1 - O
turismo sempre fez parte da história, da economia e da vida da Madeira e dos
Madeirenses. Quanto a isso ninguém ousará ver futuro à nossa Região, privando-a
do turismo, das receitas que ele gera, dos empregos que propicia, dos
rendimentos que garante, etc. Mas temos de estar atentos ao que chamaria de
"ditadura do turismo" em que há uma subversão de realidades,
quando os residentes passam a ser relegados para um plano secundário,
substituídos pela "ditadura" dos turistas e do primado
absolutista da indústria do turismo. Várias localidades europeias estão a
despertar para a valorização desses fenómenos de insatisfação popular, promovendo
contestações crescentes, protestos públicos, aplicando taxas, impondo a
proibição ou limitação do acesso de turistas a certas localidades mais sujeitas
a procura turística, devido a problemas com o abastecimento de água, tentando
minimizar os efeitos do alojamento na carência habitacional que hoje é
generalizada a toda a Europa, a aprovar medidas - taxas não só - que travem essa
contestação, no fundo destinadas a repor alguma qualidade de vida que muitos
destinos turísticos foram perdendo graças à selvajaria desordenada que o
turismo massificado transporta com ele. Barcelona, Veneza, Capri, Nice, várias
regiões italianas e espanholas, Grécia Japão, norte da Escandinávia, etc, são
disso exemplo.
No caso da
Madeira, embora as coisas me pareçam ainda algo controladas - apesar de alguns
sinais geradores de eventual potencial preocupação em determinados sectores de
actividade ligados ao turismo - este parece ser um tempo em que as pessoas,
naturalmente, começam a se questionar sobre se – e num tempo em que o turismo
nunca movimentou tantas pessoas, tantos aviões, tantas empresas em todo o mundo
- com tantos pretensos recordes regionais, com tanta confusão, com crescentes comportamentais
abusivos intoleráveis, com tanta mão-de-obra estrangeira importada e sem
qualificação, mas disponível a auferir uns patacos para uma vida remediada, com
tanta desorganização e falta de controlo nalguns sectores de serviços, etc, o
turismo regional tem contribuído, de facto para reduzir os baixos rendimentos
na RAM, se tem gerado empregos para todos os desempregados disponíveis (também
há os que não estão...), se tem melhorado os salários e aumentado os impostos
pagos. Ou se apenas tem gerado lucros para encher certas mentes esfomeadas? Eu,
repito, não tenho nada contra o turismo, não alinho em certas conversas tontas
que por aí andam contra o turismo, porque sei que a RAM, ontem como hoje,
depende e muito do turismo. Mas tem de haver sempre um plano B que julgo
continua a não existir. Lembram-se do que aconteceu com o covid? Acham que o
mundo não está hoje mergulhado na dúvida de uma nova crise generalizada, caso a
guerra não termine rapidamente, uma guerra que também é alimentada pela mediocridade
das lideranças mundiais e pela evidente falta de competências e de liderança fortes,
como acontecia no passado com figuras inesquecíveis e respeitáveis na política
internacional, que tudo faziam para acabar com tensões e conflitos
internacionais, ao invés de os alimentarem?
2 - A proposta de Orçamento regional para 2024 foi aprovada na generalidade, na Assembleia Legislativa da Madeira, com os votos contra do JPP e da IL, a abstenção do PS, Chega e do PAN e os votos a favor do PSD e do CDS. Segue-se a discussão e votação na especialidade, secretaria a secretaria, que antecede votação final global que, quando escrevo este texto, desconheço qual será, sabendo-se que não há a obrigatoriedade de correspondência com a primeira votação. Acho bem que tenha sido aprovado, porque estamos a falar de um ano quase vencido e de medidas que precisam de um orçamento regional para serem aplicadas, algumas delas com retroactividade assegurada. Foi também aprovado o Plano regional de Investimentos para 2024, com a mesma votação partidária. Obviamente que 2024, por razões várias conjugadas, é um ano atípico, facto que faz com que alguns partidos - não todos... – tenham mostrado alguma responsabilidade que certamente não passará despercebida aos eleitores no momento próprio. Naturalmente que a normalidade orçamental na RAM apenas regressará em 2025, cujo orçamento e plano começam a ser conhecidos em Outubro (LFM, texto publicado no Tribuna da Madeira de 19.07.24)
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