segunda-feira, agosto 30, 2021

TAP registou evolução “mais favorável” no segundo trimestre



Para o segundo semestre de 2021, “as previsões apontam para uma melhoria da atividade da TAP, pelo que se espera que o resultado deste ano apresente uma melhoria visível”, admitiu ao Jornal Económico uma fonte da companhia. A TAP registou “uma evolução mais favorável” no segundo trimestre de 2021, o que fez com que o resultado líquido negativo do segundo trimestre apresentasse números muito menos negativos que os do primeiro trimestre – quando a TAP registou um prejuízo de 365,1 milhões de euros –, afastando o receio, que chegou a existir no início do segundo trimestre, das contas semestrais poderem duplicar o prejuízo do primeiro trimestre, referiu ao Jornal Económico uma fonte da companhia área portuguesa.

“O resultado líquido negativo é significativamente inferior” às contas teóricas que projetaram no primeiro semestre uma duplicação dos prejuízos registados no primeiro trimestre.  “E no segundo semestre, as previsões apontam para uma melhoria da atividade, pelo que se espera que o resultado deste ano apresente uma melhoria visível”, explicou ao JE a mesma fonte da companhia. No entanto, ainda não é certo que a TAP não tenha de ceder ao mercado alguns dos seus “trunfos” mais relevantes para relançar a atividade e permitir o aumento significativo do número total de passageiros transportados, como é o caso do número total de “slots” que dispõe. Entretanto, é previsível que, em breve, a sociedade do acionista privado Humberto Pedrosa deixe de ser acionista da TAP, ficando o Estado com a totalidade do capital.

O processo de insolvência da Groundforce é outro dos problemas que pode limitar o crescimento da atividade da TAP, pois não há transporte aéreo eficiente sem um serviço de handling expedito. E a situação da investigação de Bruxelas aos apoios concedidos pelo Estado também terá ser ser clarificada para evitar novos condicionalismos de mercado à operação da TAP. Entre os fatores positivos estão as novas rotas que a TAP começou a operar este verão, para Ibiza, Fuerteventura, Zagreb (na Croácia), para a Tunísia e Marrocos.

Administração debate contas do segundo trimestre

Esta manhã de sexta-feira, 27 de agosto, a administração da TAP efetuou a reunião destinada a aprovar formalmente as contas do primeiro semestre de 2021, que serão comunicadas à Comissão do Mercado dos Valores Mobiliários (CMVM) às 17h00 da tarde de hoje, seguindo-se, às 18h00, a apresentação das contas em conference call, o que será feito pela presidente executiva da TAP, Christine Ourmières-Widener e pelo administrador executivo João Gameiro.

Recorde-se que em 2020 a TAP teve um prejuízo de 1,230 mil milhões de euros, o que traduziu um agravamento doze vezes superior ao prejuízo registado em 2019. Efetivamente, 2020 foi um ano “tenebroso” para todas as companhias aéreas, devido aos efeitos nefastos da pandemia de coronavírus, que causou prejuízos históricos ao sector da aviação civil.

Em 2020, a TAP registou um prejuízo de 1,23 mil milhões de euros, contra os 106 milhões de euros negativos apresentados em 2019. Até ao terceiro trimestre de 2020 a TAP registou um prejuízo de 700,5 milhões de euros, e praticamente parou a sua atividade no último trimestre do ano.

A maior companhia aérea europeia, a alemã Lufthansa, que chegou a ser considerada potencial compradora da TAP, apresentou um prejuízo de 6,7 mil milhões de euros em 2020. Pior foi a situação da Air France-KLM, com prejuízos de 7,1 mil milhões, ou a hispano-britânica IAG (que integra os universos da British Airways-Ibéria), com 6,9 mil milhões de euros.

Prejuízo de 365,1 milhões de euros no primeiro trimestre

Em 2021, a TAP reportou no primeiro trimestre, encerrado a 31 de março, um prejuízo líquido de 365,1 milhões de euros, o que se fosse recorrente nos restantes trimestres, daria um prejuízo total em 2021 semelhante ao de 2020. Mas, pela informação das fontes da TAP, a evolução da companhia aérea no segundo trimestre afasta um cenário tão negativo.

Recorde-se que apesar da procura ter dado ligeiros sinais de recuperação em janeiro, mantiveram-se as restrições aos voos em fevereiro e março, sobretudo nos países para onde a TAP voa, o que forçou a companhia portuguesa a reajustar rapidamente a sua capacidade. A 31 de janeiro, a TAP anunciou a suspensão de 93% da sua operação programada para o mês de fevereiro de 2021.

A nível da gestão operacional, a TAP reforçou as medidas de proteção da sua posição de caixa, sobretudo pela conversão de custos fixos em variáveis, renegociou os acordos comerciais e os seus planos de pagamentos, suspendeu o CAPEX (Capital Expenditure, o dinheiro gasto para comprar ou melhorar ativos fixos) e fez ajustamentos significativos aos custos laborais.

No primeiro trimestre, a TAP implementou reformas laborais no âmbito do Plano de Reestruturação entregue à Comissão Europeia, de forma a ajustar a estrutura de custos e otimizar a sua mão de obra, pondo em vigor no início de março de 2021 os Acordos de Emergência Laboral, com reduções salariais em cada categoria profissional, aderindo ao esquema clássico de lay-off, com redução dos horários de trabalho entre 5% e 90%, bem como a apresentação de um programa voluntário de redução de funcionários, incluindo a rescisão por mútuo acordo, reformas e pré-reformas, licenças sem vencimento e trabalho a tempo parcial. Foi igualmente lançado o programa de candidaturas voluntárias para transferir trabalhadores para a Portugália. Foram renegociados com os lessores da TAP os pagamentos de rendas e as rendas futuras.

À espera da luz verde de Bruxelas

O Plano de Reestruturação apresentado pela TAP à Comissão Europeia – a 10 de dezembro de 2020 – segue o seu curso negocial, sem haver ainda uma posição definitiva sobre a dimensão da companhia, o número adequado de efetivos e as cedências que terão de ser feitas, deixando em aberto a eventualidade da TAP ter de entregar mais slots (fundamentais para concretizar o relançamento da sua atividade).

Para já, a IATA admite uma recuperação da procura, o que será notado gradualmente, à medida que sejam abolidas as restrições às viagens, consolidando um sistema de certificação de vacinas que os viajantes têm de apresentar. É previsível que em 2021 o transporte aéreo atinja 52% do número passageiros de 2019. Nesse sentido, os slots da TAP são fundamentais para a retoma da sua atividade.

Recorde-se igualmente que no primeiro trimestre de 2021 os resultados da TAP foram muito afetados pelo impacto da pandemia, com a capacidade e a receita operacional total da TAP a caírem respetivamente 81% e 74% Y-o-Y. A capacidade da TAP, medida por ASKs, caiu 81% Y-o-Y, enquanto a taxa de ocupação de passageiros diminuiu 21,7 pontos percentuais Y-o-Y, passando para 50,2% no primeiro trimestre de 2021. A receita operacional total da TAP tinha diminuído 74% Y-o-Y, fixando-se nos 150 milhões de euros, enquanto a receita de passageiros caíra 83% Y-o-Y. No entanto, o segmento de carga manteve um bom desempenho no primeiro trimestre de 2021, aumentando 36% Y-o-Y.

As medidas destinadas a proteger a posição de caixa da TAP, juntamente com o empréstimo recebido do Estado Português em 2020, permitiram terminar o primeiro trimestre de 2021 com uma posição de caixa de 237,6 milhões de euros, o que compara com os 518,8 milhões de euros registados em 31 de dezembro de 2020.

Na frota, foram desativadas três aeronaves mais antigas – dois A330 e um A320 – no primeiro trimestre de 2021. A frota operacional total da TAP incluía 93 aeronaves a 31 de março de 2021 (onde se contam as frotas operadas pela Portugália e pela White e as três aeronaves que operam no segmento de carga). Estava previsto que no segundo trimestre de 2021 começassem a operar dois A320neo e um A321neoLR (este último tem um papel fundamental na estratégia da TAP para as rotas de longo curso, pois permite manter um custo de viagem menor) (ECONOMICO, texto dos jornalistas João Palma Ferreira e Nuno Braga)

Sem comentários: