sexta-feira, janeiro 29, 2010

Alberto João Jardim: "Nunca tive qualquer simpatia por “congregações” ou “sociedades secretas” e isso tem-me custado caro"

Com o título "As “sociedades secretas” ou “Congregações”, Alberto João Jardim assina mais um texto de opinião na edição de Janeiro de 2010 do "Madeira Livre":~
"Desde a Revolução Francesa, a ambiência política portuguesa foi dominada pela questão das chamadas “sociedades secretas”. O que chegou até aos dias de hoje, embora tal “secretismo” praticamente ou em grande parte já não exista.
O que existem, sim e de várias naturezas, são associações que pretendem decidir da vida pública, à margem da transparência e da representatividade democrática, as quais, dada a dificuldade actual quanto a manter o respectivo secretismo, melhor prefiro lhes chamar “congregações”. Até pela abrangência supralaica da denominação, vulgarizada nos Estados Unidos.
“Congregações” cujo recrutamento não procura só posições já dominantemente estabelecidas na Sociedade, mas que, por um lado, recruta logo nos meios universitários, Quadros que se afigurem promissores e, por outro lado, também chamam a cooperar, num estatuto variável, autênticos “operacionais”.
Por norma, os associados destas “Congregações” não só procuram manter em segredo essa qualidade, como não desvendam ritos ou atitudes, até porque, por vezes, entendem que a sociedade não está preparada para os aceitar.
As “Congregações” têm uma organização formal, linguagem nem sempre acessível sequer aos respectivos iniciados, a admissão dos seus membros é feita segundo um critério selectivo e às vezes precedida de cerimónias iniciáticas.
Há casos de adesão voluntária, meramente determinada por tradição familiar, por estatuto de classe, ou até por gesto voluntário de sincera e presumida responsabilidade cívica.
Exigem a obrigação de secretismo.
Têm considerável influência na vida pública, quer no suporte aos regimes políticos – caso da maçonaria em relação ao sistema político vigente da Constituição da República Portuguesa de 1976 – quer na oposição a ordens político-sociais eventualmente vigentes.
Normalmente, as “Congregações” coincidem com a ambição da conquista ou da manutenção do poder, deixando as massas populares se distrair com o aparente “jogo” dos Partidos políticos, estes, por sua vez, para o efeito mais ou menos infiltrados.
A partir do século XVIII, com a laicização das sociedades e a secularização da Cultura, viu-se certas “Congregações”, como a maçonaria, avançar com posições hostis aos Valores intrínsecos dos Povos e às Instituições que Os defendem, nomeadamente uma certa conflitualidade com a Igreja Católica, mas que os novos tempos de ecumenismo e de abertura fizeram atenuar substancialmente as tensões.
Numa apreciação ética objectiva, temos de considerar que a Pessoa Humana está apontada à concretização do Bem Comum.
Ora, o Bem, como tal, não carece de secretismo. O Bem carece, sim, de luz, de não ocultação, para poder estar ao maior alcance possível de todos e ser alvo da maior difusão.
Como todos sabem, eu nunca tive qualquer simpatia por “congregações” ou “sociedades secretas”, fosse qual fosse a respectiva natureza.
Tem-me custado caro.
Por outro lado, e por coerência político-ideológica, sempre combati, no sistema político da Constituição de 1976 da República Portuguesa, a deriva corporativa que fatalmente as suas normas acabariam por provocar.
Nascido o 25 de Abril contra um regime que impropriamente se autoproclamava “corporativo”, a actual Situação política é mais corporativa do que o regime deposto, na medida em que, até por falta de adequada descentralização política territorial, no seio da Nação e contra o próprio Estado formaram-se poderosos grupos de “interesses” mais variados, quase todos profissionais, que trazem o próprio Sistema político a um impasse inultrapassável.
Nalguns dos quais preponderam as “Congregações”, nalguns outros, movimentos de índole marxista anti-Democracia Representativa.
O Partido Social Democrata da Madeira desde cedo se mostrou hostil a qualquer fórmula de corporativização do Sistema político, por basear a Democracia no sufrágio universal de voto secreto e individual.
Por considerar Portugal e a Região Autónoma, cada como um todo que não podia ser subvertido na concretização do respectivo Bem Comum, pela força de “interesses” particulares ou de grupos.
E, por tudo isto, o Partido Social Democrata da Madeira ainda mais distante se quis manter em relação às “Congregações”, pois não admite que a vontade livre do Eleitorado seja subvertida por interferências ainda por cima pouco claras ou mesmo não às claras.
Não quer com isto se dizer que sejamos tão ingénuos, ao ponto de ignorar a normal estratégia de penetração que tais tipos de associações têm por prática, em Instituições que lhes interessa estar por dentro, ainda que só para resultados não imediatos. Até porque, a nível individual, o PSD/Madeira não tem que se meter na vida e opções de cada um.
Até porque em certo passado mais distante sucederam-se tentativas que foram eficazmente abortadas.
Mas esta distância e mesmo rejeição do Partido Social Democrata da Região Autónoma da Madeira tem custado um preço duro, como todos podem constatar.
Num Portugal não apenas à mercê dos visíveis interesses corporativos, mas hoje fortemente dominado por “Congregações” de diversos tipos – até opostos e degladiando-se – o facto de não conseguirem se impor neste arquipélago explica muito das campanhas, dispendiosas na orquestração e na materialização, que contra nós são dirigidas, particularmente contra as Instituições e líderes autonomistas madeirenses.
Não aceitam que lhes fuja ao controlo que têm sobre o restante País, uma parte do território nacional e o Partido aí maioritário.
Assim, muita coisa se explica, mesmo que alguns tontos sejam seu instrumento involuntário, nem percebam para que fins “trabalham”.
Apesar de todos os contratempos desta maneira explicados, creio ser este o caminho certo para o Partido Social Democrata da Madeira.
Sob o ponto de vista ético, sob o ponto de vista democrático, sobretudo em termos de Bem Comum".

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