segunda-feira, junho 04, 2018

Opinião: Justa e devida. Ponto!

A Assembleia Legislativa da Madeira atribuiu a Alberto João Jardim da mais alta condecoração regional, antes atribuída aos ex-presidentes do Governo Regional e da Assembleia Regional, Ornelas Camacho e Emanuel Rodrigues, ao ex-Bispo do Funchal, D. Francisco Santana e a Cristiano Ronaldo.
Pelo que li, os momentos de contestação parlamentar à decisão, sobretudo da parte de alguns sectores minoritários da oposição - lembro que a proposta foi do Governo Regional - estiveram relacionados com a atitude política que o ex-Presidente do Governo Regional da Madeira assumiu relativamente ao parlamento regional - reconheço que os executivos de Jardim, por instruções políticas concretas, nunca se revelaram muito disponíveis para estar presentes no plenário do parlamento com a regularidade pretendida, situação que se agravou devido ao facto de todos os debates ali realizados depois de 2007, acabarem marcados, regra geral, por episódios verdadeiramente absurdos e por inenarráveis declarações proferidas num contexto parlamentar que se radicalizou, e muito - e pelo facto de ter proferido num determinado momento a tal frase assassina, marcada por adjectivação excessiva independentemente de não ter pretendido generalizar a todos os partidos e deputados as acusações feitas. 

É certo que foi errado confundir a árvore com a floresta, mas o parlamento - na decisão de atribuição desta condecoração - não estava a julgar ajustes de contas pessoais, arrufos partidários, manipulação de factos, valorização de situações acessórias em detrimento do essencial, acentuar episódios em concreto ou posturas políticas em relação ao parlamento regional, etc, mas todo um percurso de mais de 40 anos de actividade política e governativa, a mudança operada numa das regiões mais pobres e atrasadas do país e da Europa, a obra realizada, as conquistas e as vitórias mas também os erros ou os insucessos - porque também os ouve - o braço-de-ferro com Lisboa, o ano decisivo de 2011 onde de facto tudo começou a ruir, etc. Mais do que o protagonista há que discutir o legado e a pessoa, saber se ela foi importante ou não p+ara um a região e um povo que esmagadoramente esteve sempre com ele, nas urnas.
Acho que PS e CDS - estranhamente o PCP optou por outros caminhos, quando supostamente seria de supor que optasse por outra ponderação - que protagonizaram debates duros com Jardim, que foram protagonistas de divergências bem agrestes acabaram por dar um exemplo, ao não confundirem alhos com bugalhos.
Obviamente que o político madeirense cometeu excessos, diria mesmo erros - particularmente no discurso e quando a pressão se acentuou em 2011 - acabando por cair na ofensa pessoal fácil, misturando nalguns casos, de forma intolerável e injusta, adversários políticos com a família destes, algo que não me recordo eles tenham feito com  ele próprio, por exemplo tentando explicar os motivos de uma crónica agressividade contra os ingleses que marcou o seu mandato governativo ou uma acentuada contundência no debate que mantinha com o CDS local. Mas deixemos isso porque não importa nada neste contexto
Se a ideia é atribuir a condecoração a personalidades que lutaram empenhadamente pela Madeira, que estiveram ao seu serviço e do seu povo, então Alberto João Jardim indiscutivelmente merece a condecoração, pelo que não reconheço, neste momento - em que não se debate política, e quando estão passados 4 anos depois da retirada de Jardim da política activa - qualquer acuidade ou validade aos argumentos e críticas de alguns personagens, muitos deles nem foram protagonistas de um tempo que foi indiscutivelmente o mais importante e mais decisivo da politica regional e da Madeira. Muitos menos aqueles que de forma arrogante tentam convencer a opinião pública, sem sucesso, que são eles os detentores da legitimidade, da verdade, da justiça ou candidatos a profetas da moralidade ética quando basta lembrar, no caso de alguns deles, o respectivo percurso político pessoal em todas as suas vertentes que pouco ou nada têm a ver com esta condecoração em concreto.Veremos 2019 o que reservará a essa gente...
Outras situações, repito, revelam, mais do que questões políticas de fundo, o emergir de divergências pessoais que podendo fazer sentido, e nalguns casos farão - até porque reconheço que alguns excessos cometidos acabaram por gerar ofensas e que alguns deputados estarão hoje, por causa disso, totalmente distantes de tal decisão - não se podem misturar momentos e tempos diferentes e que nada têm a ver com tudo isso.
Nem sempre toda a gente concordou com o que ele fez ou disse. Sei que João Jardim nunca deu grande importância a isso já que se mostrou sempre uma pessoa dura e de convições, é certo que reconhecidamente algo teimoso nas suas opções e decisões (que raramente negociava com terceiros), pouco dado a mudanças que gerassem dúvidas ou hesitações. Dizem que Alberto João Jardim tinha um feitio muito próprio, difícil, determinado, politicamente pouco dado, ou quase nada dado, a cedências na arena pública da política regional e nacional, onde manteve um discurso contundente«, conflituoso, exigente, reclamador, mas coerente, assente nos mesmos pilares essenciais de sempre, na defesa da Autonomia e da Madeira, muitas vezes agreste com os adversários (que por vezes se queixavam da violência do discurso, o que explica algumas tomadas de posição na contestação à atribuição da medalha), um discurso deliberadamente bipolarizador, etc. Mas a verdade é que o seu percurso político e eleitoral dispensa comentários adicionais e retira credibilidade aos que contestam a decisão da atribuição desta condecoração (alguns nem protagonistas políticos foram no seu tempo e dificilmente estarão habilitados a comparar a Madeira de 1974 com a Madeira dos nossos dias).
Se esta norma vigorasse - passar a reconhecer mérito das pessoas em função do feitio e das declarações e não em função da obra realizada e do empenho demonstrado em prol de uma causa, de um programa ou de um projecto colectivo, então Portugal provavelmente deixaria de reconhecer publicamente e agraciar alguém.
Por exemplo, seria legítimo retirar mérito a Costa na governação que tem realizado só porque foi destacado ministro do "socratismo" e dos governos de Sócrates que acabaram por ser a causa próxima e mais determinante da quase falência do país e da vinda da troika para Portugal? Seria isso justo? Obviamente que não.
Trabalhar com Alberto João não era fácil, ele não alimentava conflitos por muito teimoso que às vezes fosse nas suas convicções e decisões, apesar da desconfiança que o caracterizava. Queria saber tudo, queria saber como estavam as coisas, era pouco tolerante com atrasos ou falhanços, traçava rumos, fazia opções - não partilhava com muita gente o processo de decisão -  reunia equipas, calendarizava procedimentos e ponha no terreno.
Acho que Miguel Albuquerque disse tudo quando falou hoje que a atribuição da condecoração a Alberto João Jardim foi um "exercício da gratidão" de uma Região e da maioria do seu povo que não confunde o que não pode nem deve ser confundido (LFM)

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