terça-feira, abril 10, 2012

Banco Central Europeu empresta mais à banca e menos à economia

Segundo o jornalista do Jornal I, Bruno Faria Lopes, “os empréstimos do Banco Central Europeu (BCE) aos bancos portugueses subiram 18% em Março, para mais de 56 mil milhões de euros, o valor mais alto de sempre, mostram as estatísticas mensais do Banco de Portugal ontem publicadas. O recurso dos bancos à linha de financiamento do BCE não contraria os sinais de aperto grave no financiamento às empresas portuguesas, em média as mais endividadas do euro. O salto de Março – de mais de 40% quando comparado com Março de 2011 – revela que os bancos portugueses estão a tirar partido dos empréstimos de dinheiro fresco e barato do BCE. Depois de uma primeira linha de 500 mil milhões de euros, o banco central anunciou no final de Fevereiro o lançamento de uma segunda ronda, de igual montante, com prazo de pagamento dilatado (até três anos) e taxa de juro de 1%. O BES e o BCP são dois exemplos de instituições que recorreram à linha, em 5 e 7 mil milhões de euros respectivamente, segundo a agência Dow Jones. Os bancos portugueses começaram a recorrer com maior intensidade ao financiamento via BCE desde o início da crise da dívida soberana, em 2010. O agravamento dos problemas de financiamento da República afastou os bancos do mercado interbancário (onde conseguem financiamento junto de outros bancos para canalizarem para a economia). O valor recorde de Março mostra que a normalização do financiamento bancário em Portugal está ainda distante. A banca, sujeita a um programa de desendividamento e de reforço de capital, continua entretanto a reduzir o financiamento à economia. Dados de Fevereiro publicados também ontem pelo Banco de Portugal apontam para um decréscimo homólogo superior a 5% do crédito para a economia em Fevereiro. A montanha de crédito total concedido está a cair há vários meses, quer nos empréstimos às empresas (nove meses, com Janeiro e Fevereiro a registarem o maior ritmo de quebra), quer no crédito a particulares (nove meses). O ritmo de restrição do crédito às empresas é um dos factores que mais preocupam as instituições que compõem a troika – um esmagamento do crédito a empresas exportadoras e financeiramente equilibradas pode pôr em causa o único motor de crescimento da economia e comprometer o programa de ajustamento. Nos relatórios da terceira avaliação ao programa português publicados a semana passada, quer a Comissão Europeia quer o FMI mantiveram a interpretação de que não há indícios de esmagamento do crédito (“credit crunch”). O FMI, contudo, notou que nas pequenas e médias empresas há sinais de particular dificuldade em aceder a crédito. Num quadro de elevado endividamento das empresas portuguesas, o cenário deverá agravar-se, já que no relatório publicado a semana passada o FMI avança directrizes de controlo do crédito bancário no sentido de proibir os bancos de refinanciarem créditos cujo cumprimento esteja em dificuldades. Um dos riscos identificados pelo FMI para o programa português é a transferência do incumprimento dos privados para os bancos e, por sua vez, para os cofres do Estado (na assistência à banca). A subida do malparado para um novo recorde em Fevereiro (para 7,3% do crédito concedido ou 13,5 mil milhões de euros) confirma a existência da ameaça”.

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