Há uma coisa que para mim é um dado adquirido: não tenho rigorosamente contas nenhumas a ajustar com o passado. Nem creio que o passado tenha contas a ajustar comigo. Quer isto dizer que, cumprido este percurso de mais de 50 anos, estamos, o passado e eu próprio, com as cotas acertadas, independentemente dos erros, que se cometem porque não somos perfeitos, ou das injustiças que a crueldade da vida muitas vezes nos prega. O segredo está (esteve) em saber dar a volta por cima, sem baixar os braços, sem derrotismos, sem se envergonhar seja do que for ou de quem for, protagonistas ou factos desse passado. Quando as pessoas continuam a viver com a consciência em permanente sobressalto, porque nunca conseguiram perdoar seu esse passado, recusando aceitá-lo tal como ele realmente foi, com todas as suas injustiças e frustrações, sucessos ou ilusões, alguns dele de envergonhado ou mesmo tentando apagá-lo à força de um percurso de vida individual que é inalterável, somos lamentavelmente confrontados com situações preocupantes e chocantes de imbecilidade, tantas vezes cruzadas com fúrias incontidas próprias de quem chega à conclusão, olhando-se ao espelho, de que não é nada, de nunca ter conquistado nada na vida, de nunca ter feito nada de útil, de se ter limitado a espalhar a sua imbecilidade, a roçar a anormalidade, julgando-se uma espécie de divinamente enviada pelos “deus”, para castigar os pobres dos humanos, na sua fragilidade pecadora, nas suas contradições e insuficiências.
Dele podíamos dizer tudo, falar de tudo, numa atitude que seria da nossa parte de desrespeito mesmo pelos que nem o nosso respeito já merecem. Esta poderia ser a história do L. ou do F. tal como poderia ser o segredo do E. ou do B. Ou até poderia ser uma história triste, do E. e do B. do tal (ou dos tais) de quem já ouviu tudo, até coisas que pelo respeito que qualquer pessoa tem que ser credora. Eu não entendo os que vivem hoje, em função da pena que possam suscitar noutros, ou que estes, no limite da tolerância elevada ao extremo máximo, por eles possam nutrir por eles, depois de sistematicamente terem desaproveitado todas as oportunidades que lhes foram dadas. Falhando sistematicamente, porque são incapazes e porque carregam consigo tudo o que caracteriza os falhados, eles “vingam-se”, olhando para o mundo que os rodeia, e do qual assumidamente se sentem seus marginais, com desdém, com a fúria de quem acha que só dizendo mal de quem pensa de forma diferente que a deles – se é que alguém porventura com eles possa líder um segundo que seja! – se realizam e de vingam de tudo o que os atrofia. Porque não foram capazes, não são capazes de olhar em frente, sem se preocuparem com o passado, sem terem medo da sua sombra. Qualquer insulto com origem nessa escória – porque são eles próprios que assim se comportam – é um elogio. Poderia dar-vos ter, quatro, cinco alternativas para melhor os definirem. Não o faço, porque teria que os identificar, algo que recuso fazê-lo, provavelmente porque em consciência, mesmo nunca com eles tendo tido qualquer relacionamento de amizade, apenas fugazes encontros com outros antigos profissionais e companheiros dele. Mas respeito-os mais do que eles se respeitam a si próprios. Prefiro alimentar a esperança, que não excluo possa transformar-se numa ilusão, que um dia sejam capazes de resolver o que têm que resolver, para que reencontrem o seu espaço, reencontrem o seu próprio lugar, se reencontrem consigo próprios, reencontrem a dignidade que perderam, factos que os levou, em desespero, a se refugiarem no anonimato triste e cobarde dos biltres que vomitam ódio indiscriminadamente, em todas as direcções, menos para os que por pena, e só por pena, ainda lhes deram emprego e uma oportunidade perdida. Uma coisa é certa, não tenho culpa, ninguém tem culpa, do que alimenta a história década pessoa, do seu percurso, dos factos ocorridos, uns mais marcantes que outros. Que mais posso dizer deles, dos protagonistas desta minha “história”? Nada. Reafirmar que sinto pena deles e que lamento que não sejam capazes, hoje por condicionalismos que já os transcendem, tal o estado de degradação em que aos poucos mergulham, de serem capazes de superar os obstáculos que os condicionam e tanto os frustram. Termino com um poema de Rudyard Kipling que é também um apelo à reflexão de todos, mas essencialmente deles:
Dele podíamos dizer tudo, falar de tudo, numa atitude que seria da nossa parte de desrespeito mesmo pelos que nem o nosso respeito já merecem. Esta poderia ser a história do L. ou do F. tal como poderia ser o segredo do E. ou do B. Ou até poderia ser uma história triste, do E. e do B. do tal (ou dos tais) de quem já ouviu tudo, até coisas que pelo respeito que qualquer pessoa tem que ser credora. Eu não entendo os que vivem hoje, em função da pena que possam suscitar noutros, ou que estes, no limite da tolerância elevada ao extremo máximo, por eles possam nutrir por eles, depois de sistematicamente terem desaproveitado todas as oportunidades que lhes foram dadas. Falhando sistematicamente, porque são incapazes e porque carregam consigo tudo o que caracteriza os falhados, eles “vingam-se”, olhando para o mundo que os rodeia, e do qual assumidamente se sentem seus marginais, com desdém, com a fúria de quem acha que só dizendo mal de quem pensa de forma diferente que a deles – se é que alguém porventura com eles possa líder um segundo que seja! – se realizam e de vingam de tudo o que os atrofia. Porque não foram capazes, não são capazes de olhar em frente, sem se preocuparem com o passado, sem terem medo da sua sombra. Qualquer insulto com origem nessa escória – porque são eles próprios que assim se comportam – é um elogio. Poderia dar-vos ter, quatro, cinco alternativas para melhor os definirem. Não o faço, porque teria que os identificar, algo que recuso fazê-lo, provavelmente porque em consciência, mesmo nunca com eles tendo tido qualquer relacionamento de amizade, apenas fugazes encontros com outros antigos profissionais e companheiros dele. Mas respeito-os mais do que eles se respeitam a si próprios. Prefiro alimentar a esperança, que não excluo possa transformar-se numa ilusão, que um dia sejam capazes de resolver o que têm que resolver, para que reencontrem o seu espaço, reencontrem o seu próprio lugar, se reencontrem consigo próprios, reencontrem a dignidade que perderam, factos que os levou, em desespero, a se refugiarem no anonimato triste e cobarde dos biltres que vomitam ódio indiscriminadamente, em todas as direcções, menos para os que por pena, e só por pena, ainda lhes deram emprego e uma oportunidade perdida. Uma coisa é certa, não tenho culpa, ninguém tem culpa, do que alimenta a história década pessoa, do seu percurso, dos factos ocorridos, uns mais marcantes que outros. Que mais posso dizer deles, dos protagonistas desta minha “história”? Nada. Reafirmar que sinto pena deles e que lamento que não sejam capazes, hoje por condicionalismos que já os transcendem, tal o estado de degradação em que aos poucos mergulham, de serem capazes de superar os obstáculos que os condicionam e tanto os frustram. Termino com um poema de Rudyard Kipling que é também um apelo à reflexão de todos, mas essencialmente deles:
“Se és capaz de conservar o teu bom senso e a calma,
Quando os outros os perdem, e te acusam disso,
Se és capaz de confiar em ti, quando te ti duvidam
E, no entanto, perdoares que duvidem,
Se és capaz de esperar, sem perderes a esperança
E não caluniares os que te caluniam,
Se és capaz de sonhar, sem que o sonho te domine,
E pensar, sem reduzir o pensamento a vício,
Se és capaz de enfrentar o Triunfo e o Desastre,
Sem fazer distinção entre estes dois impostores,
Se és capaz de ouvir a verdade que disseste,
Transformada por canalhas em armadilhas aos tolos,
Se és capaz de ver destruído o ideal da vida inteira
E construí-lo outra vez com ferramentas gastas,
Se és capaz de arriscar todos os teus haveres
Num lance corajoso, alheio ao resultado,
E perder e começar de novo o teu caminho,
Sem que ouça um suspiro quem seguir ao teu lado,
Se és capaz de forçar os teus músculos e nervos
E fazê-los servir se já quase não servem,
Sustentando-te a ti, quando nada em ti resta,
A não ser a vontade que diz: Enfrenta!
Se és capaz de falar ao povo e ficar digno
Ou de passear com reis conservando-te o mesmo,
Se não pode abalar-te amigo ou inimigo
E não sofrem decepção os que contam contigo,
Se podes preencher todo minuto que passa
Com sessenta segundos de tarefa acertada,
Se assim fores, meu filho, a Terra será tua,
Será teu tudo que nela existe
E não receies que te o tomem,
Mas (ainda melhor que tudo isto)
Se assim fores, serás um HOMEM”.
Quando os outros os perdem, e te acusam disso,
Se és capaz de confiar em ti, quando te ti duvidam
E, no entanto, perdoares que duvidem,
Se és capaz de esperar, sem perderes a esperança
E não caluniares os que te caluniam,
Se és capaz de sonhar, sem que o sonho te domine,
E pensar, sem reduzir o pensamento a vício,
Se és capaz de enfrentar o Triunfo e o Desastre,
Sem fazer distinção entre estes dois impostores,
Se és capaz de ouvir a verdade que disseste,
Transformada por canalhas em armadilhas aos tolos,
Se és capaz de ver destruído o ideal da vida inteira
E construí-lo outra vez com ferramentas gastas,
Se és capaz de arriscar todos os teus haveres
Num lance corajoso, alheio ao resultado,
E perder e começar de novo o teu caminho,
Sem que ouça um suspiro quem seguir ao teu lado,
Se és capaz de forçar os teus músculos e nervos
E fazê-los servir se já quase não servem,
Sustentando-te a ti, quando nada em ti resta,
A não ser a vontade que diz: Enfrenta!
Se és capaz de falar ao povo e ficar digno
Ou de passear com reis conservando-te o mesmo,
Se não pode abalar-te amigo ou inimigo
E não sofrem decepção os que contam contigo,
Se podes preencher todo minuto que passa
Com sessenta segundos de tarefa acertada,
Se assim fores, meu filho, a Terra será tua,
Será teu tudo que nela existe
E não receies que te o tomem,
Mas (ainda melhor que tudo isto)
Se assim fores, serás um HOMEM”.
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