Apesar
das provisões para fazer face à pandemia, juntos os quatro maiores bancos
apresentam lucros de 233 milhões de euros nos três primeiros meses do ano. Num ano de pandemia, os quatro maiores bancos
a operarem no mercado nacional conseguiram lucrar mais de 2,5 milhões por dia
nos primeiros três meses do ano. Juntos, BCP, BPI, Caixa Geral de Depósitos e
Santander Totta lucraram 233 milhões de euros no primeiro trimestre do ano.
Dividindo por 90 dias dá mais de 2,5 milhões por dia. Mesmo com as provisões
registadas pelos bancos para fazerem face a eventuais perdas futuras,
nomeadamente as relacionadas com créditos de clientes, levaram as quatro
maiores instituições financeiras a apresentarem resultados positivos.
A redução
de balcões e do número de trabalhadores continua a marcar a estratégia do
sistema financeiro, a par da pressão para o aumento de comissões. E, tal como
aconteceu em 2020, os primeiros primeiros meses do ano contam ainda com a
concessão de moratórias – correspondente a suspensão de pagamento de capital
e/ou juros).
Mas vamos a números. O banco público CGD tinha 5.705 milhões de euros em créditos com moratórias no final de abril, abaixo do valor de janeiro, segundo a informação liderada por Paulo Macedo. Este valor é equivalente a 13% da carteira de crédito total: 2.391 milhões de euros são referentes a crédito a particulares e 3.314 milhões de euros a crédito a empresas. Ainda assim, representa uma queda de 4,8% face ao montante de crédito em moratórias em final de janeiro (5.992 milhões de euros), mas em relação a a setembro de 2020, quando foi atingido o ‘pico’ de crédito em moratórias (6.906 milhões de euros), a redução é de 17,4%.
Já o
BCP tinha 8.018 milhões de euros em créditos com moratórias no final de março,
menos 7,6% do que no final de 2020. Ou seja, 21% do total da carteira de
crédito em Portugal, dos quais 4.597 milhões de euros são referentes a crédito
a empresas e 3.421 milhões de euros a crédito a particulares/famílias. O banco
liderado por Miguel Maya garante que, 91% do crédito com moratórias, estava
regularizado, já o restante diz respeito a clientes com problemas em pagar a
dívida.
Também
o BP contava no final de abril com 4,1 mil milhões de euros de crédito em
moratória, ainda assim, apenas 2% estava em situação de incumprimento, enquanto
o Santander Totta, no final do março, as moratórias abrangiam cerca de 54 mil
clientes, num montante global de 6,4 mil milhões de euros de crédito (16% da
carteira total), o que corresponde a uma redução de 25% face ao valor de final
de 2020, com o vencimento da moratória privada.
Caixa
lidera pódio
O
campeão dos resultados foi, mais uma vez, a CGD, ao apresentar um lucro de 81
milhões de euros no primeiro trimestre do ano. Ainda assim, representa uma
queda de 6% face aos 86,2 milhões de euros registados em igual período do ano
passado. De acordo com a instituição financeira, foram reforçadas as imparidades de crédito em
59,6 milhões de euros «em antecipação dos efeitos da crise pandémica».
De acordo
com o presidente executivo do banco público, Paulo Macedo, os resultados
mostram a «realização com sucesso» do plano estratégico 2017-2020 (acordado
entre o Estado português e a Comissão Europeia), afirmando que, nos últimos
quatro anos, a CGD recuperou todos os prejuízos históricos registados em 2016
(1859 milhões de euros), uma vez que, «foram anulados pelos resultados
positivos gerados desde então», além de que melhorou os indicadores de
solvabilidade, eficiência, qualidade dos ativos, entre outros.
A margem financeira desceu 11,5% para 233 milhões de euros devido aos níveis de taxa de juro e aos spreads que estão a ter influência no setor bancário. Já os resultados de serviços e comissões subiram 2,2% para 125 milhões de euros. José de Brito acredita que estas receitas poderão subir mais face à recuperação da economia após o confinamento.
Resultados
disparam
Ao
contrário, das restantes instituições financeiras, o BPI registou lucros de 60
milhões de euros. Trata-se de um aumento de dez vezes face aos seis milhões
registados em igual período do ano passado. Só na atividade em Portugal, o BPI
obteve um resultado líquido de 54 milhões, o que comparado com os quatro
milhões registados no período homólogo do ano passado, quando se registaram
imparidades significativas para prevenir potenciais impactos da pandemia.
Segundo
o banco, o produto bancário cresceu 17,1% face ao mesmo período do ano passado,
e o rácio de eficiência ‘core’ melhorou para 57,1%, tendo também sido
registados aumentos nos recursos totais de clientes e nos depósitos. Estes
últimos ascenderam a 26 618 milhões de euros, representam 69% do ativo e
«constituem a principal fonte de financiamento do balanço». A quota de mercado
dos depósitos ascendeu a 10,7% em março. Já os recursos totais de clientes
cresceram 9,7%, totalizando 37 704 milhões no final do mesmo mês.
«O
1.º trimestre de 2021 ficou marcado pela forte dinâmica da atividade comercial,
que mostra a capacidade do BPI em ajustar-se ao contexto criado pela
persistência da pandemia. Registámos um crescimento significativo do produto
bancário, assente na resiliência da margem financeira, no aumento da venda de
produtos de poupança e investimento (seguros de capitalização e fundos de
investimento) e na gestão rigorosa do balanço», disse Pedro Oliveira e Costa.
Também
o BCP assistiu a um aumento dos lucros para 57,8 milhões de euros no primeiro
trimestre do ano. Trata-se de acréscimo de mais de 60%, apesar de ter
constituído 112,8 milhões de euros em provisões para fazer face a riscos legais
relacionados com os créditos em francos suíços, na Polónia. Esta «evolução
favorável ficou a dever-se ao bom desempenho apresentado pela atividade em
Portugal, pese embora o mesmo tenha sido atenuado pelo menor contributo da
atividade internacional, nomeadamente da subsidiária polaca, fortemente
condicionada pelo reforço da provisão extraordinária constituída para fazer
face ao risco legal associado aos créditos hipotecários concedidos em moeda
estrangeira, que ascendeu a 112,8 milhões de euros nos primeiros três meses de
2021 (12,7 milhões de euros no mesmo período de 2020)», revela a instituição
financeira por Miguel Maya.
Ainda
assim, as imparidades e provisões totalizaram 242,8 milhões de euros nos
primeiros três meses do ano. Feitas as contas, a margem financeira cifrou-se em
376 milhões de euros, que compara com 385,5 milhões de euros contabilizados no
mesmo período do ano anterior. Já as comissões líquidas ascenderam a 177,9
milhões de euros no primeiro trimestre de 2021, situando-se 1% abaixo dos 179,8
milhões de euros alcançados no trimestre homólogo do ano anterior.
Queda
após lucros anteriores
Contrariando
a tendência dos anos anteriores, o Santander Portugal registou lucros de 34,2
milhões de euros no primeiro trimestre deste ano – uma redução de 71,2% face ao
período homólogo de 2020. Segundo a instituição financeira, este resultado é
explicado em parte pela necessidade de constituir imparidades para fazer face à
situação económica desfavorável, bem como pelas provisões de 164,5 milhões de
euros (líquida de impostos) para fazer face a uma reestruturação no banco, em
especial do quadro de recursos humanos.
Recorde-se
que, a instituição financeira liderada por Pedro Castro e Almeida anunciou, no
passado mês de março, planos de redução de trabalhadores envolvendo rescisões
por mútuo acordo e reformas antecipadas, entre 100 e 150 colaboradores. Uma
situação que levou o Sindicato Nacional dos Quadros e Técnicos Bancários
(SNQTB) a convocar várias manifestações que acabaram por ser suspensas depois
de o banco ter mostrado alguma abertura em reverter esta situação.
Contraciclo
Fora
dos grandes bancos está o Montepio que passou de lucros a prejuízos de 15,9
milhões de euros nos três primeiros meses do ano e passou a operar abaixo do
rácio de capital exigido pelo Banco de Portugal – desceu para 13,4%, ou seja,
abaixo dos 13,938% exigidos pelo regulador, conforme requisitos mínimos
prudenciais de fundos próprios da instituição financeira, publicados em 17 de
março de 2020.
Aliás,
tal como o i avançou, passou a ser o
único banco do sistema financeiro português a operar abaixo dos requisitos de
capital regulamentares. Uma situação que obrigaria a Associação Mutualista a
levar a cabo um aumento de capital se não fosse a pandemia, uma vez que houve
uma suspensão temporária da supervisão prudencial sobre os requisitos de
capital.
As
atenções estão também viradas para o Novo Banco que, apesar de ter apresentado
os resultados referentes aos três primeiros meses do ano, a instituição
financeira liderada por António Ramalho acena com lucros no primeiro trimestre
do ano, depois de ter apresentado prejuízos de 1.329 milhões de euros em 2020 e
de ter pedido 598,3 milhões ao Fundo de
Resolução.
«Tudo tinha de ter um fim», disse, durante a apresentação de resultados
referentes ao ano passado, acrescentando que «depois do fim do período de
reestruturação, iniciar-se-á um período de resultados positivos desde o
primeiro trimestre» (Sol, texto da jornalista Sónia Peres Pinto)
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