quarta-feira, outubro 17, 2012

Hospital de Faro propõe "subsídio de sazonalidade" para atrair médicos

Segundo o Publico, num texto do jornsaolista Idálio Revez, “a administração do Hospital de Faro propôs ao Ministério da Saúde a atribuição de um "subsídio de sazonalidade" para atrair médicos que queiram fazer carreira no Algarve. O sol e a praia não são suficientes para atrair quadros superiores. Das 112 vagas postas a concurso, para médicos recém-formados, apenas 34 foram preenchidas. No final de Outubro abre um novo concurso. Os médicos que pretendam beneficiar do subsídio, explica o presidente do Hospital de Faro, Pedro Nunes, terão que prescindir de gozar férias entre 15 de Junho e 15 de Setembro, e dispor de capacidade para responder às "exigências específicas" de uma região que mais do que triplica a população no período de Verão. Um médico especialista aufere por mês pouco mais de dois mil euros brutos. "Um valor baixo", reconhece o administrador, manifestando a "esperança" de que a sugestão que fez ao ministro da Saúde, Paulo Macedo, possa ter acolhimento, mas só depois de definida a grelha salarial a ser ultimada entre sindicatos e o Governo. A possibilidade de ser atribuído um subsídio para os clínicos dispostos a abandonar a sua "zona de conforto" está na ordem do dia. "A questão foi posta em cima da mesa, mas ainda estamos a discutir coisas básicas", explicou Maria Pilar Vicente, da comissão executiva da FNAM-Federação Nacional dos Médicos, reconhecendo que o Algarve é uma das regiões carenciadas na oferta de cuidados de saúde no sector publico. "O Hospital de Faro é muito pesado, tem muito trabalho, por causa da população flutuante", diz.
O Departamento de Psiquiatria do Hospital de Faro, exemplifica, "tem colegas exaustos, sem capacidade para responder ao peso brutal do trabalho que lhes é solicitado". A área da Psiquiatria "reflecte" os problemas económicos e sociais na região, onde se regista a maior taxa de desemprego a nível nacional. Sobre as condições de trabalho dos médicos, a sindicalista adiantou que foi apresentada uma queixa à Entidade Regional de Saúde, principalmente pelos problemas na área da saúde geral e mental. Das 112 vagas abertas para o Hospital de Faro aparecerem 76 interessados, mas como concorreram a mais do que um sítio, muitos optam por ficar mais próximo do local onde têm família. O Hospital do Barlavento, em Portimão, abriu quatro vagas (duas de Anatomia Patológica, uma de Cardiologia e outra de Venereologia), mas também ficou deserto. A falta de médicos, defende Pilar Vicente, poderia ser resolvida com o "subsídio de sazonalidade", acrescentando que a FNAM já propôs que houvesse um "incentivo durante os primeiros cinco anos". De resto, a medida existe para quem esteja interessado em ir trabalhar para os Açores, e deveria ser alargado para quem está disposto a ir para a periferia. "Em determinada altura, as câmaras ofereciam alojamento aos jovens médicos", exemplifica.
"O Algarve tem de ser atractivo do ponto de vista económico", nota o administrador do Hospital de Faro. O ordenado líquido de um jovem médico traduz-se num "salário líquido de mil e tal euros". Para quem tem de pagar casa e aluguer de infantário, frisa, "o dinheiro não chega". Por outro lado, o mercado sem fronteiras alarga os horizontes profissionais: "Para alguém vir para o Algarve só em circunstâncias especiais. Como por exemplo um casal de médicos, em que ambos tenham lugar na região, o que não é fácil".
Ligação à universidade
A abertura recente de novas clínicas no Algarve não vai suprir a falta de médicos, nem substituir a função do hospital público, capaz de responder às exigências de uma região que tem no turismo o seu principal suporte económico. "O hospital público tem de ter uma missão que o privado nunca conseguirá alcançar - fazer aquilo que é muito complicado e caro", considera Pedro Nunes, que foi bastonário da Ordem dos Médicos. O Algarve possui um comunidade de estrangeiros residentes - alguns com seguros de saúde e capacidade económica acima da média -, mas a generalidade da população sofre com o facto de viver numa região que, embora sendo cosmopolita, se encontra numa zona periférica, em relação a Lisboa. Das especialidades que o Hospital de Faro mais necessita, a Obstetrícia é aquela que surge no topo da tabela. "Temos um quadro médico muito envelhecido e as pessoas estão a fazer um grande esforço. É impossível continuar a pedir mais. Temos pessoas com mais de 60 anos a fazer bancos nocturnos", explicou Pedro Nunes. Se a própria directora do serviço não fizesse bancos, reconhece o administrador, "fechava a maternidade", com uma média de três mil partos por ano. O concurso para oito vagas não teve interessados.Segue-se na falta de especialista a Anestesia (colocando em causa todas as outras especialidades), mas também a Oftalmologia. "O hospital público tem de existir, ser auto-suficiente e de alta qualidade", afirma o presidente do Hospital de Faro, na defesa do Serviço Nacional de Saúde. Unidades de saúde públicas e privadas, salienta, "têm de viver separadas, mas apoiarem-se mutuamente". Da Universidade do Algarve vão sair este ano os primeiros alunos formados em Medicina. Mas esta faculdade, esclarece Pedro Nunes, "está virada para a medicina geral e familiar". Não colocando em causa essa vertente, o administrador sublinha que o futuro passa por direccionar esta faculdade "mais para as necessidades do hospital". Para que isso aconteça, adianta estar "a trabalhar com o reitor no sentido de articular o hospital com a faculdade". O Algarve continua com falta de médicos, mas há boas perspectivas: "Dentro de dois a três anos vamos ter jovens médicos que cheguem". O subsídio de sazonalidade que foi proposto, enfatiza, destina-se também a "atrair pessoas com diferenciação profissional que possam ao mesmo tempo ter carreira académica".
O sol também tem um valor
O presidente da Associação Oncológica do Algarve lança um argumento a favor do Algarve. O cirurgião, reformado há sete anos, escolheu o Sul por causa do clima. Chegado de Angola, em 1975, trabalhou no hospital de Portalegre, mas só aguentou três anos. A mulher, professora, tinha saudades do calor. Onde é que existe um clima mais próximo de África? "O Algarve tem um clima fantástico", nota Santos Pereira, lembrando que esta "é uma região com qualidade de vida". No Hospital de Faro foi dos que lutou para a criação de condições para combater o cancro da mama. Em 1994 surgiu a Associação Oncológica - instituição que, com o hospital e a Administração Regional de Saúde, faz o rastreio do cancro da mama na região. "Ainda temos um longo caminho a percorrer nesta área", observa, lembrando que há falta de radiologistas. Santos Pereira continua a trabalhar, dando consultas da mama à terça-feira, como voluntário. Outro dos clínicos que faz da profissão um sacerdócio é o presidente da Câmara de Alcoutim, Francisco Amaral, que um dia por semana é voluntário nas urgências no Hospital de Faro.
Governo retira helicóptero do INEM ao Algarve
Os helicópteros ao serviço do INEM em Macedo de Cavaleiros, Aguiar da Beira e Loulé vão ser retirados destas localidades, passando a actuar num novo quadro de cobertura da emergência médica a nível nacional. A população de Macedo de Cavaleiros já se manifestou contra e amanhã deverá ser conhecida a reacção da Amal-Comunidade Intermunicipal do Algarve. O presidente do INEM, Miguel Soares de Oliveira, justificou à Lusa que a partilha de helicópteros entre o Ministério da Administração Interna e o INEM representa uma poupança de 2,5 milhões de euros por ano. Dos cinco helicópteros sedeados no Porto, Lisboa, Macedo de Cavaleiros, Aguiar da Beira e Loulé, ficarão apenas três, baseados em Vila Real, e o que se encontra em Loulé é transferido para Beja. O presidente da Câmara de Loulé, Seruca Emídio, lembra que esta decisão, no caso do Algarve, "só representa prejuízos, em todos os sentidos". O helicóptero baseado em Loulé regista 87% da sua actividade na região e apenas 11% no Baixo Alentejo. Por isso, acusa, a decisão "não terá a ver com redução de custos e racionalização dos meios". Num quadro em que à falta de médicos se junta o adiamento da construção do novo hospital central, e agora a retirada do helicóptero, "o Algarve fica à beira do colapso no que diz respeito aos cuidados de saúde". O autarca do PSD mostra-se indignado: "Quem fez as contas ou tomou a decisão política, ignora as repercussões que isto irá ter junto da população e na imagem do país no estrangeiro - estamos a falar da principal região turística de Portugal", adverte”