terça-feira, dezembro 01, 2009

Opinião: "Nova "auto-estrada marítima" entre o Continente e a Madeira"


A última edição da Revista da Marinha publica um texto de opinião intitulado "Nova "auto-estrada marítima" entre o Continente e a Madeira" onde é analisada a temática dos transportes marítimos entre o Continente e as ilhas: "Quando em 1985 o Governo português procedeu à liquidação das últimas grandes companhias de navegação - a Companhia Portuguesa de Transportes Marítimos e a Companhia Nacional de Navegação -, cessou o transporte marítimo regular de passageiros entre o Continente português e a Região Autónoma da Madeira, a qual ficou refém do transporte aéreo. A agravar a situação, a ausência de concorrência permitiu à transportadora aérea nacional praticar preços que os madeirenses consideravam proibitivos. A liberalização dos voos entre o Continente e a Madeira só viria a ser anunciada, em 23 de Abril de 2008, no Funchal, por Paulo Campos, Secretário de Estado Adjunto das Obras Públicas e Comunicações. Entretanto, quebrando um "jejum" de 23 anos nas carreiras regulares de passageiros, a companhia de navegação espanhola Naviera Armas iniciou, no dia 14 de Junho de 2008, uma linha regular entre o Funchal e Portimão. A Naviera Armas, fundada em 1941 por Antonio Armas Curbelo, na ilha de Lanzarote, Canárias, é hoje a mais importante companhia de navegação daquele arquipélago. Dirigida por Antonio Armas Fernández (filho do fundador e seu actual presidente), conhecedor das tendências do sector, estabeleceu em 2 de Julho de 2006, a primeira carreira regular de passageiros entre Las Palmas, nas Canárias, e o Funchal, transportando logo nesse ano 4 000 passageiros. No ano seguinte viria a transportar 10 000 passageiros e 2 000 viaturas. Em 2008, resolveu estender a carreira até Portimão, o que cedo se revelou uma excelente decisão, como o sucesso comercial da operação viria a corroborar. A Naviera Armas utiliza, nesta carreira, o ferry "Volcan de Tijarafe", construído nos estaleiros "Hijos de J. Barreras", em Vigo, Espanha. Foi lançado à água em Agosto de 2007 e está registado no porto de Santa Cruz de Tenerife, Ilhas Canárias. O navio tem 154,35 m de comprimento, 25,60 m de boca e cala 5,7 m. Com uma tonelagem de registo de 20 500 GT, está equipado com dois motores principais de 14 000 HP cada um, com propulsores azimutais, os quais lhe imprimem uma velocidade de serviço de 24,5 nós. Tem ainda dois hélices de proa, para auxílio na manobra, e estabilizadores para maior conforto dos seus passageiros. Os 1 000 passageiros que o "Volcan de Tijarafe" pode transportar, tanto podem acomodar-se em poltronas semelhantes às da classe executiva dos aviões, como podem, com um custo adicional, optar por se alojar num dos 56 camarotes disponíveis - 8 de duas camas e 48 de 4 camas em beliche. Além dos passageiros, este ferry pode levar 600 automóveis ou 300 automóveis e 57 camiões trailer ou, ainda, só 75 camiões trailer. O navio sai do Porto de Cruzeiros Portimão ao final da manhã de Domingo e chega ao Funchal na segunda feira seguinte, após 21 horas de navegação. A saída do Funchal é na mesma segunda-feira, para Las Palmas e, posteriormente, Tenerife, onde chega na terça-feira seguinte, depois de cerca de 12 horas de navegação nocturna. A bordo, os passageiros dispõem de piscina, serviço de bufete quente (durante toda a viagem), bar, discoteca e animação nos salões. O preço é convidativo e as reservas feitas através da Internet beneficiam de uma redução de cerca de 10%. O sucesso desta linha, que inicialmente era para só operar entre Maio e Setembro, levou a que, em final de Agosto de 2008, o armador anunciasse a sua intenção de manter a operação durante todo o ano, o que de facto veio a acontecer e sempre com elevadas taxas de ocupação. A Naviera Armas considera, ainda, a possibilidade de substituir o "Volcan de Tijarafe" por outro navio maior, actualmente em construção nos estaleiros de Vigo, o qual terá 185 m de comprimento e capacidade para 1 500 passageiros, dos quais 600 em camarotes. Segundo nos confidenciou João Azevedo, representante em Portimão da Navigomes, Lda. (Setúbal), empresa que agencia o ferry no Continente, também se chegou a pôr a hipótese de criar uma segunda carreira semanal com o "Volcan de Tamadaba", ideia entretanto abandonada por oposição de "interesses instalados" na Madeira. Todavia, entre 26 de Julho e 1 de Agosto de 2009, haverá um desdobramento da carreira do "Volcan de Tijarafe", com duas escalas extra, recorrendo-se aos navios "Volcan de Tamadaba" e "Volcan de Tauce", para levar e trazer os automóveis que participam no Rally da Madeira. Em Nota à Imprensa, datada de 22 de Junho de 2009, a Câmara Municipal de Portimão divulgou que entre 15 de Junho de 2008 e 14 de Junho deste ano, o "Volcan de Tijarafe" transportou 25 948 passageiros e um total de 10 820 veículos. Para assinalar o primeiro aniversário da carreira, o vice-presidente da companhia espanhola, António Armas Mead, recebeu no domingo, 21 de Junho, das mãos do presidente da Câmara Municipal de Portimão, Manuel da Luz, uma lembrança, tendo o ferry brindado a cidade com um fogo-de-artifício no momento da partida. Com esta carreira, já há quem considere a Madeira como uma extensão geográfica das suas férias no Algarve. Por outro lado, estudantes madeirenses a frequentar estabelecimentos de ensino superior no Continente, procuram cada vez mais este meio de transporte, pelo menor encargo que ele acarreta. Não despicienda é, também, a possibilidade de se poder transitar no destino com viatura própria, obviando a necessidade de um aluguer, ou o facto de não se ter que passar pelo incómodo de check-in e levantamentos de bagagem. Com efeito, a bagagem entra no carro, à porta de casa, e só sai à porta do alojamento, no destino, o que torna esta carreira bastante atractiva. O mesmo se passa com o transporte de alimentos perecíveis, designadamente os produtos hortícolas e frutícolas, que agora chegam ao Funchal a preços substancialmente mais baixos. Estes e outros factos relacionados com a obrigatoriedade de as cargas não rodadas terem que ser descarregadas no Porto Comercial do Caniçal, têm gerado alguma contestação por parte de alguns agentes económicos da Madeira, que consideram estar a haver concorrência desleal”. Leia o texto na sua totalidade, aqui.

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