Segundo o Dinheiro Vivo, "há uma certeza quase absoluta entre as autoridades europeias que lideram
a união bancária, como a Comissão Europeia e o Banco Central Europeu. Os
sistemas bancários nacionais têm de EMAGRECER e tem de haver uma concentração
(via fusões) dos bancos. A banca que opera em Portugal está, claramente, sobredimensionada de
acordo com vários indicadores físicos e financeiros, observam altos
responsáveis ouvidos pelo DINHEIRO VIVO. Numa comparação internacional, a banca
comercial portuguesa parece mesmo das mais sobredimensionadas. Primeiro, porque o negócio deixou de ser rendível como antigamente,
acabou a era do crédito abundante que permitiu aos bancos expandirem-se no
terreno, vendendo hipotecas e empréstimos ao consumo. Depois porque não há
procura nem perspetivas de procura que justifiquem grandes redes bancárias como
as que existem, é também essa a ideia que corre. Além disso, na era da internet, uma presença física densa da banca
parece ser crescentemente anacrónica, observou um dirigente envolvido no
projeto da união bancária europeia. A vontade de fusão dos dois maiores bancos privados portugueses (BCP e
BPI), liderada por um acionista comum, liderado pela empresária angolana Isabel
dos Santos, acontece neste contexto macrofinanceiro em que a ideia dominante é
que tem de haver concentrações bancárias por toda a Europa e restante mundo
desenvolvido. Assim deve ser, dizem, para que o sistema fique mais forte contra crises
futuras, poder ser capaz de cumprir com as novas exigências dos reguladores e
supervisores em termos de capital e de competir com outros gigantes de fora da
Europa.
Mais desemprego e bancos demasiado grandes?
Como é que um sistema feito de grandes bancos se compagina com o risco
de haver instituições demasiado grandes para falir é a ideia que os altos
responsáveis tentam a todo o custo evitar, pelo menos por enquanto. A questão
dos despedimentos e desemprego que pode ser gerado nestes movimentos de
consolidação também dificilmente surgem aparece na equação. Em todo o caso, na perspetiva do tamanho relativo das instituições face
à economia real, Portugal aparece, sem dúvida, na linha da frente dos países em
termos mundiais. É um dos territórios onde a inevitabilidade de fusões e
concentrações parece ser maior. Segundo o Fundo Monetário Internacional, Portugal tem dos sistemas
bancários mais desconexos da sua realidade. Tem redes bancárias demasiado
grandes face à população e à dimensão geográfica, o mesmo acontecendo com a
profusão de caixas automáticas (ATM). No crédito concedido ao sector privado,
continua a ser um dos maiores do mundo em percentagem do PIB, apesar da forte
contração dos últimos anos.
Em cada esquina um banco
Senão vejamos. Segundo o estudo Financial Access Survey 2014, que faz o
levantamento mundial (junto de 177 países) sobre a presença dos bancos e do
acesso das pessoas aos serviços bancários no ano de 2013, Portugal é,
claramente, um líder em balcões, em caixas multibanco, seja por habitante, seja
em termos geográficos. Portugal é o décimo país do Mundo no ranking das agências bancárias, com
58 balcões por 100 mil adultos. Na última década, nunca saiu do top 10. San
Marino lidera com 212 agências por 100 mil adultos, logo seguido da Colômbia
com 147. Em termos físicos, a banca portuguesa tem a quarta rede de balcões com
mais alcance da zona euro, sendo superado apenas pelo Luxemburgo, Espanha e
Itália. Por esta ordem. Quando o critério é o tamanho do território, Portugal também está muito
bem servido. Em 177 países, é o 23º no número de agências de bancos comerciais,
com 57 por mil km2. E é o sétimo na zona euro. Macau, um território muito
pequeno, lidera com 6643 balcões por mil km2, logo seguido de Hong Kong. Na
zona euro, Malta e Luxemburgo são os países com maior densidade de agências no
terreno: 431 e 141, respetivamente.
A disseminação das caixas ATM é uma realidade em Portugal. O país
aparece assim em terceiro lugar a nível mundial, com 181 multibancos por 100
mil habitantes adultos, logo a seguir ao Canadá (223) e a Macau (221).
O fim da era do crédito abundante
A par dos indicadores físicos, também é possível perceber que a economia
portuguesa assenta demasiado em crédito ao sector privado. Dados da Fitch para 2014, hoje divulgados, indicam que num grupo de 112
países Portugal é o 12º maior em crédito bancário concedido ao sector privado
(famílias e empresas), com o equivalente a 165,4% do PIB. A maior parte deste
endividamento está garantido por casas, já que o grosso do mercado é
hipotecário. Os dois países (sector privado) mais alavancados ou endividados do mundo
continuam a ser Chipre (269,7%) e San Marino (265,8% do PIB). Ainda assim, os recursos bancários canalizados para a concessão de
crédito estão a cair em Portugal e assim deverá continuar a acontecer nos
próximos anos. Sucessivas avaliações recentes de Bruxelas e do FMI ao ajustamento
português insistem que a economia tem de "desalavancar" dos sectores
tradicionais para que os bancos possam financiar novos projetos. Ninguém diz como é possível fazer isto sem gerar mais uma onda de
destruição na economia e no MERCADO DE TRABALHO, tendo em conta a importância
que os negócios tradicionais e as empresas mais pequenas (as que mais estão
dependentes do crédito bancário) representam quase 90% do EMPREGO nacional. Uma coisa é certa. Dentro da Comissão, do FMI e do BCE há a certeza de
que a forma de fazer banca tem de mudar radicalmente até para reduzir custos.
Menos presença física, menos pessoas ao balcão, mais informática e mais uso das
novas tecnologias (banca online).