quarta-feira, abril 15, 2015

Opinião: "POLÉMICA ABSURDA"




De repente - e confesso a minha estranheza - a posse do novo Governo Regional fica marcadas pela polémica (?) instalada à volta dos diretores regionais, numa discussão que considero imprópria e absurda. E que eu acho ter fácil resolução.
Vamos tentar explicar aos leitores o que eu penso que terá acontecido.
Quando o Governo Regional ainda em funções elaborou a proposta de orçamento regional para 2015 - para se prevenir para a eventualidade de alguns diretores regionais terminarem os seus mandatos ao longo deste ano - e incluiu uma norma que prorroga automaticamente o exercício da função até final do ano corrente, fê-lo com base numa lógica óbvia e consensual.
Qual foi afinal a lógica de tudo isto? A que me parecia ter sido a mais correta num determinado momento, mas que deixou de o ser quando os acontecimentos acabaram por ser outros e ter uma cronologia e calendário político e eleitoral diferente do previsto.
Como as eleições regionais em situações normais teriam lugar em finais de Setembro ou início de Outubro, e considerado a demora de todo o processo burocrático que se segue a qualquer ato eleitoral, parecia fazer sentido que o orçamento de estado contivesse essa norma para evitar instabilidade funcional nos diferentes departamentos governamentais só porque um diretor regional terminava o mandato e obrigava a uma renomeação a escassos meses do final da Legislatura.
Sucede que as eleições regionais foram a 29 de Março, e delas resultou haver um novo Presidente do Governo, novos secretários regionais (todos) e estruturas orgânicas diferentes da anterior, como aliás á normal que suceda.
Pergunto, sem colocar em causa as pessoas e a sua disponibilidade e competência: qual a justificação ética e institucional, no caso de haver diretores regionais que sejam também funcionários públicos, em manterem-se em funções nestas circunstâncias, obstaculizando a que o novo executivo possa ter a estrutura orgânica pensada por quem de direito? Nenhuma. Acho que será um ato provocatório, politicamente intolerável, que os diretores regionais em funções não coloquem todos os lugares à disposição (para não dizer apresentem a demissão) logo após a posse do novo executivo regional, segunda-feira à tarde. Em situações normais até poderiam deveriam fazê-lo antes, junto de quem os escolheu e nomeou. Mas admito que o façam depois da posse do novo governo.
Qual a lógica de termos um novo governo recém-empossado, com novos secretários regionais e nova orgânica que está obrigado a manter em funções até final do ano diretores regionais escolhidos e nomeados por membros de um governo cessante, impedindo que o novo executivo tenha a orgânica que pensou e os novos secretários regionais façam as suas escolhas? Como é que os diretores regionais em causa, repito, sem ofensa ou perspetiva crítica para os próprios que bem vistas as coisas acabam por ser os últimos culpados desta trapalhada e situação insólita, se sentem continuando agarrados a funções muitas vezes em departamentos governamentais que até podem ser extintos, mudar de designação ou de departamento tutelar e em trabalharem com pessoas que não as escolheram nem as nomearam? Acresce que alguns diretores regionais, por transitarem para outras funções, até abandonaram os cargos, o que complica ainda mais uma situação que não pode ser mais tolerada por mais tempo. Alguém tem que tomar a iniciativa devida em nome da ética, do rigor e da deontologia institucional. Eu, garanto-vos firmemente, colocaria o lugar à disposição de quem me nomeou até a manhã segunda-feira, quando o atual governo cessa o seu mandato.
Penso que Miguel Albuquerque percebeu que poderia ter resolvido parcialmente este problema optando pelas subsecretarias regionais, que seriam sempre cargos políticos e que não enfrentariam os problemas que agora se colocam aos atuais diretores regionais. Mas percebeu também que não resolveria o problema no seu todo. Acho igualmente que tanto o novo Presidente do Governo como os novos secretários regionais enfrentam um incómodo pessoal em radicalizarem posições, preferindo esperar que da parte de quem não pode passar ao lado desta desnecessária e absurda polémica, tem que tomar, deve tomar, a decisão que lhe compete.
Quem são afinal os diretores regionais para que as pessoas percebam? Regra geral são técnicos, com formação superior e currículo profissional - a legislação em vigor pelo menos obriga a isso - que em vez de serem nomeados como aconteceu até hoje, terão que submeter-se a concurso, isto se a legislação nacional tiver que ser aplicada na Madeira. Porque o governo de coligação de Passos e do CDS ao mesmo tempo que fabrica estas leis restritivas e exigentes, procede a nomeações que não respeitam as normas que impuseram a si próprios. Alegadamente pretende-se despartidarizar a administração pública em determinados patamares da sua estrutura orgânica
Como se tratam basicamente de técnicos os diretores regionais - basicamente responsáveis pelos vários subdepartamentos existentes em cada uma das secretarias regionais, respondendo diretamente perante o secretário regional da tutela - são pessoas que beneficiam, e bem, de proteção da sua carreira evitando que sejam prejudicados por decisões arbitrárias que penalizem. Se não cumprirem o mandato de 3 anos terão que ser ressarcidos disso. Garante-se deste modo uma estabilidade de carreira também o respeito por uma carreira profissional que é eminentemente técnica e não política e que não pode ficar dependente dos bons ou maus humores da tutela.
Independentemente do que Miguel Albuquerque - e aceito os argumentos que exibiu sobre esta matéria - conseguir em termos de flexibilidade na aplicação da legislação nas Regiões Autónomas (lembro que o Tribunal de Contas ja se pronunciou, e bem, em acórdãos recentes, sobre este tema, chamando a atenção dos responsáveis para a legislação vigente), seria recomendável que os diretores regionais em funções tomassem segunda-feira a decisão coletiva de colocarem os lugares à disposição dos novos membros do governo evitando o protelamento de um episódio que não abona em nada em seu favor. Eticamente cumpria-se uma exigência de rigor, institucionalmente tomava-se a decisão mais correta e politicamente ultrapassávamos um problema que nunca deveria ter existido. Reconheço que ninguém está obrigado a fazê-lo, mas se se verificar algum radicalismo, se persistirem alguns diretores regionais no cargo à espera que sejam demitidos - e recordo que alguns dos diretores regionais em funções até serão reconduzidos no novo governo nos mesmos sectores ou noutros, conforme notícias que têm sido publicadas – podemos quiçá colocar outras dispensáveis interrogações sobre o que porventura estará subjacente a este processo (LFM/JM)