A amnésia alemã: as contradições de Berlim na crise do euro
Li no Dinheiro Vivo que "nos últimos dois anos, a Alemanha tem sido a maior opositora aos programas de compra de dívida soberana por parte do Banco Central Europeu, argumentando que eles ameaçam a independência do BCE e arriscam uma subida descontrolada da inflação. Receios que denunciam alguma perda de memória. É que basta recuar 37 anos, para encontrar registos de compra de títulos de dívida pública pelo Bundesbank, o banco central alemão. O último sinal de oposição de Berlim foi revelado pelo presidente do BCE na quinta-feira passada, quando Mario Draghi - numa anormal quebra de protocolo - disse que a Alemanha foi o único país a mostrar-se contra a preparação de mais um programa de compra de obrigações, que seria desenhado com o objetivo de aliviar a pressão sobre as taxas de juro de Espanha e Itália. Mas nem sempre a posição alemã foi tão dogmática. Em 1975, a economia da República Federal da Alemanha enfrentava uma forte recessão, com uma contração de 3,4% do PIB e uma taxa inflação de 6%. Segundo um relatório do Deutsche Bank, citado pela Bloomberg, entre julho e outubro desse ano, o Bundesbank comprou 7,7 mil milhões de marcos de dívida pública alemã (3,9 mil milhões de euros). Porquê? Para evitar "um aumento provável e economicamente indesejável das taxas de juro efetivas". Faz-lhe lembrar alguma coisa? O argumento para intervir no mercado em 1975 parece muito semelhante ao que tem sido utilizado para defender a atual atuação do BCE. Com uma diferença: a inflação está muito longe dos níveis da década de 70. Os últimos dados apontam para uma taxa de 2,4% na zona euro e 2% na Alemanha. O que significa que os riscos de descontrolo dos preços são bastante mais moderados Ou seja, até numa conjuntura económica mais arriscada, o banco central alemão optou por comprar obrigações do tesouro, mesmo sob pena de provocar uma subida ainda maior da inflação. Este é o mesmo Bundesbank que tem feito de tudo para o BCE não atue no mercado de dívida europeu. O presidente, Jens Weidmann, está a seguir a mesma linha defendida pelo seu antecessor, Axel Weber, que se demitiu em protesto contra o programa de compra de dívida iniciado em maio de 2010. O economista-chefe do BCE, Juergen Stark, afastou-se pelas mesma razões. "Somos o maior e mais importante banco central do Eurosistema e temos uma maior influência que muitos outros bancos do Eurosistema", afirmou Weidmann, numa entrevista no início do mês, acrescentando que a independência do BCE "obriga-o a respeitar e não ultrapassar o seu próprio mandato". O braço de ferro entre Draghi e Weidmann deverá continuar nas próximas semanas, período em que o BCE irá desenhar um novo mecanismo de compra de dívida soberana”.
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