sexta-feira, junho 24, 2016

Referendo inglês: Um soco no estômago...

Falhei totalmente os meus prognósticos sobre os resultados do referendo inglês apesar de saber que a Inglaterra não pode ser utilizada para qualquer estudo ou projecção que se pretenda fazer cruzando resultados oficiais com evolução dessas sondagens.
Foi uma surpresa, quer pelos resultados - mais de 1.3 milhões de votos de diferença a favor da saída - quer pelos níveis de participação eleitoral, cerca de 72,2% contrastando com os  66,1% registados nas eleições gerais de 2015. Mas uma surpresa também agradável, com tudo o que isso implica. Só com uma situação destas, que ameaça alastrar-se a outros países, a Europa pode mudar. Estamos fartos daqueles bandalhos, em Portugal e na Europa, que acham que a União é omnipresente, que se julgam donos da vontade europeia dos portugueses, que falam em nosso nome sem estarem mandatos. Não esqueçamos que Portugal foi integrado na CEE sem que o povo se tivesse pronunciado sobre essa opção.


A Europa está mergulhada há anos numa crise profunda a qual explica a necessidade urgente de acabarmos com uns patifes que andam em Bruxelas a destruir o que foi construído desde 1957. Os esgotos de Bruxelas, particularmente o burocratas de merda que em Bruxelas precisam de ser corridos à paulada, julgavam que ganhariam alguma coisa com a vitória do "sim". Bem vistas as coisas os ingleses abalaram esse eixo patético e medíocre, Paris-Berlim constituído por uma corja de idiotas que se julgam donos de uma Europa da qual são na realidade os seus coveiros.
Verdade seja dita que os ingleses nunca estiveram na União Europeia de uma forma séria. Não integra a zona euro porque queriam defender a libra. Além disso Londres liderada  a Commonwealth que foi determinante para que a libra se mantivesse em detrimento do euro. Não integraram o espaço Schengen porque na altura estavam ainda a braços com o terrorismo na Irlanda do Norte que entretanto desapareceu, mas Londres não alterou a sua posição.
Contudo nada de confusões: os motivos que estiveram na origem da vitória da saída da Inglaterra da UE, marcados por algum  egoísmo nacionalista, por muita xenofobia, por mentiras e distorções, e por uma forte corrente anti-emigratória, pouco ou nada têm a ver com os motivos que noutros países europeus alimentam a contestação, a crítica e a oposição à política europeia.
Hoje é mais do que evidente que a Europa não sabe o que fazer nem como fazer, depois do referendo. Tal como em Inglaterra ninguém quer fazer nada, já que Cameron anunciou a saída em Outubro o que significa que o país vai parar até então.
Uma coisa é certa: tenho a certeza que a Europa tudo fará para castigar os ingleses nas negociações de saída. A Europa nunca aceitará que as negociações com Londres se revelem um sucesso, porque a ideia de que "o crime compensa" iria acelerar a exigência de referendos semelhantes, quer na Holanda, quer nos países escandinavos, quer nalgumas regiões europeias apostadas em fenómenos nacionalistas, quer na Itália ou mesmo na França. Veremos o que vai acontecer. Aliás o futuro da Escócia e da Irlanda do Norte, que votaram pela continuidade na UE, o que for feito pela Europa a estas duas regiões - o Pais de Gales votou pela saída - pode indirectamente por beneficiar outras regiões europeias, incluindo a Madeira e os Açores. Isto apesar da diferente dimensão demográfica e económica.
Mais do que isso temos uma Europa com 30 milhões de desempregados, com 15 a 18 milhões de euros na pobreza, com 10 milhões de europeus a roçar a pobreza extrema, temos o fosso entre ricos e pobres a aumentar todos os anos na Europa, contrastando com  a crise, temos a crise dos refugiados que promete ainda mais problemas, temos as exigências do referendo a se alastrarem a outros países, temos os movimento de extrema-direita a ganharem visibilidade tal como algumas regiões europeias mais organizadas, enfim, temos uma Europa numa crise profunda e generalizado.
O desafio que deixo é este: que apliquem a merda das sanções a Portugal e Espanha por causa das tais 2 décimas do défice orçamental em 2015 e depois veremos o que vai acontecer. O desafio está reforçadamente lançado. Só se este povo não tiver dignidade, só se este povo for a porcaria do costume em momentos como este é que não reagiremos em defesa da nossa identidade nacional e partimos para a eventual realização de um referendo - vinculativo ou não, pouco importa - sobre o que pensem e querem os Portugueses desta Europa mal cheirosa e idiota em que navegamos sem destino (LFM)

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