Quando faltam dez meses para as eleições, é impossível prever quem terá a capacidade para passar a uma eventual segunda volta das presidenciais. Mas há, ainda assim, candidatos com maior potencialidade do que outros. A sondagem da Pitagórica para o JN, TSF e TVI/CNN testou nove cenários e concluiu que o almirante Gouveia e Melo venceria os quatro adversários com que foi emparelhado; que Marques Mendes teria vantagem sobre os dois potenciais candidatos socialistas; que, mesmo perdendo, António José Seguro faria um pouco melhor do que António Vitorino; e que André Ventura perderia contra todos por mais de 40 pontos de diferença. Como mostra a sondagem sobre a intenção de voto, o almirante ficaria nesta altura em primeiro lugar, com uma vantagem confortável sobre Marques Mendes. Mas seria necessária uma segunda volta, uma vez que ficaria distante dos 50% de votos. A acontecer, Gouveia e Melo confirma o favoritismo, uma vez que, não só recolheria a maioria dos votos nos quatro cenários em que foi avaliado, como supera, em todos eles, a margem de erro da sondagem (mais ou menos 5%). O mais fácil de bater seria André Ventura, e o mais difícil seria Marques Mendes (o único que já fez a apresentação formal da candidatura). Mas há mais um dado a ter em conta: o almirante perde alguns pontos no mano a mano com Mendes, Seguro e Vitorino, na comparação com a sondagem de janeiro passado.
Quanto a Marques Mendes, para além de arrancar o segundo lugar numa primeira volta, é o que mais se aproxima do almirante numa segunda volta (fica a 12 pontos). Se o frente a frente for com um dos potenciais candidatos socialistas, seria Mendes o vencedor. Nestes cenários de segunda volta, e ao contrário do que sucederia na primeira, Seguro faz um pouco melhor do que Vitorino. Mas vejamos, em pormenor, os resultados e as nuances de cada um dos nove cenários.
Mendes é o adversário mais difícil
É numa eventual segunda volta com Marques Mendes, o único candidato que já está assumidamente no terreno, que Henrique Gouveia e Melo teria, nesta altura, um resultado mais apertado: 49% contra os 32% do social-democrata, ou seja, 12 pontos de diferença. Ainda assim, a vantagem do almirante ficaria para lá da margem de erro desta sondagem, que usa uma amostra de 400 inquéritos (mais ou menos 5%). Comparando com a sondagem de janeiro, o independente perde dois pontos, enquanto o candidato apoiado pelo PSD ganha sete. Gouveia e Melo conseguiria melhores resultados entre os eleitores com 35 anos ou mais (51%), entre os que têm piores rendimentos (54%), entre os que residem no Sul e nas ilhas (56%), e entre os que votam no Chega (56%) e no PS (49%). Marques Mendes venceria na faixa etária dos 18 a 34 anos e entre os que vivem na região de Lisboa (43% em ambos os casos), mas também entre os eleitores da AD (46%).
Seguro fica ainda longe do almirante
A vantagem do almirante (51%) seria maior se o adversário de uma eventual segunda volta fosse António José Seguro (32%). Seriam 19 pontos de diferença, ainda que o socialista consiga mais seis pontos do que na sondagem de janeiro passado. Gouveia e Melo teria os melhores resultados entre os que têm 55 ou mais anos (56%), os mais pobres (57%), os que vivem no Sul e nas ilhas (59%) e os que votam na AD (59%) e no Chega (57%). Seguro perde em todos os segmentos sociodemográficos da amostra e venceria apenas entre os que votam no PS (44%).
Vitorino faz pior que o rival socialista
António Vitorino também perde (30%) com Gouveia e Melo (53%), e por números um pouco mais expressivos que Seguro: no caso do ex-ministro e ex-comissário europeu, são 23 pontos de diferença para o almirante, ainda que também ganhe algum terreno relativamente à sondagem de janeiro passado. Tal como o seu potencial concorrente no PS, Vitorino só venceria entre os eleitores socialistas (47%). Todos os outros segmentos da amostra caem para Gouveia e Melo, mas o padrão não é exatamente o mesmo dos dois cenários anteriores. No duelo com Vitorino já nenhuma das faixas etárias se destaca pela positiva e percebe-se que teria maiores dificuldades em Lisboa. Mas continuaria a destacar-se entre os mais pobres (57%), entre os que vivem no Sul e nas ilhas (66%) e entre os que votam no Chega (63%) e na AD (60%).
Gouveia e Melo esmaga André Ventura
Entre os nove cenários colocados no “boletim”, aquele em que se regista maior desequilíbrio é o que opõe Henrique Gouveia e Melo (71%) a André Ventura (13%). São 58 pontos de diferença entre o candidato independente e o líder do Chega, que só conseguiria bater o almirante entre os eleitores do seu partido (46%) e por apenas dois pontos. A vantagem de Gouveia e Melo seria particularmente esmagadora entre os que têm 55 ou mais anos (mais 69 pontos que Ventura), entre os que vivem na Região Norte (mais 71 pontos), entre os que têm melhores rendimentos (mais 72 pontos), e finalmente entre os que votam na AD (mais 71 pontos) e no PS (mais 76 pontos).
Resultado apertado entre Mendes e Seguro
É num cenário de segunda volta entre Marques Mendes (43%) e António José Seguro (34%) que teríamos o resultado mais apertado: são nove pontos de vantagem para o social-democrata, mas na verdade uma situação de empate técnico, uma vez que a margem de erro é de mais ou menos 5%. Mendes ganha três pontos relativamente a janeiro passado e mostra maior potencial entre os eleitores da AD (66%), entre os que têm melhores rendimentos (50%), entre os mais jovens (47%), vencendo também entre os eleitores do Chega (37%). Seguro vence no segmento de eleitores socialistas (59%), mas também na classe média (40%).
Vitorino mais frágil contra Mendes
Se o adversário de Marques Mendes (45%) numa segunda volta fosse António Vitorino (31%), o social-democrata ampliaria a sua vantagem para 14 pontos, mais três do que em janeiro passado. Tal como o seu rival socialista, Vitorino vence apenas entre os eleitores socialistas (61%) e a classe média (34%). O candidato da área do PSD repete o padrão, com melhores resultados na faixa etária dos 18 aos 34 anos (48%), entre os mais ricos (55%) e os que votam na AD (70%) e no Chega (39%).
Mulheres castigam líder do Chega
A exemplo do que acontece com o almirante Gouveia e Melo, também Marques Mendes (65%) derrotaria André Ventura (17%), se ambos se enfrentassem numa segunda volta. Quando entra em campo o líder do Chega, género passa a ter relevância: Mendes consegue 71% entre as mulheres, ou seja, mais 14 pontos do que o seu resultado entre os homens; no caso de Ventura acontece o inverso, entre os homens (24%) tem mais 13 ponto do que entre as mulheres. Mendes concentra 81% dos “votos” entre os eleitores da AD e 69% entre os do PS. Ventura é, sem surpresa, o vencedor entre os que votam no Chega (63%)
Seguro bate Ventura sem problemas
O embate entre António José Seguro (65%) e André Ventura (18%) daria um resultado muito semelhante ao de Marques Mendes. Também o socialista sente um acréscimo de apoio entre as mulheres (mais 11 pontos do que os homens), destacando-se ainda nos segmentos dos inquiridos com melhores rendimentos (76%), dos que vivem no Norte (70%) e dos que votam no PS (80%) e na AD (76%). Ventura só vence entre os eleitores do Chega (66%) e é especialmente “castigado” pelos mais velhos e pelas mulheres.
O melhor resultado é com Vitorino
António Vitorino (62%) é o candidato que faz pior figura num eventual embate com André Ventura (20%). Mas são, ainda assim, 42 pontos percentuais de diferença. O padrão de voto do socialista nos segmentos é semelhante ao de Seguro: destaca-se entre as mulheres (71%), os mais velhos (70%), os mais ricos (75%), os que vivem no Norte (71%) e os que votam no PS (80%) e na AD (75%). Ventura só vence entre os seus (71%), mas supera largamente a sua média entre os homens (28%) e entre os que têm 18 a 34 anos (33%). A maior rejeição ao líder do Chega volta a ser protagonizada pelas mulheres e pelos que têm 55 ou mais anos.
Ficha técnica
Sondagem realizada pela Pitagórica para o JN, TSF e TVI, CNN Portugal, com o objetivo de avaliar a opinião dos portugueses sobre temas relacionados com a atualidade do país. O trabalho de campo decorreu entre os dias 23 e 27 de fevereiro de 2025. A amostra foi recolhida de forma aleatória junto de eleitores portugueses recenseados e foi devidamente estratificada por género, idade e região. Foram realizadas 615 tentativas de contacto, para alcançarmos 400 entrevistas efetivas, pelo que a taxa de resposta foi de 65,04%. As 400 entrevistas telefónicas recolhidas correspondem a uma margem de erro máxima de +/- 5,0% para um nível de confiança de 95,5%. A direção técnica do estudo é da responsabilidade de Rita Marques da Silva. A ficha técnica completa, bem como todos os resultados, foram depositados junto da ERC - Entidade Reguladora da Comunicação Social, que os disponibilizará para consulta online (Jornal de Notícias, análise de Rafael Barbosa e gráficos de Inês Moura Pinto)
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