domingo, agosto 06, 2017

Risco de bancarrota dispara na Venezuela

O preço de segurar a dívida do país governado por Maduro atingiu esta semana um máximo de 10 anos. Desde o referendo organizado pela oposição, o custo dos denominados cds subiu 56%. O custo de segurar a dívida venezuelana a cinco anos disparou 56% desde 17 de julho e atingiu um pico de 6419 pontos base a 3 de agosto, um máximo, de pelo menos, 10 anos.
O custo avalia-se pelo preço dos credit default swaps (cds, no acrónimo em inglês), um derivado financeiro.
Aquele preço é um indicador do risco de bancarrota do país latino-americano presidido por Nicolás Maduro e deriva do curso recente da grave crise política no país. Poderá agravar-se em função do desenrolar interno do confronto entre Presidência e Oposição e do reforço das sanções dos Estados Unidos, o principal parceiro comercial.

Em termos comparativos, o custo está num nível 10 vezes superior ao relativo à dívida grega, a de risco mais elevado na União Europeia. A Venezuela lidera, a grande distância, o ‘clube’ mundial de alto risco de incumprimento, onde tem, este ano, por colegas a Ucrânia, Nigéria, Líbano, Argentina, Tunísia e Egito, por ordem decrescente.
A 4 de agosto, o preço desceu para 5566,6 pontos base, um nível muito acima dos máximos em torno de 4500 pontos base durante o primeiro semestre deste ano. No final de 2016, o preço dos cds a 5 anos estava em 4110 pontos base e a 17 de julho passado registava 4166 pontos base.
Risco de default até ao verão de 2018 em 60%
A probabilidade implícita da Venezuela entrar em incumprimento nos próximos 12 meses é já superior a 60%, segundo a Bloomberg. A probabilidade de ocorrer um evento de crédito nos próximos cinco anos aumentou para 95%. Segundo alguns analistas, 2019 começa a desenhar-se como um ano crítico.
Recorde-se que, na véspera do anúncio a 9 de março de 2012 dos resultados da reestruturação da dívida pública grega, o preço dos cds chegou a um máximo de 34 mil pontos base, equivalendo a uma probabilidade de entrada em incumprimento de 98%. Durante aquele mês, o custo dos cds para Portugal registou valores acima de 1300 pontos base (atualmente está em 175).
A dívida venezuelana tem uma notação entre altamente especulativa (rating de B- atribuído pela Standard & Poor’s) até uma situação de risco substancial de default (ratings no nível do triplo C, atribuídos pela Moody’s e Fitch). Este níveis de notação são muito mais especulativos que o atribuído a Portugal.
Os cds são um derivado financeiro que segura a dívida, no caso dívida soberana. Cada 100 pontos base correspondem a um spread de 1% para o cds. Um preço de 6000 pontos base - como no caso venezuelano - significa que segurar 10 milhões de dólares custa 6 milhões por ano ao comprador do cds, ou seja, equivale a um spread de 60%.
O PIB da Venezuela foi estimado em 371 mil milhões de dólares em 2016 segundo os dados mais recentes do Banco Mundial. A dívida pública em percentagem do PIB é inferior a 60%, segundo estimativas do Fundo Monetário Internacional.
Verão quente
O curso mais recente da crise política venezuelana regista três datas marcantes. A 16 de julho realizou-se o referendo não oficial organizado pela Assembleia Nacional (o Parlamento, saído das eleições legislativas de dezembro de 2015, e dominado pela Oposição) que rejeitou a decisão de criação de uma Assembleia Constituinte lançada por Maduro. A 30 de julho ocorreram as eleições para a Constituinte organizadas pelo governo. A 2 de agosto, a Guarda Nacional ocupou o Palácio Federal Legislativo, onde funciona o Parlamento, com vista a instalar a nova Assembleia Constituinte (texto do jornalista do Expresso, JORGE NASCIMENTO RODRIGUES, com a devida vénia)

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