Impacto da crise de
saúde pública no orçamento familiar é sentida sobretudo por aqueles que têm o
ensino secundário completo. E 12% dos que já foram afetados dizem que não
conseguirão fazer face a despesas básicas se as restrições do Estado de
Emergência se mantiverem mais um mês. Uma sondagem do
Instituto de Ciências Sociais (ICS) da Universidade de Lisboa e pelo ISCTE –
Instituto Universitário de Lisboa indica que 21% dos portugueses já viram a
situação financeira do seu agregado familiar afetada pelas medidas do Estado de
Emergência tomadas para conter a Covid-19. O maior impacto está a atingir
aqueles que têm o ensino secundário (29%), enquanto os que só estudaram até ao
3.º ciclo de escolaridade (20%) e os que têm habilitações superiores (16%)
escapam mais facilmente ao impacto económico da pandemia. Segundo a sondagem
realizada para a SIC e para o “Expresso”, com trabalho de campo da GfK Metris e
625 inquiridos, o grau de confiança quanto à situação financeira do agregado
familiar se as restrições do Estado de Emergência se prolongarem mais um mês,
como já foi admitido ser provável pelos responsáveis políticos, revela maiores
preocupações. São 12% aqueles que vão deixar de conseguir pagar as despesas básicas,
enquanto 40% vão reduzir as mesmas despesas e outros 40% consideram que vão
continuar a pagar as despesas normais.
Particularmente
atingidos serão aqueles que já viviam com muita dificuldade com o rendimento
auferido, pois 46% pensam que deixarão de poder fazer face a despesas básicas,
descendo ligeiramente a percentagem para os que viviam com alguma dificuldade
(38%) e sendo bastante baixa entre os que viviam razoavelmente (9%) e
confortavelmente (3%) antes de a pandemia chegar a Portugal.
Esperança no verão
Quase metade dos
entrevistados (45%) pensam que a vida voltará ao normal até ao verão, e os mais
otimistas acreditam que tudo está normalizado até ao fim de abril (18%). Em
sentido contrário, 17% apontam ao final deste ano como o horizonte de recuperação
e 4% acreditam que demorará ainda mais.
No entanto, 27% dos
portugueses dizem que só sentem preparados para viver sob as atuais restrições
até ao final de abril, com outros 32% a responderem que suportariam a
manutenção do Estado de Emergência até ao verão e 8% a apontarem para o fim do
ano, enquanto outros 8% consideram-se preparados para aguentar ainda mais tempo
numa conjuntura de distanciamento social, teletrabalho (ou desemprego) e
limites à circulação.
A mesma sondagem
indica que António Costa é a figura em quem os portugueses mais confiam para
gerir a crise de saúde pública (com 75%), ligeiramente acima do Presidente da
República (Marcelo Rebelo de Sousa merece a confiança de 74% dos inquiridos) e
que praticamente todos concordam com a declaração do Estado de Emergência: 51%
consideram as medidas adequadas e 44% dizem que são necessárias medidas mais
restritivas, sendo apenas 3% aqueles que respondem que a decisão tomada pelo
Chefe de Estado e aprovada pela Assembleia da República foi desnecessária.
Por outro lado, 59%
deixaram de ir ao local de trabalho e 27% passaram a utilizar máscara de
proteção em lugares públicos, entre outras alterações de comportamentos ditadas
pelo risco de contágio com o coronavírus.
FICHA TÉCNICA
Este relatório baseia-se
numa sondagem cujo trabalho de campo decorreu entre os dias 20 e 22 de março de
2020. Foi coordenada por uma equipa do Instituto de Ciências Sociais da
Universidade de Lisboa (ICS-ULisboa) e do ISCTE – Instituto Universitário de
Lisboa (ISCTE- IUL), tendo o trabalho de campo sido realizado pela GfK Metris.
O universo da sondagem é constituído pelos indivíduos, de ambos os sexos, com
idade igual ou superior a 18 anos, residentes em Portugal (Continente e Regiões
Autónomas) ou em domicílios com telefone fixo ou dispondo de telemóvel. Os
números fixos, cerca de 33% do total, foram extraídos aleatoriamente,
proporcionalmente à distribuição por prefixos no território. Os números móveis,
cerca de 66% do total, foram extraídos aleatoriamente, proporcionalmente à
distribuição por operadoras. Os respondentes foram selecionados através do
método de quotas, com base numa matriz que cruza as variáveis Sexo, Idade (4
grupos) e Região (7 Regiões NUTII).
A informação foi
recolhida através de entrevista telefónica, em sistema CATI. Foram tentados
contactos com 4092 números de telefone cuja existência foi confirmada. Desses,
foi possível determinar 1343 números correspondentes a indivíduos/lares
elegíveis. Desses, foram obtidas 625 entrevistas válidas. A taxa de resposta
foi assim de 13,4% e a taxa de cooperação de 48,1%. O trabalho de campo foi
realizado por 36 entrevistadores, que receberam formação adequada às
especificidades do estudo. Todos os resultados foram sujeitos a ponderação por
pós-estratificação, de acordo com a distribuição da população com 18 ou mais
anos residente em Portugal por três escalões de instrução (3.º ciclo ou menos,
secundária ou superior). A margem de erro máxima associada a uma amostra
aleatória simples de 625 inquiridos é de +/- 4%, com um nível de confiança de
95% (Jornnal Económico, texto de Leonardo Ralha)
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