segunda-feira, junho 06, 2011

Os oito desafios do próximo responsável das Finanças

"Aplicar o plano da ‘troika’ será apenas um dos maiores quebra-cabeças do próximo responsável pelas contas do país. Desengane-se quem acreditar que o trabalho do próximo ministro das Finanças está simplificado pelo acordo com a ‘troika'. Quem assumir as rédeas das contas públicas portuguesas terá de prestar contas aos contribuintes, aos seus pares no Governo, às três instituições internacionais que desbloquearam o empréstimo para evitar a bancarrota, e à oposição parlamentar. Aqui ficam os desafios mais urgentes
1 - Aplicar o plano da ‘troika' à risca

Pelo menos, a missão é clara. Há que executar o plano negociado com a ‘troika' à risca. Fugir do guião ou improvisar será pouco aconselhado ao próximo ministro das Finanças, sob pena de o financiamento prometido pelo FMI e pela Europa não chegar. E tentar gerir Portugal sem o empréstimo de 78 mil milhões de euros que está acordado seria tudo, menos fácil. Sem se querer alargar sobre a questão, Luís Campos e Cunha frisou a aplicação do memorando de entendimento como a primeira tarefa titânica. "Será difícil", garantiu.

2 - Enfrentar a contestação social e mobilizar o país

O futuro responsável pelas Finanças não poderá falhar na aplicação das medidas de austeridade, mas o mais certo é ter sempre alguém contra si. Corte de pensões, congelamento de salários na Função Pública, subida de impostos, redução de verbas para várias empresas e organismos públicos são apenas algumas das tarefas. A julgar pelo exemplo da Grécia - que vai já no quinto plano de austeridade, exactamente um por cada tranche de empréstimo internacional libertada - as manifestações e a contestação social serão fortes. "Ter um ministro das Finanças muito bom tecnicamente, mas que não sabe nada da componente humana e social seria terrível", defende Alberto Soares, economista e professor na Universidade Católica. "Terá de ser capaz de criar empatia, vai ter de cortar [despesas] e explicar bem", acrescenta.

3 - Encontrar soluções para os desvios

Porque um plano é isso mesmo, os desvios a meio do caminho são quase inevitáveis. E o próximo ministro das Finanças terá de saber lidar com isso. Uma medida que devolva um resultado abaixo do esperado terá de ser revista ou complementada com outra. Será preciso criatividade e jogo de cintura para apresentar um plano B que seja acolhido pelos cidadãos, mas também pelo resto do Governo e pela própria ‘troika'.

4 - Acompanhar as avaliações trimestrais

De três em três meses a economia, a acção do Governo e os resultados do país serão avaliados pelos peritos do FMI, Comissão Europeia e BCE. Cabe ao ministro das Finanças acompanhar este exame e garantir que o país tem uma boa nota, valorizando os bons resultados que tenham sido obtidos.

5 - Acalmar os mercados e falar para fora

Apesar do empréstimo internacional que foi conseguido, Portugal continuará a financiar-se pontualmente nos mercados. Por isso, a comunicação do ministro das Finanças terá de ser gerida de tal forma que não fragilize a imagem do país perante outros eventuais investidores.

6 - Encontrar espaço para estimular a economia

"Importa saber se o próximo ministro das Finanças será alguém que saberá gerir o problema da dívida e do financiamento, para além do que está no memorando", diz José Reis, professor catedrático na Universidade de Coimbra. "Ou seja, saber se vai, ou não, aniquilar a economia", frisa, acrescentando que há que encontrar margem para "servir a economia". E neste aspecto, será chamado a ponderar questões como "os ‘spreads' que a banca cobra para financiar as empresas", por exemplo.

7 - Negociar com a oposição parlamentar

O próximo ministro das Finanças não poderá esquecer o papel da oposição parlamentar. O plano duro que tem pela frente para implementar, será caminho fértil para a oposição capitalizar o apoio da população e dar voz à contestação social.

8 - Ter uma voz activa no caminho da Europa

"Não deverá ser apenas um advogado de Portugal na Europa, deverá ser um advogado da própria Europa", defende José Reis. Para o economista, o ministro das Finanças tem de "ter voz" no Ecofin e também será responsável por "resgatar a Europa" da crise que enfrenta(texto da jornalista do Económico, Margarida Peixoto, com a devida vénia)

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