domingo, setembro 20, 2020

Suécia: Sem confinamento nem máscaras. No país da polémica estratégia contra a Covid-19 não há vislumbres da segunda vaga

A Suécia é agora dos países europeus a ter menos casos diários e menos mortes. O seu estratega mantém que tinha razão: “Fazer quarentena é como tentar matar uma mosca com um martelo”. O país nórdico que, desde o início de pandemia, recusou alinhar num confinamento total para depois voltar a abrir portas, também está a registar valores da Covid-19 semelhantes aos de março. Mas no bom sentido. Ou seja, contas feitas esta terça-feira, 15, a média semanal está nos 108 casos. Mais: as aulas começaram há um mês e nem por isso houve um aumento generalizado de contágios. Daí que o seu estratega, o controverso epidemiologista Anders Tegnell, e a sua equipa, refiram agora estar a colher os resultados do investimento feito, em contramão ao do resto do continente, onde os casos continuam a subir, apregoando-se que isto é só o início da segunda vaga.  

Os números oficiais dizem ainda que a média de novos casos na Suécia, em 14 dias, é de 22,2 por cem mil habitantes, valor muito abaixo da maioria do resto da Europa. Portugal, por exemplo, regista uma média de 64,1. E por lá, as mortes também estão agora perto do nível zero. Daí que o governo sueco esteja a anunciar o levantamento, no final do mês, das restrições nos lares de idosos. E demonstre publicamente não recear a tão temida segunda vaga.  
“No final, veremos que diferença fará ter uma estratégia que seja mais sustentável, em vez de uma abordagem em que se fecha tudo, depois abre-se e fecha-se uma e outra vez”, salientou, para depois considerar, prossegue Tegnell, citado pelo The Financial Times, que “fazer quarentena é como tentar matar uma mosca com um martelo.”  
Isto para dizer que nem confinamentos gerais nem sequer o uso de máscara é recomendado na Suécia. Além disso, também nem agora nem nos piores momentos da pandemia no país – que chegou a ter das maiores taxas de mortalidade da Europa – foram fechados quaisquer estabelecimentos ou serviços. Muito criticado internacionalmente, Anders Tegnell volta a defender a estratégia que definiu – apenas continha alguns erros. E a dúvida metódica já se repercute um pouco por todo o lado: será que, afinal, a sua estratégia está a resultar?  
“A doença vai estar connosco muito tempo e temos de aprender a viver com ela” 
Anders Tegnell, outrora um nome que não se podia sequer invocar, tem-se mesmo desdobrado em entrevistas a assinalar “as virtudes e sustentabilidade da estratégia adotada”. À France 24, disse mesmo: “Não defendo proibições ou obrigatoriedades em saúde pública. Temos que dar responsabilidade às pessoas.”   
Foi a contar com isso que, no pico da pandemia e ao contrário de muitos outros países, a Suécia fechou escolas para os maiores de 16 anos, mas manteve abertas as dos alunos mais novos. Também proibiu as reuniões de mais de 50 pessoas e disse aos maiores de 70 anos – e em grupos de risco – para se autoisolarem. Quanto aos outros 10 milhões, pediu-lhes apenas para aproveitarem ao máximo o ar livre e trabalharem de casa sempre que possível. Acusado de estar a tentar alcançar uma rápida imunidade de grupo, Tegnell retorquiu sempre que não – embora, depois, tenha questionado se valeria a pena tentar estancar a propagação para tentar evitar “apenas 10 por cento da mortalidade dos mais velhos”.  
Agora, que o governo anunciou que deverá levantar a proibição de visitas aos lares já em outubro, o aplauso à estratégia do país chegou também por Johan Carlson, o diretor geral da agência de saúde pública local. “O objetivo da nossa abordagem é que as pessoas compreendam a necessidade de seguir as recomendações e orientações que existem”, disse. ” E que não existem outros truques antes de medidas médicas, principalmente vacinas, ficarem disponíveis. A população sueca tem levado isto a sério”.  Ao The Guardian, Anders garante ainda que nada disto significa que se está a baixar a guarda. “A doença não desapareceu. Vai estar connosco durante muito tempo. O que temos de fazer é aprender a viver com ela” (Visão)

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