sábado, março 29, 2008

Opinião: “Um Governo a correr riscos”

"O ministro das Finanças sabe bem que ainda não controlou o "monstro". Deu-lhe uns sedativos que o fazem atacar mais devagar. Bem pode o Governo fazer umas contas que mostram que a redução do défice foi conseguida tanto através da receita como da despesa. Há sempre contas para todos os gostos. A oposição gosta mais de olhar para um aumento da receita que é o dobro da registada na despesa entre 2005 e 2007. Se o ministro das Finanças continuar a ser sensato, não deixará de ficar bastante preocupado com as contas públicas. Sabe bem que esta extraordinária redução do défice público – para metade em dois anos – é irrepetível no futuro. Fernando Teixeira dos Santos sabe, melhor do que ninguém, que o aumento registado na receita fiscal – 17% em dois anos – não se vai repetir. As subidas começarão a ser mais lentas. O combate à evasão tem limites, assim como o bolso dos contribuintes. O ministro também sabe que com congelamento de carreiras, redução de serviços e até a saída de algumas áreas das contas da administração pública conseguiu travar a velocidade da despesa temporariamente (que mesmo assim cresceu 8%). A partir de agora tudo se torna mais difícil: os funcionários vão progredir na carreira, a saída de mais áreas do universo das contas do estado obriga a entrar por domínios politicamente mais difíceis, não se pode andar a reduzir serviços todos os anos e a saída e mobilidade dos funcionários públicos está mais complicada do que se esperava. A despesa está preparada para reganhar velocidade e a receita para perder. Esta é uma dinâmica instalada independentemente da conjuntura e até do sucesso das medidas de redução do número de funcionários públicos. A grande incerteza que hoje se vive sobre a evolução da economia nos próximos meses é outro dos riscos que o ministro das Finanças sabe que existe. Os Estados Unidos estão com dificuldades em controlar a crise financeira que criaram. Os efeitos na Europa parecem inevitáveis. Se a economia portuguesa crescer 1% em vez de 2%, o défice sobe automaticamente cerca de 800 milhões de euros. O ministro das Finanças sabe ainda que a redução do IVA que anunciou na quarta-feira nada conseguirá fazer contra um abrandamento da economia ditado pelo exterior. A opção por descer a taxa de 21% para 20% não terá qualquer efeito expansionista mesmo sem crise externa. A descida tem a dimensão de 250 milhões de euros, é este o valor que se está a devolver a empresas e famílias, uns míseros 0,15% do PIB. O pacote fiscal de George W. Bush para estimular a economia representa 1% do PIB.A redução do IVA não tem efeitos de expansão na economia e é perigosa para o caminho de redução do défice público. Porque decidiu então o Governo fazer isto? Sim, há eleições que se aproximam, há esperanças num futuro melhor que é preciso criar depressa. Estamos a arriscar mais uma crise orçamental para o PS manter o poder?”. por Helena Garrido, editorial do Jornal de Negócios, aqui.

Sem comentários: