quarta-feira, outubro 11, 2017

Madeira: Albuquerque anuncia remodelação governativa

Uma remodelação de governo em plena legislatura, resulta sempre da confluência de vários factores que de uma forma ou de outra, uns mais do que outros, a justificam e determinam. E podem não ser motivos políticos ou eleitorais apenas.
Uma remodelação deve sempre resultar da decisão do próprio chefe do governo, seja ele nacional ou regional. Neste caso Miguel Albuquerque remodelou depois das autárquicas, não apenas porque houve uma clara fragilização eleitoral - não vamos discutir as causas próximas disso nem a sua vigência temporal  que pressuponho efémera - e provavelmente porque a meio do mandato sentiu que havia necessidade de fazer não apenas um "refresh" mas provavelmente um "upgrad". 
Miguel acaba por chamar nesta mudança dois antigos companheiros do último executivo camarário - Pedro  Calado, membro da Comissão Política  Regional do PSD, que sempre foi o homem forte da equipa do actual chefe de governo enquanto autarca, e Amílcar Gonçalves, que era director regional de Sérgio Marques, integrou a lista de Rubina Leal em posição de destaque e que também integrou nos últimos anos do mandato a equipa executiva de Albuquerque na CMF. Presumo que Amílcar Gonçalves é essencialmente um técnico, identificado com as áreas de passará a tutelar. A verdade é que também não se espera grande protagonismo político nos sectores que vai liderar
Surpresa a ascensão de Paula Cabaço, antiga presidente do IBVM cuja promoção, na minha opinião, pode ser entendida como uma escolha fora do "sistema" e dos inúmeros interesses que se cruzam, impedindo assim fraccionamentos num departamento governamental - turismo - que não se compadece nem com vaidades pessoais nem eventuais com guerras de protagonismos entre quem for. Paula Cabaço tem experiência do que é o contacto com mercados, sabe o que é fazer promoção só que em vez do vinho e do bordado terá agora pela frente uma área de intervenção bem, mais vasta, a do turismo, além de que terá que lidar com um sector em alta, mas que tem especificidades próprias, que depende muito de factores exógenos,  dado que tem dependido também e muito da conjuntura internacional e da instabilidade nalgumas partes do mundo que geraram uma mudança de rotas no fluxo turístico europeu.
Esta remodelação acabou por gerar a saída de três governantes - Rui Gonçalves, Sérgio Marques e Eduardo Jesus que aparentemente eram os executivos mais fortes na equipa cessante, logo depois de Albuquerque. Este facto pode eventualmente alimentar histórias que, sim ou não, e com o tempo, podem ser suscitadas, sobretudo na e pela comunicação social. Gonçalves tomou a iniciativa dias depois das eleições, Eduardo Jesus poderia estar eventualmente fragilizado devido ao impasse nalguns dossiers que repetidamente eram (serão) usados pela oposição,casos do ferry e do modelo do subsídio de mobilidade em vigor. Sérgio Marques que na realidade era uma espécie de nº 2 acaba por ser uma surpresa, embora olhando à estrutura governativa hoje anunciada, era clara a total incompatibilidade entre a sua continuidade e a chegada de Pedro Calado.
Finalmente a questão concreta de Pedro Calado que acaba por ser o elemento que sai mais reforçado de toda esta mudança.
Em situações normais, os chamados nº 2 de qualquer governo chamam a si a responsabilidade de algumas, poucas, pastas, predominando uma delas. No caso concreto, Calado aparece hiper-carregado de tutelas na nova estrutura governamental, acrescido ainda da  questão política, sabendo-se, como se sabe, que depois dos resultados autárquicos esta foi uma matéria colocada em evidencia em várias frentes. O problema, ou não, é que Pedro Calado parece ter ficado com áreas demasiado pesadas e, responsabilidade que lhe vão exigir muito. Finanças e Economia - que continuo a pensar serem os pilares da governação regional porque em função delas podemos reunir recursos para outras áreas de intervenção governativa, nomeadamente as sociais - exigem muito e pode sobrecarregar Pedro Calado.
Acresce que tendo a coordenação política, Pedro Calado deixa de lidar com o parlamento regional e com a "praxis" do governo regional de ter uma relação institucional, normal e regular, facto que aparentemente não deixa de constituir uma contradição, sem gravidade. Mas complexa, porque a coordenação política do relacionamento entre os membros do governo e o parlamento, nomeadamente processo legislativo, debates, presenças em comissões, etc fica num membro do Governo e não no coordenador politico. Prevejo que possam surgir algumas dificuldades nesta gestão deste sector em concreto.
Penso que o segredo do novo Vice será o de escolher directores regionais com reconhecida operacionalidade, da sua confiança pessoal, que tenham competência técnica para as diferentes áreas a preencher. Se conseguir isso, se reunir uma equipa operacional, politicamente eficaz, tecnicamente competente, Calado terá todas as condições para descentralizar e dedicar-se mais a áreas que vão exigir mais dele do que outras (LFM)

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