiu da fiscalização para não quebrar o unanimismo à volta da Madeira. Se for o primeiro caso, a atitude é lamentável. Se for o segundo, é preocupante: não se desiste de fiscalizar uma lei por mero eleitoralismo. Acresce que a forma como os partidos estão a lidar com a Madeira pode legitimar "desvios". Senão veja-se. Sem qualquer avaliação técnica na mão, e antes da reunião com o governo central, Alberto João Jardim apressou-se a fixar um preço para a reconstrução: 1,3 mil milhões de euros, quase o orçamento regional de um ano. Ou seja, condicionou a discussão sobre o custo de recuperação da ilha. A Madeira merece toda, mas toda, a nossa solidariedade. Mas a comoção da tragédia não pode condicionar a fiscalização da lei (Teixeira dos Santos tem razão); e não se pode aprovar o custo de reconstrução sem avaliações criteriosas. Para não ficarmos, daqui por uns meses, com a amarga sensação de que o coração mole não deixou perceber o inflacionamento da factura. Tudo isto envolve fiscalização apertada. Vamos ver se Sócrates não desiste dessa fiscalização por razões eleitoralistas" (por Camilo Lourenço, no Jornal de Negócios)
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