terça-feira, julho 27, 2010

Jornalismo: conferência pede mais ética e reflexão

Li hoje no DN de Lisboa que "o jornalista colombiano Javier Darío Restrepo afirmou que "os jornalistas devem pensar sempre que o código de ética é como o código da polícia", ao intervir no fórum "Desafios éticos do jornalista de hoje", realizado em Madrid. Durante a sua conferência, promovida pela Associação de Jornalistas de Madrid, Javier Darío Restrepo considerou que "a personagem do jornalista vê a ética como um código e não como a maneira de encontrar as chaves para viver". Para Restrepo, que citou Immanuel Kant, entre os desafios colocados hoje aos comunicadores está o facto de que "ser ético" faz parte da natureza humana, razão pela qual é fundamental entender que "o legal nunca impulsiona a excelência". Classifica, assim, como um dos maiores erros em que os jornalistas caem o de considerar que a ética "restringe a sua liberdade". "O jornalista ético sabe que há notícias que não se devem dar. O correto é examinar a liberdade de fazer e escrever o que devo escrever sem que ninguém interfira. A ética não impõe leis", disse. Explicou ainda a necessidade de os jornalistas se interrogarem sobre a razão de fazerem jornalismo, qual é o seu objectivo, já que existe muito "ruído" quando se informa, uma vez que se apresenta uma quantidade de "factos que o público não assimila, havendo assim antes desinformação". "Há o costume, entre os jornalistas, de fazerem só notícias e a dificuldade está em pensar, não temos tempo para pensar", adiantou Restrepo. Durante a sua intervenção, disse ainda que o segundo desafio para o jornalista do século XXI é saber de que lado está, na hora de informar e usar as suas fontes, bem como o conhecimento que tem dos factos. "O jornalismo deve pensar-se como um exercício dirigido à sociedade, porque o público está condenado a receber informação medíocre. Na profissão é preciso ética, mas também, paixão, vida e dinamismo", especificou. Um dos factores que criticou e questionou durante a sua intervenção foi a burocratização do jornalismo, que provocou "uma indignação profissional". "O jornalismo está em crise. Os salários baixos dos jornalistas têm de acabar, porque muitos recebem salários de 300 dólares [230 euros] e, por isso, têm de multiplicar o seu engenho para obterem outras receitas e ficam à beira do suborno e da corrupção", assinalou. Para Restrepo, "as boas notícias têm um custo" e o problema que vê é o da luta entre os interesses comercial e o informativo, uma vez que "não temos uma imprensa digna, mas temos jornalistas livres". Identificou, assim, o terceiro desafio como sendo o da humanização da informação face à avalancha de novas tecnologias e à nova classe de jornalismo-cidadão, que utiliza vídeos, blogues e redes sociais para diminuir o papel do jornalista. "Seremos insubstituíveis na medida em que saibamos comunicar o que está a acontecer, não obter notícias instantâneas, mas reflectir e analisar, para guiar entre os milhares de factos que acontecem diariamente nesta sociedade confusa em que se vive hoje", concluiu Restrepo".

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