Primeiro inquérito alargado realizado pela associação de defesa do consumidor DECO revela que os portugueses valorizam mais as unidades hospitalares privadas nos casos SOS e no acompanhamento por especialistas. O Serviço Nacional de Saúde só ganha no internamento, que por ser gratuito fica logo em clara vantagem. Os portugueses “dizem ter vivido boas experiências nos hospitais, mas criticam o tempo de espera, o ruído e a alimentação”. A conclusão consta de uma avaliação alargada feita pela associação de defesa do consumidor DECO a 42 hospitais públicos e privados, no continente e ilhas, com base nas experiências de doentes nos seis a doze meses anteriores. O sector privado vence. Ganha o primeiro lugar na experiência total e empata na particular das Urgências e das consultas externas. As unidades do Serviço Nacional de Saúde (SNS) só têm a liderança no internamento, estando logo em vantagem pela gratuitidade.
A partir de 1723 entrevistas sobre idas recentes ao hospital, a DECO conseguiu apurar que, “em termos globais, os portugueses relataram experiências muito positivas”, isto é, “todos os 42 hospitais estudados registaram mais de 74% na apreciação global”. E destacam: “Aos olharmos para as experiências com os profissionais de saúde, verificamos que estes podem mesmo fazer a diferença, por vezes os resultados são ainda mais elevados do que os registados pelo respetivo hospital como um todo.”
CUF INFANTE SANTO NO TOPO
Na classificação global, o topo do pódio pertence ao hospital privado CUF Infante Santo, Lisboa (98%), seguido pelo IPO-Porto (97%), Curry Cabral, Lisboa, (95%), a unidade dos bancários SAMS (94%) e Cascais (92%). Segundo os autores do estudo, “contribuíram para estes resultados, em especial, a experiência proporcionada pelos profissionais de saúde e as condições dos hospitais”.
Já na análise detalhada, por tipo de serviço, os resultados são ligeiramente diferentes cabendo a liderança também ao SNS. Nas Urgências, a área a que mais portugueses recorrem na rede pública, o primeiro lugar é dividido entre os hospitais CUF Infante Santo (95%) e Angra do Heroísmo, Açores (95%). Surgem depois CUF Descobertas, Lisboa (92%), e Ponta Delgada e Famalicão, ambos com uma avaliação de 90%. E aqui, “entre as principais queixas que impendem sobre os serviços de Urgências, contam-se a ajuda deficiente no controlo da dor ou de outros sintomas, a menor empatia dos enfermeiros e auxiliares, o ruído e a falta de envolvimento do doente nas tomadas de decisão relativas ao seu estado de saúde”.
A classificação semelhante de unidades públicas e privadas repete-se no capítulo das consultas externas. Os melhores são CUF Infante Santo e Hospital de Setúbal (98%), Curry Cabral e o Hospital dos Lusíadas, ambos em Lisboa e com 96%, e ainda IPO-Porto e SAMS (95%). Mas o público ganha em toda a linha no internamento: Setúbal (98%), Curry Cabral (96%), SAMS (95%), Beja (93%) e Cascais e Santo António, Porto, os dois hospitais pontuados com 92%. “No âmbito do internamento, foram reportadas experiências menos positivas a propósito da espera até ser iniciado o atendimento e do controlo da dor ou de outros sintomas. Já internados, os utentes reclamam, com frequência, do ruído e da alimentação. A dificuldade em contactar o hospital, por telefone ou e-mail, foi ainda assinalada. A mesma dificuldade foi referida no caso das consultas externas. Neste contexto, os utentes criticam ainda a alimentação no hospital e a pouca empatia dos funcionários. E, de novo, a facilidade de contacto com o hospital ficou aquém do desejável”, explicam os peritos da DECO.
MENOS ESPERA E RUÍDO, MELHOR COMIDA E COMUNICAÇÃO
Em conclusão, “pôr o cidadão no centro dos cuidados de saúde é um caminho que deve continuar a ser seguido”. Por outras palavras, “abordar o doente com dignidade e humanismo reforça a colaboração com os profissionais de saúde e a adesão aos tratamentos, e, apesar dos resultados encorajadores, continua a haver grande potencial de melhoramentos, em especial, na fase em que o doente tem de aguardar até ser atendido; o controlo da dor ou de outros sintomas nem sempre é devidamente considerado”. Mas não só. “Para o objetivo de colocar o utente no centro dos cuidados ser alcançado, a participação do doente nas decisões, o envolvimento da família e o apoio na fase pós-alta têm de ser a regra, e não a exceção. Também a comunicação com o hospital requer maior dose de eficácia.”
O que falta para tornar a experiência hospitalar mais positiva? “Esperas mais curtas e confortáveis, menos ruído, opções alimentares que vão ao encontro das preferências e necessidades dos doentes, e servidas a horas adequadas, assim como melhor comunicação com o hospital (…). Um recado que vai, certeiro, para o Ministério da Saúde.” (texto do Expresso, da jornalista Vera Lúcia Arreigoso)
Sem comentários:
Enviar um comentário