quinta-feira, novembro 05, 2009

Um aviso a Obama?

Segundo a jornalista do Público, Rita Siza, o Partido Republicano dos Estados Unidos conseguiu reverter o ciclo de consecutivas derrotas eleitorais dos últimos cinco anos, vencendo mais ou menos confortavelmente as eleições para os governos da Virgínia e Nova Jérsia, antes sob o domínio dos democratas: “Começou o renascimento do GOP”, proclamou o presidente do Comité Nacional Republicano, Michael Steele. Aqueles dois estados votaram esmagadoramente por Barack Obama nas eleições presidenciais do ano passado, o que já levou o Partido Republicano a extrapolar os resultados como o início de uma poderosa onda de descontentamento e oposição ao Presidente. O porta-voz da Casa Branca, Robert Gibbs, refutou essa interpretação, insistindo que as eleições para governador dizem respeito a “questões locais” e não são “referendos às politicas do Presidente”. Gibbs argumentou ainda que os resultados não punham em causa a capacidade de Obama levar avante a sua agenda política. A vitória republicana no estado da Virgínia foi avassaladora: o partido elegeu Bob McDonnell para governador com uma vantagem de mais de 15 pontos; Bill Bolling para vice-governador e Ken Cuccinelli para procurador-geral. O GOP recuperou ainda quatro lugares na legislatura estadual, pondo fim a uma década de expansão dos democratas.
A votação ficou marcada pelo desinteresse total de mais de um milhão de eleitores que, em 2008, compareceram nas urnas para eleger Obama: os jovens, afro-americanos, os profissionais dos subúrbios da capital e os hispânicos. Os eleitores registados como independentes — um bloco em franca expansão a nível nacional — caíram para o lado do candidato republicano por uma margem de 60-30, tanto na Virgínia como em Nova Jérsia, naquele que foi um primeiro sinal de desgaste na coligação eleitoral engendrada por Obama no ano passado. Estes eleitores são, por definição, imprevisíveis — daí serem chamados “swing votes”. Nos próximos dias, as sondagens encarregar-se-ão da sua caracterização: para já, é impossível perceber se são “moderados” (de acordo com a gíria política) ou efectivamente “conservadores”, como têm descrito os comentadores da direita. Mas nem tudo foram boas notícias para os republicanos na noite de terça-feira. Nas eleições especiais para o 23º distrito congressional, no Norte do estado de Nova Iorque, o candidato democrata Bill Owens conquistou um lugar que estava nas mãos dos seus adversários desde meados do século XIX. À última hora, Owens contou com o apoio da candidata republicana, Dede Scozzafava, que suspendeu a sua campanha perante a pressão insuportável da facção ultra-conservadora do seu partido, que quebrando a disciplina endossou o concorrente do Partido Conservador Doug Hoffman. Este fez uma campanha exclusivamente assente nas chamadas “questões sociais”: a sua candidatura baseava-se numa feroz oposição ao direito ao aborto e ao casamento de homossexuais. Em termos económicos, Hoffman disse ser contra planos de estímulo, contra a expansão dos subsídios do governo e contra a ajuda aos bancos. A sua rápida ascensão, mas posterior derrota, deixa os republicanos com um dilema para resolver: como ultrapassar a divisão crescente do partido entre os moderados que alinham pela cartilha económica de Reagan e os radicais entrincheirados nas “guerras culturais” contra os liberais? Os comentadores consideram que estes resultados não permitiam, por enquanto, predizer a tendência do eleitorado nas próximas eleições para o Congresso (2010) ou a para a Presidência (2012). Mas sem dúvida terão uma consequência imediata: eles vão condicionar a estratégia daqueles que vão a votos em breve e também o discurso dos media sobre o estado da política norte-americana"

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Recomendo igualmente a leitura do texto do jornalista Ricard González, do El Mundo, intitulado “Unas simples elecciones locales, o el renacimiento del Partido Republicano”:”El día después de las elecciones, demócratas y republicanos reaccionaron de acuerdo con los cánones del manual del político convencional. Los republicanos, vencedores indudables de la noche, quisieron extrapolar los resultados de unos comicios locales al sentir general de la nación. Los demócratas, en cambio, restaron importancia a su derrota, y la atribuyeron a factores meramente locales. En un breve encuentro con los periodistas, el presidente rechazó realizar cualquier comentario sobre los comicios de ayer, dejándole la papeleta a su portavoz, Robert Gibbs. Para reforzar la idea que las elecciones no tendrán consecuencias para el presidente Obama, sus asesores ya anunciaron el martes que Obama no seguiría por televisión el recuento de los votos."El presidente nunca las miraba cuando él era el candidato", se justificó el portavoz de la Casa Blanca, Robert Gibbs, que ofreció la visión oficial de la administración respecto a qué decidió las elecciones: asuntos muy locales que no implican al presidente. En las antípodas, como era de esperar, la reacción republicana. El renacimiento del Partido Republicano ha empezado, declaró un eufórico Michael Steele, el presidente del Comité Nacional Republicano, aliviado por los resultados después de un año en el que ha recibido muchas críticas”.

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