“Em 2011, os eleitores escoceses deixaram de fora do Parlamento a grande
maioria dos democratas liberais, já que estes formaram uma coligação com os
conservadores londrinos. Os lugares vazios foram preenchidos pelo Partido
Nacionalista Escocês que começou prontamente a organizar um referendo.
A 15 de Outubro de 2012, foi assinado o acordo de Edimburgo entre os
primeiros-ministros britânico e escocês, David Cameron e Alex Salmond (também
líder do Partido Nacionalista). O documento autoriza o referendo que irá
perguntar aos escoceses “Should Scotland be an independent country?” (A Escócia
deve ser um país independente?).
A consulta popular foi marcada para 18 de Setembro de 2014, o ano em que
se celebram os 700 anos da Batalha de Bannockburn, que devolveu independência à
Escócia depois de a Inglaterra ter começado o seu domínio sobre o país em 1296.
A Escócia só voltaria a juntar-se ao Reino Unido em 1707.
Quem defende a independência na Escócia?
O Partido Nacional Escocês, o Partido Verde Escocês e o Partido
Socialista Escocês apoiam o “sim”.
Enquanto a Escócia é tradicionalmente mais liberal, o resto do Reino
Unido tem práticas mais conservadoras. Foi esta diferença que levou os líderes
escoceses, nomeadamente o primeiro-ministro Alex Salmond a avançar com o
referendo.
Se os escoceses não aprovarem a independência, não haverá outro
referendo, assegurou Salmond.
E o “não”?
A campanha “Better Together” é composta pelo Partido Trabalhista, o
Partido Conservador e os Democratas Liberais da Escócia. O primeiro-ministro
inglês, David Cameron, também apelou a que a Escócia se mantenha no Reino Unido
– um discurso marcado pela emoção.
Quais são os argumentos do “não”?
O movimento “Better Together” baseia grande parte dos seus argumentos
pró-união nas benesses a que a Escócia tem direito por fazer parte do Reino
Unido. Diz, por exemplo, que a Escócia usa o dinheiro dos impostos, o fundo de
pensão, o Serviço Nacional de Saúde e a defesa militar do Reino Unido.
Outro argumento contra são os postos de trabalho: um em cada cinco
postos de trabalho escoceses estão em empresas com base nos outros países. Em
causa estão 600 mil empregos, lê-se no “site” do movimento.
E depois há a exploração petrolífera no Mar do Norte. O “Better
Together” explica que os escoceses não se podem fiar nas receitas do petróleo,
que “não dura para sempre.”
Os defensores do “não” acenam ainda com os perigos de deixar a libra e a
União Europeia.
E o que argumenta o “sim”?
Já a campanha “Yes Scotland”, liderada pelo primeiro-ministro Alex
Salmond, está confiante de que a independência será o melhor para a Escócia.
Em primeiro lugar, com a transição de todos os poderes para o seu
Governo conseguem ter mão sobre todos os assuntos. A liberdade política
permitirá à Escócia melhorar o sistema de saúde, as pensões e os cuidados
infantis.
O “Yes” vê a questão dos postos de trabalho de maneira diferente:
defende que a Escócia tem muitos recursos naturais e pode tornar-se um dos
maiores exportadores de energia e electricidade para a Europa.
Acabar com a exploração de energia nuclear e beneficiar em pleno da exploração
petrolífera no Mar do Norte são outros dois argumentos para a independência.
Qual será o destino da moeda?
Para o movimento nacionalista mantinha-se a libra (e a partilha do Banco
de Inglaterra). Para os três principais partidos políticos britânicos
(Liberais, Conservadores e Trabalhistas) isso não é opção. George Osbourne,
ministro das Finanças do Reino Unido, já declarou que a Escócia não vai poder
partilhar a libra.
Um dos grandes golpes contra os movimentos independentistas é a falta de
um “plano B”, caso a Escócia não possa, de facto, continuar a usar a libra numa
união monetária com o Reino Unido.
As outras opções são o uso da libra independentemente do Reino Unido (o
que levaria à falta da segurança fornecida por um banco central), a adesão ao
euro ou a criação de uma nova moeda.
Mas se a Escócia independente não fica com a libra, também não fica com
a dívida pública correspondente, avisou o primeiro-ministro Alex Salmond. Se o
Reino Unido tiver que ficar responsável pela dívida escocesa, isso pode atrasar
a recuperação da notação de crédito AAA, o máximo atribuído pelas agências de
“rating”.
A Escócia vai continuar a fazer parte da União Europeia?
Salmond acredita que a bandeira azul tem lugar para mais uma estrela
dourada. Os pró-independência defendem que nada impede que a Escócia permaneça
na União Europeia depois do referendo, tendo em conta que já faz parte integral
da união e que cumpre as suas regras e práticas há 40 anos.
A entrada nos 28 não seria, no entanto, um processo fácil ou rápido. A
questão da moeda pode atrasar ou mesmo impedir a entrada: se a Escócia
continuar com a libra, isso pode demonstrar que o país não tem capacidade para
gerir a sua economia suficientemente bem.
Outro obstáculo à entrada é o voto dos 28 Estados-membros. Nomeadamente
da Espanha, a quem não convém estar de acordo com uma separação de um país em
dois territórios, já que há vários anos tenta evitar precisamente que isso
aconteça na Catalunha.
O que vai acontecer à Rainha? Dois países, um trono?
Para continuar a ter a Rainha Isabel como o seu líder máximo, a Escócia
teria que redigir uma nova constituição.
No seu mais recente comentário sobre o referendo de dia 18, a Rainha
Isabel II pediu à Escócia “que pense cuidadosamente sobre o futuro”.
Os nacionalistas escoceses mostraram vontade de continuar sob o domínio
da família real inglesa. As duas monarquias estão unidas há mais de 400 anos,
quando o Rei escocês Jaime VI subiu ao trono inglês.
Qual é o problema da energia nuclear?
Uma das posições mais marcadas da campanha para o “sim” é o fim da
exploração de energia nuclear na Escócia. Isso passa por remover quatro
submarinos “Trident” equipados com mísseis nucleares da base naval de Faslane,
perto de Glasgow. O Governo do Reino Unido avisa que mover os submarinos pode
ser muito dispendioso e complexo. Este pode ser um dos maiores entraves nas
negociações entre os dois países.
O que indicam as sondagens?
Segundo o "site" de sondagens YouGov, “a menos que algo
dramático aconteça nos próximos três dias, a vitória do ‘não’ é o resultado
mais provável”.
Nas primeiras sondagens em Agosto a diferença entre as duas posições
eram claras: apenas 39% dos escoceses queriam a independência. A tendência nos
seguintes dias começou a inverter-se até que no dia 6 de Setembro, já eram mais
os cidadãos que admitiam votar “sim”, apesar da margem ser mínima (apenas 2%).
Nas últimas estatísticas a intenção de voto fixou-se nos 52% para o “não” e 48%
nos “sim” (texto da jornalista Inês Alberti, da Rádio Renascença com a devida
vénia)