A escassez ou ausência de eventos internacionais e as limitações dos voos reduzem drasticamente as taxas de ocupação das unidades hoteleiras. A recuperação do sector hoteleiro será muito lenta, eis o principal receio dos grupos que operam no sector. Para compensarem as épocas altas muito fracas, os grupos hoteleiros preveem que não vão poder contar com os grandes eventos internacionais que davam ocupação às épocas baixas, nem com o habitual fluxo do turismo de negócios.
Sobretudo, porque o turismo profissional – os
congressos, as palestras, as reuniões de especialistas, os grandes encontros
internacionais de associações e clubes –, bem como o turismo de negócios,
provavelmente não voltarão a retomar as rotinas que tiveram antes da pandemia
de Covid-19.
Senão, vejamos: quatro em cada dez viajantes de negócios europeus admitem que vão viajar menos após as restrições de viagens da Covid-19 serem totalmente levantadas, de acordo com um inquérito divulgado pela Reuters.
O recurso às videoconferências ficou consolidado
durante os 15 meses que já decorreram em ambiente de pandemia. Além da
alteração de hábitos, também as medidas de redução da poluição e o cada vez
maior número de metas com zero emissões, promovidas pelas preocupações com as
alterações climáticas, também vão restringir os voos de negócios e as
deslocações profissionais a médio e longo prazo, o que se confirma pelo inquérito
YouGov realizado para a Fundação Climática Europeia, com 40% dos 1.400
inquiridos a afirmarem que vão realizar menos viagens de avião em trabalho
quando todas as restrições forem levantadas.
Só 38% pretendem retomar voos com as mesmas
frequências de voos. Há 13% que dizem que pretendem voar mais, enquanto 5% dos
inquiridos pretendem deixar de voar em trabalho.
Com a massificação da utilização de plataformas
eletrónicas como o Zoom e o Teams, entre março de 2020 e março de 2021, prevê,
a nível internacional, que 42% dos viajantes de negócios vão viajar menos.
Estas alterações serão sentidas significativamente pelos principais grupos da
hotelaria.
A consultora internacional em serviços imobiliários,
Cushman & Wakefield, no seu relatório “Marketbeat Portugal Primavera 2021”,
sobre a hotelaria, refere que este sector “procurou reinventar-se, adaptando
serviços às atuais circunstâncias”. Mesmo assim, as dormidas em hotéis
diminuíram 65% em 2020, limitadas a 20,6 milhões de dormidas, ou cerca de oito
milhões de hóspedes.
A oferta hoteleira passou a estar mais dedicada à procura interna, responsável por 53% das dormidas em 2020, bastante mais que os 30% registados em 2019. Os destinos também mudaram, preferindo agora o Alentejo e a região do Centro. Os proveitos totais da hotelaria caíram 67% o Revenue per Available Room (RevPAR) fixa-se nos 56%, o que significa que a taxa de ocupação por quarto é cerca de um quarto dos níveis praticados antes da pandemia. Mesmo durante o verão passado, os hotéis ficaram-se por uma ocupação de 53,6% (em agosto), refere a consultora imobiliária. A crise estendeu-se ao Alojamento Local (AL), implicando o reposicionamento do AL para o arrendamento de longa duração.
Neste contexto, em vez de ter caído, a oferta hoteleira aumentou. Entraram em funcionamento 46 novas unidades com 2.400 quartos, tendo 36% dos quartos a classificação de quatro estrelas. A consultora destaca os casos do “Four Points by Sheraton Sesimbra”, de quatro estrelas, o “B&B Hotel Lisboa Aeroporto”, de três estrelas, e o “Neya Porto Hotel”, de 4 estrelas.
Estas foram as exceções, porque a maioria dos projetos
em curso nos grupos hoteleiros foram adiados – a generalidade eram projetos
cuja abertura apontava para 2023 –, admitindo-se que esses investimentos serão
revistos em baixa, sem previsão para datas de conclusão de obras e respetivas
aberturas. Além de que não serão mantidos mais que 207 unidades com um total de
17 mil quartos, prevê a consultora, fixando 4.000 quartos em Lisboa, 2.200
quartos no Porto, 1.150 quartos em Vila Nova de Gaia e 1.050 quartos em Cascais
(Jornal Economico, texto do jornalista João Palma Ferreira)
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