Penhora recente do fisco a receitas do jornal “é um novo obstáculo ao processamento de salários e aos pagamentos a fornecedores”, assume o diretor do “Económico” e da ETV. Raul Vaz diz estar “empenhado em solução para manter o projeto”, mas admite que “a situação é muito complicada”. O diretor do "Económico", Raul Vaz, admitiu esta quarta-feira numa reunião com os trabalhadores do jornal que a situação financeira do projeto agravou-se nos últimos dias, na sequência de uma penhora do fisco às receitas geradas pelo título. Mergulhado em dívidas a fornecedores e ao fisco, atrasos no pagamento de salários, défices sucessivos de tesouraria e com um passivo na ordem dos €30 milhões, o jornal vê-se agora confrontado com "um novo obstáculo", assume Raul Vaz ao Expresso.
"É verdade que falei com a redação porque a situação agravou-se e tornou-se muito complicada, para não dizer dramática. Mesmo que legítima, esta penhora do fisco foi inesperada e representa num novo obstáculo para o processamento de salários e pagamentos a fornecedores", admitiu Raul Vaz, antes de manifestar a esperança de que surja rapidamente "uma solução que permita manter a marca no mercado".
Confrontado com o interesse do empresário angolano Domingos Vunge em comprar o jornal, Raul Vaz reconheceu estar a par de "um processo de negociações" para a venda do "Económico" e da ETV, mas não aprofundou os contornos da operação. "Tenho estado empenhado e a dar um contributo para que se encontre uma alternativa que passe pela entrada de um novo investidor e de uma nova gestão", diz apenas.
A penhora do fisco veio entretanto acelerar a urgência dessa operação. As fontes ouvidas pelo Expresso assumem mesmo que, nesta fase, a questão já se coloca no plano de saber se o jornal consegue ou não resistir até que essa solução avance.
A venda do "Económico" - que chegou a suscitar nos últimos meses o interesse de Isabel dos Santos, da Newshold e da Global Media, dona do "DN", do "JN" e da TSF - tem neste momento apenas um candidato na corrida: o empresário angolano Domingos Vunge, ex-acionista da Score Media, proprietário da editora Media Rumo e que lançou este ano o semanário de economia "Mercado".
Mas os avanços do último mês nas negociações entre Vunge e o Haitong - ex-BESI, banco mandatado pela Ongoing para procurar investidores interessados nesta área de negócio - deu entretanto lugar a um impasse. Se por um lado já terá sido estabelecido um acordo para que o passivo de €30 milhões do Económico e da ETV fique na esfera da Ongoing, existem ainda divergências quanto aos moldes concretos em que o "Económico" transitará para o futuro proprietário. Segundo apurou o Expresso, em causa está o facto de a empresa que explora o "Económico" e e a ETV - a S.T. & S.F - ter um défice de tesouraria de mais de €200 mil por mês, um valor que Vunge pretenderá ver reduzido através de uma reestruturação prévia à compra da empresa. A isto acresce que durante o processo de negociações terão sido suscitadas dúvidas adicionais sobre alguns indicadores económicos do projeto, e que podem colocar em causa a sua sustentabilidade a médio prazo. As últimas contas conhecidas da S.T. & S.F. são de 2013, ano em que a empresa apresentava já um passivo na ordem dos €26 milhões e uma acentuada quebra de receitas. Depois disso, a situação financeira do projeto agravou-se e a tesouraria foi ainda prejudicada pela implosão do BES e pelos problemas da PT - duas das principais fontes de financiamento da Ongoing. A partir daí, os atrasos nos pagamentos aos fornecedores e no processamento dos salários dos trabalhadores e colaboradores tornaram-se uma constante. Nos últimos meses, de resto, tem sido frequente haver funcionários a receber o ordenado com mais de 15 dias de atraso. Agora, a penhora do fisco vem adensar ainda mais o cenário de insustentabilidade do projeto se a venda não for fechada a curto prazo. Em risco estão os postos de trabalho de cerca de 160 trabalhadores da S.T. & S.F. (Expresso)
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