sexta-feira, maio 20, 2016

Venezuela: Portugueses fogem de um país onde alimentação passou a ser um luxo...

Vários empresários portugueses já começaram a sair do país, que tem falta de tudo: segurança, comida e até eletricidade. A Venezuela vive um dos piores momentos na história recente. Há até quem acredite que o país está perante um abismo difícil de ser contornado, que tem afetado cada vez mais os portugueses que viram neste destino uma possibilidade de mudar de vida. Com os supermercados vazios, cortes na eletricidade que duram várias horas e longas filas de racionamento, muitos são os portugueses que fogem da grave crise económica que o país atravessa. Os números oficiais mostram que existem atualmente cerca de 400 mil portugueses na Venezuela, dados que não contam com filhos e netos que fazem com que a comunidade lusa possa chegar perto de um milhão de pessoas. Sem conseguirem acreditar numa melhoria no futuro, muitos já deixaram o país e outros começaram a fazer planos para seguir o mesmo caminho. Colômbia, Panamá, Estados Unidos, Portugal e Espanha são os países que os empresários começam a procurar como alternativa a uma vida que deixaram de ter na Venezuela.

Apesar de existirem empresários que continuam a tentar resistir, somam-se cada vez mais casos em que as empresas fecharam as portas.  De acordo com o Conselho das Comunidades Portuguesas, na zona ocidental do país, o número de pedidos de passaporte que chegam aos conselheiros das comunidades portuguesas não para de aumentar.  Na maioria, os portugueses que escolheram a Venezuela vivem na capital do país e são empresários. Durante anos apostaram em setores como a hotelaria, a construção civil e a área alimentar. Mas com todos os problemas que o país atravessa, tudo tem estado a mudar de dia para dia. 
O setor da construção civil é, aliás, um dos que mais têm sentido o impacto da crise, que se tem agravado de dia para dia. De acordo com Albano Ribeiro, presidente do Sindicato da Construção Civil de Portugal, “temos lá muitas empresas de construção e milhares de trabalhadores” - o que faz com que a situação tenha de ser acompanhada de perto e com muita preocupação. 
Ao i, um dos responsáveis por uma página de Facebook de apoio aos portugueses que vivem na Venezuela - SOS Venezuela - explica que “há cada vez mais portugueses a deixar o país e que este vai ser o cenário mais vulgar nos próximos tempos”.  A página foi criada nesta rede social como forma de abrir um espaço de denúncia e de informação sobre o que se passa no país, “porque infelizmente a realidade é censurada de forma sucessiva e constante nos meios de comunicação locais, ora encerrando-os, ora bloqueando sites ou redes sociais, ora ameaçando os que tentem denunciar o que ao governo não interessa mostrar”.
Crise, desespero e medo A Venezuela entrou esta semana numa nova fase da crise, muito mais densa. Depois de violentas manifestações de uma população sem recursos, o governo de Maduro respondeu com uma ameaça: elevar o estado de emergência para o seu nível mais alto. Com receio do futuro e sem alternativa, muitos são os que têm estado a abandonar o país - situação que poderá a ter consequências graves também para Portugal.  De acordo com os dados do Instituto Nacional de Estatística (INE), a crise já começou a ter um grande impacto na balança comercial de bens de Portugal com a Venezuela. 
No início deste ano, as exportações caíram mais de 85%, número que ganha ainda mais importância tendo em conta que cerca de 200 empresas nacionais exportam para a Venezuela, principalmente as que estão mais ligadas ao setor da construção. Viver num país sem preços Um dos maiores fatores da instabilidade que quem mora na Venezuela sente é, além da falta de segurança, a flutuação de preços. Seja que produto for, nunca é possível saber quanto vai custar. 
De acordo com a Bloomberg, o governo está sem dólares em reserva e não autoriza qualquer troca de forma oficial, o que faz com que o mercado negro tenha ganho uma expressão sem precedentes: Em fevereiro, um dólar valia cerca de mil bolívares. De acordo com dados do Fundo Monetário Internacional (FMI), até ao final deste ano, o aumento dos preços pode chegar aos 700%. A Venezuela é, aliás, dos 190 países monitorizados pelo FMI, aquele que deverá enfrentar a pior recessão.
Há mesmo quem relate episódios de grande violência nos supermercados para se conseguir comprar os últimos produtos que existem nas prateleiras. E também aqui ganha expressão o recurso ao mercado negro, onde os produtos chegam a custar três e quatro vezes mais. Com uma agravante: também já começa a haver escassez de produtos neste mercado paralelo. Há mesmo produtos que simplesmente deixaram de existir nas ruas, nomeadamente o açúcar, o café ou o leite. Assim como comprar, por exemplo, um frango é acessível apenas para milionários, porque pode chegar a custar sete mil bolívares (Jornal I)

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