Não me repugna nada que PSD-M e CDS-M articulem
estratégias e procurem um discurso uniformizado nestes tempos de crise
pandémica - que pelos vistos se vai prolongar
de forma condicionadora - que serão cada vez mais exigentes, que exigem
a mobilização de tudo o que seja possível e esteja disponível, que desafia hoje
mais do que nunca as elites e a classe política, e que colocam em cima da mesa
novos procedimentos, novas formas de pensar, novas atitudes, um repensar do
próprio funcionamento e definição de prioridades da sociedade de consumo que
nos caracteriza, etc. Sobretudo depois de Janeiro de 2021. As recentes jornadas
parlamentares regionais da coligação no poder, foram disso exemplo, embora eu
continue a pensar - sempre pensei isso e não mudo de opinião - que esse tipo de
iniciativa mais virada para a mediatização raramente deixa coisas úteis para o
que se seguirá. O impacto acaba por ser efémero, até por que é o dia-a-dia que
dita as regras na política, modela discursos e estabelece procedimentos na
governação.
Mas numa altura em que se percebeu que o PS-M, a
terminar mais um congresso, finalmente percebeu (?) a importância decisiva de
um dos itens mais essenciais em qualquer estratégia vencedora e de poder - a
consolidação da representação política no universo autárquico, desde a
freguesia ao concelho - parece-me que, teimosamente, tanto PSD-M e CDS-M
insistem, de forma algo sadomasoquista em ir por caminhos opostos, que os
conduzem ao abismo da derrota. Tudo por causa de teimosias idiotas, de vaidades
e ambições pessoais descabidas, de intoleráveis espertezas saloias de quem se
acha uma sumidade "política", mas que na realidade só quer vender uma
imagem desgastada e se comporta qual vendedor de aspiradores ou sabonetes
milagreiros.
Preocupa-me uma quase óbvia falta de racionalidade
num diálogo que não pode andar ao sabor do vento, uma intolerável falta de
habilidade analítica e de antecipação dos factos, e a falta de posse de uma
máquina calculadora eficaz - que impeça que insistam continuadamente em cometer
erros graves que podem ter repercussões devastadoras na concretização dessa
lógica de que a consolidação do poder começa por se construir de baixo para
cima e não sentados e acomodados em gabinetes de pretensos iluminados e
pensadores rascas de política.
A ideia de consolidação política da coligação de
centro-direita na Madeira (da parte que me tocas sempre me considerei ideologicamente
posicionado no centro-esquerda) passa pelo que acontecer em 2021. E há gente
que ou não percebeu isso ou masturba-se mentalmente a brincar com coisas
demasiado sérias para estarem entregues a gente sem nível.
Os persistentes erros do PSD-M (o mesmo sucedeu em 2017, depois do
episódio de 2013 que teve o seu cerne na desvalorização de factos que eram
demasiado importantes mas aos quais não lhes foi dado o relevo adequado, apesar
de todos os alertas) na abordagem mais recente da questão autárquica, não pode
continuar. A primeira atitude é a de aceitar e entender que a lógica unitária,
que durante anos, mais ou menos, prevaleceu, deixou de fazer sentido. As
pessoas não aceitam ser penalizadas pelas suas escolhas e não aceitam que as
autarquias sejam relegadas para uma posição secundária de desvalorização ou de
neutralização de competências e direitos.
A lógica de uma abordagem ao processo autárquico tem
de ser diferente num partido que tem responsabilidades executivas nos
municípios ou nas freguesias, ou se está na oposição. O PSD-M perdeu 7 das 11
Câmaras Municipais e várias dezenas de Juntas de Freguesia. Ou seja, cada caso
e um caso. Desde logo no discurso, passando pelo processo de escolha, sem
pressões ou condicionalismos locais, dos melhores para cada combate eleitoral,
pela estratégia de campanha, pelo menos o verão de 2021 e pelos programas e
definição de prioridades.
Não é necessário referir, acho eu, que as absurdas e
patéticas guerras partidárias laranjas na Ponta do Sol, não interessam nada aos
eleitores do PSD-M no Porto Santo, preocupados com a pressão da incerteza
quanto ao futuro. Não há dúvidas, acho eu, que os eleitores do PSD-M em Machico
esperam não ser tratados da mesma forma que os eleitores da Calheta até porque
o PSD-M exibe estatutos diferenciados nestes concelhos. Se acetaria como normal
a discussão de eventuais coligações, onde PSD-M e CDS-M estão na oposição, e
caso fosse esse o sentimento das estruturas partidárias locais – que precisam
também de ter na política uma independência que não existe hoje em dia, e isso
é indesmentível - o pior que pode acontecer é transformar esse debate numa
imposição generalizada que vai destruir tudo, esquecendo que há eleitores nos
dois partidos que votamos seus partidos mas que recusam fazê-lo se se tratar de
coligações. O que se passou no Funchal em 2013 e 2017 com o PS e Cafofo,
fenómeno que foi acelerado pelo PSD-M, tratou-se de uma excepção - recordo que
em Câmara de Lobos a coligação do PS bateu de frente e nem foi repetida em
2017!
É este manual de procedimentos e inventariação dos
factos, do pulsar das pessoas, que é preciso, já era em 2017 mas como nada foi
feito então, acabou por acontecer o que se viu. Há que ter uma cartilha
diferenciadora porque cada caso é um caso, repito e insisto nesta ideia, e a
RAM está muito longe de garantir que coligações partidárias assentes meramente
na lógica perigosa e errada da matemática eleitoral, sejam eficazes ou que
garantam de imediato o somatório de votos que cada um dos protagonistas dessas
coligações obteve antes, separadamente.
O que eu recomendo ao PSD-M (porque nada tenho a ver
com o CDS-M), repetindo o que já antes escrevi sobre isso, e agora impulsionado
pela lógica saída do Congresso do PS - que provavelmente fará das autárquicas
de 2021 as eleições da "sua vida", uma espécie de trampolim para 2023
- é que seja criada uma estrutura interna que longe dos condicionalismos das nomenclaturas
e dos vícios dos partidos, vá para o terreno, discreta mas eficazmente,
contactando as pessoas , identificando frustrações e esperanças, conhecendo
pessoas respeitadas no meio - o PSD-M tem cada vez menos espaços de diálogo com
os eleitores... - elaborando prioridades, etc. Uma estrutura interna que
dependa do Presidente do PSD-M mas que tenha condições de trabalhar. Uma
estrutura que coordene daqui para a frente a própria estratégia política dos
eleitos do PSD-M na oposição - que por vezes me parecem deixados ao
"abandono", sem que sejam devidamente acompanhados numa lógica
partidária que tem de ter objectivos claros. Se isto não for feito temo muito
sinceramente pelo que possa acontecer em 2021 e que PSD-M e CDS-M percebam que
em vez de terem deixado as estruturas locais decidirem sobre o que fazer,
tenham cometido o erro clamoroso de imporem coligações só porque a lógica
matemática das sedes no Funchal desvalorizou outros itens bem mais importantes
que influenciam os resultados dessas lógicas (?) matemáticas que em política
valem zero. Falo da desvalorização das pessoas e das suas opiniões, de quem
vive todos os dias em cada freguesia ou concelho. Acresce que quando falamos de
autarquias e de representatividade eleitoral autárquica no caso do RAM, nunca
poderemos colocar num mesmo patamar de análise PSD-M e CDS-M, por muito que
alguns achem que devido a circunstâncias específicas podem distorcer a realidade
(LFM)
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