Vamos lá a
ver se nos entendemos porque não gosto nem de deixar pontas soltas, nem recebo
lições seja de quem for. Muito menos na política e na coerência que a política
exige.
1. Sou um
parlamentarista a 1.000%, defendo o parlamento como epicentro da democracia.
2. A ALRAM
é o epicentro da política madeirense e mesmo quando foi secundarizado, por
razões que não vou agora transportar para aqui - e as culpas disso não são
imputáveis a apenas um dos lados da bipolarização muito regional que incomodou
muita gente (a mim nada) menos a um dos seus protagonistas, já que culpados
houve e muitos e em todos os quadrantes - nunca deixei de pensar como continuo
a pensar, lamentando tudo o que se passou em seu desabono.
3. Já
agora, fui um crítico confesso e assumido da palhaçada populista promovida por
alguns iluminados da política doméstica a propósito do financiamento dos
partidos. Alguns iluminados chegaram a preconizar até remédios ainda piores. Eu
até percebo as intenções subjacentes a tudo isso, mas não vou dizer agora,
porque teria de explicar ligações, dependências face a grupos empresariais,
etc. Portanto, considero patético o que foi feito aos partidos na Madeira sem
que lhes fosse dado tempo para que encontrassem soluções que não colocassem em
perigo o cumprimento das suas obrigações e acções constitucionais. Hoje temos
partidos longe das pessoas, cada vez mais distantes da sociedade, a braço com
abstenções vergonhosas que questionam a representatividade dos eleitos,
partidos sem recursos para fazerem face às actividades que deviam estar
obrigados a desenvolver. Tal como temos grupinhos insignificantes que se
limitam a sobreviver para arrecadarem dinheiro que pague pelo menos as despesas
essenciais, grupinhos esses que nunca saem da toca que não contactam com as
pessoas no terreno, que vivem para os jornais e televisões, que não tem
militantes, nem organismos dirigentes constituídos, nem estruturas estatutários
funcionais, etc. Obviamente que esses grupinhos não precisam de recursos porque
valem o que valem, apenas uma parcela residual e diminuta. E lamento que os
partidos com maiores responsabilidades estejam cada vez mais fora do terreno
porque ficaram privados de recursos essenciais para desenvolverem actividades
que, repito, deviam ser obrigados a concretizar fora dos períodos eleitorais.
4. Quanto
ao que escrevi sobre as TAP, retomando o assunto, e uma iniciativa do PSD de
constituição de uma comissão parlamentar de inquérito, mantenho tudo o que
escrevi. Não retiro uma vírgula que seja. Se as pessoas entendem de forma
deficiente, lamento mas o problema é delas. Se são tendenciosas, então o
problema transcende-me.
5. Os
madeirenses sabem o que se passa com a TAP, não precisam dos partidos para lhes
explicarem o que se passa. Aliás, basta olhar para o aumento da abstenção -
recorde em 2015 - e para os últimos resultados eleitorais de certos partidos
para se perceber que os eleitores prescindem dos moralismos e de populismos
oportunistas de alguns políticos, muito menos se assentes apenas numa guerra
surda por disputas mediáticas que tem a comunicação social como epicentro dos
objectivos.
6. A
proposta de constituição de comissões de inquérito é um direito legítimo dos
partidos políticos regionais, que nem discuto. Nada disso está em causa nem e
alguma vez coloquei isso em causa. Podemos questionar sim, e com legitimidade,
a eficácia em termos concretos, dessas comissões de inquérito que regra geral
funcionam em função de jogos partidários e cujas conclusões estão sempre longe
- como voltarão a estar - de consensos. Aliás no caso da ALRAM, e nesta
Legislatura, quantas das comissões de inquérito apresentaram conclusões
totalmente consensuais? Isso ajuda alguma coisa, contribui para a felicidade
das pessoas, ajuda a esclarecer a verdade?
7. O que eu
questionei - e mantenho - é se no caso da TAP, uma comissão de inquérito com
uma amplitude limitada, a funcionar no quadro da ALRAM apenas (estamos a falar
de uma empresa pública nacional com capitais maioritariamente detidos pelo
Estado mas que é sui generis no seu funcionamento e na farsa da reversão da
privatização estranha e apressada promovida por Passos e Portas, e na qual a
RAM não tem qualquer intervenção, ao contrário do que acontece com a SATA nos
Açores e com o Governo Regional local, a ser constituída a 30 dias das férias
parlamentares, será uma iniciativa eficaz. Os autores podem dizer que sim e
respeito isso porque cada um tem a liberdade de pensar o que entender. Eu tenho
experiência diária de parlamento, do seu funcionamento, se quiserem das
catacumbas ao topo da pirâmide de quase 30 anos, quer como jornalista, quer
depois dentro da instituição. Foi por isso que questionei - e não percebo
certas irritações... - se a iniciativa não poderia ter sido feita em primeiro
lugar na Assembleia da República, por proposta dos deputados do PSD-M junto do
seu grupo parlamentar. Porquê? Porque se o problema é o mediatismo
provavelmente em São Bento ele seria maior e ultrapassaria a banalização de um
debate regional que poderá correr o risco de não trazer nada de novo aos
cidadãos, porque quanto a nada resolver de concreto, disso tenho a certeza
quase absoluta.
8. Alias,
quando sugeri que fossem os deputados do PSD-M a desencadearem essa proposta
ela tinha propósitos políticos que nem foram entendidos. Não tenho culpa.
Em primeiro
lugar, porque ajudaria a perceber o posicionamento do PSD nacional nesta
matéria, sobre o qual tenho muitas dúvidas, dados os interesses que se cruzam a
começar pelos nomeados para funções na própria TAP, relações privilegiadas
entre a companhia e o aeroporto do Porto e as operações aéreas com o norte,
etc.
Em segundo
lugar, porque era um desafio à geringonça que se recusassem perderiam o pio aos
olhos dos cidadãos e facilmente seriam acusados de não estarem interessados em
debater no local próprio um problema que
diz respeito ao país e penaliza fortemente uma região em concreto, região
insular e turística.
9. Digam-me
uma coisa sff: algum deputado regional sabe quantos voos para a Madeira foram
cancelados em 2017 pela TAP e demais operadores privados low cost e quantos
passageiros foram afectados? Quantos desses cancelamentos estiveram associados
as condições meteorológicas limitativas da operacionalidade no aeroporto
madeirense e quantas se ficou a dever a razões operacionais que nunca são
devidamente desvendadas? O mesmo pergunto relativamente a 2018. E acrescento:
quais as responsabilidades que o hiper-congestionado aeroporto de Lisboa tem
tido nos atrasos de muitos voos de Lisboa para o Funchal sem que, neste caso, a
responsabilidade possa ser imputada às companhias aéreas? Por que razão, caso
tenham esses dados, esses valores não foram revelados no parlamento, de forma
clara e verdadeira, não com generalizações ou chavões conhecidos e pouco
credíveis?
10. Acham
que precisamos lembrar o que foi a farsa política da reversão da privatização e
o que isso significou em termos de garantia de poder ao PS? Essa reversão teve
ou não a ver com pressões sindicais e com a necessidade de ser mantido um pé
influente, pelo PCP e Bloco, na empresa? Já leram com olhos de ver, o relatório
divulgado pelo Tribunal de Contas sobre a "Auditoria à reprivatização e
recompra da TAP"? Acham que é preciso lembrar que a TAP teve 100 milhões
de euros de lucros em 2017 e que o novo presidente da empresa - mais um
brasileiro - já defendeu que para a TAP sobreviver precisa de multiplicar esse
lucro por sete vezes?
Fiquemos
por aqui (LFM)
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