Gosto,
confesso-o, de debates parlamentares. Sigo-os há muitos anos, desde os
primeiros passos da Assembleia Constituinte em 1975, de onde saiu a nossa
primeira Constituição, passando pelos primeiros dias da Assembleia Legislativa
da Madeira. Gosto de debates parlamentares vivos, descomplexados, intensos,
participados, esclarecedores, mas cujos protagonistas se respeitem mutuamente
nas diferenças, impondo a tal "linha vermelha" da tolerância. Gosto
de debates parlamentares agressivos, no bom sentido, que levem a troca de
ideias e de argumentos ao extremo, sem hesitações, sem hipocrisias, sem
idiotices. Não mais do que isso.
Tenho
a sensação que tal como Sócrates que "embrulhava", é esse o termo, os
seus opositores em todos os debates parlamentares - salvo uma excepção (Louça)
- ao ponto de não sabermos se para ela era mais vantajoso haver ou não haver
debates parlamentares, porque deles raramente saía por cima, que Passos Coelho
consegue "embrulhar" Seguro e condiciona o impacto da pressão da
esquerda. Desde logo porque o líder do PS fez parte - é bom que as pessoas não
se esqueçam - do sistema socialista que depois de seis anos no poder faliu o
país, foi obrigado a solicitar ajuda externa e negociou o programa de
ajustamento com a troika que introduziu a austeridade e todos estes cortes a
que temos assistido.
Tenho
para mim que, ao contrário do que acontecia com Sócrates - para quem na
realidade apenas Francisco Louça, entretanto já abandonou o parlamento, o
enfrentava com sucesso, politica e mediaticamente falando (porque os debates
parlamentares passam também, e muito, pela projeção dada pela comunicação
social - estes debates parlamentares não ajudam em nada Seguro.
O
PS beneficia eleitoralmente dos erros da governação de Lisboa e dos
tiros-nos-pés que sistematicamente os dois partidos da coligação vão dando. O
PS aproveita-se eleitoralmente dos destroços espalhados pela coligação. Os
socialistas limitam-se a apanhá-los de vassoura e pá sem precisarem sequer de
grandes esforços.
Aliás,
parece-me que os dois partidos se divertem com isso, esquecendo-se o PSD tinha
na sua base eleitoral e social de apoio uma vasta parcela de funcionários
públicos. Outra parcela importante eram os reformados, os eleitores mais
idosos, que dividem o seu apoio pelos chamados partidos do arco da governação,
alternando as suas opções de voto em função das conjunturas.
Os
jovens na sua esmagadora maioria não se revêm nestes partidos, afastam-se da
política, recusam nela participar, nem seque participam, lamentavelmente, nas
eleições. Distanciam-se, são mais pragmáticos, preocupam-se como seu futuro
incerto, temem a inevitabilidade da emigração nojenta estimulada por este poder
bandalho que ainda temos, dão prioridade à sua formação, preferem procurar
eventuais saídas profissionais do que andam a lidar com a política.
Por
isso temo que PSD e CDS - mais penalizados porque estão no poder, mas se em vez
de eles lá estivesse o PS, a situação seria rigorosamente a mesma, já que não
acredito que os socialistas fizessem coisas muito diferentes das que têm vindo
a ser e impostas aos cidadãos e à sociedade em geral - já nas próximas
europeias venham a confrontar-se com uma copiosa derrota, ao ponto de terem que
lutar pela sua própria sobrevivência política e eleitoral.
Aliás
acredito que uma nova formação política que viesse agora ocupar a área política
preenchida pelo CDS e pelo PSD não teria grandes dificuldades em ter sucesso.
Veja-se o que se passou, ainda que a uma escala pequena, com os movimentos de
cidadãos independentes nestas eleições autárquicas que não deixam de ser um
sintoma para o futuro. No dia em que, logisticamente, tiverem condições, que
ainda não existem, os movimentos de cidadãos podem candidatar-se prescindindo
da almofada partidária. Alguns tiveram sucesso inesperado. O que se passou no
Porto é disso exemplo mais significativo.
Não
duvido que a multiplicação de situações semelhantes à do Porto, constituirá uma
ameaça aos partidos e não tardará muito que a sociedade se mobilize para
reivindicar outras possibilidades cujas portas estão neste momento
completamente fechadas e blindadas. E tudo isto porquê? Por culpa dos partidos
que deixaram de corresponder, porque traíram as pessoas, mentiram, deturparam,
enganaram, desiludiram, transformaram-se em quintas fechadas a renovações de
quadros e ao debate aberto, etc. Para ficarmos apenas por aqui...
II – Conheço o deputado Rui Barreto do parlamento regional.
Construímos, mesmo nas nossas diferenças, uma relação de respeito e de amizade,
que não se pode confundir com politiquice. Manifesto-lhe a minha total
solidariedade lamentando que as coisas se tenham passado desta forma,
independentemente de ter violado os estatutos do seu partido por ocasião da
votação do OE-2013, cumprindo as decisões da estrutura regional do CDS regional
e mantendo a coerência perante os eleitores. Barreto foi reconhecidamente uma
mais-valia eleitoral para o seu partido – associando-se deste modo à vitória
pessoal de Teófilo Cunha em Santana - ao ser eleito para a presidência da
Assembleia Municipal. Quanto ao CDS nacional, o que me ocorre dizer é que
estamos perante mais um exemplo de como as teorias e os comportamentos
fascizantes aos poucos se estão a abocanhar dos dois partidos que fazem parte
das coligação nacional, destruindo-os ideologicamente e enquanto organizações
respeitáveis aos olhos da sociedade.