quarta-feira, março 25, 2020

Sondagem ICS-ISCTE aponta que um em cada cinco portugueses já foram afetados financeiramente pela pandemia

Impacto da crise de saúde pública no orçamento familiar é sentida sobretudo por aqueles que têm o ensino secundário completo. E 12% dos que já foram afetados dizem que não conseguirão fazer face a despesas básicas se as restrições do Estado de Emergência se mantiverem mais um mês. Uma sondagem do Instituto de Ciências Sociais (ICS) da Universidade de Lisboa e pelo ISCTE – Instituto Universitário de Lisboa indica que 21% dos portugueses já viram a situação financeira do seu agregado familiar afetada pelas medidas do Estado de Emergência tomadas para conter a Covid-19. O maior impacto está a atingir aqueles que têm o ensino secundário (29%), enquanto os que só estudaram até ao 3.º ciclo de escolaridade (20%) e os que têm habilitações superiores (16%) escapam mais facilmente ao impacto económico da pandemia. Segundo a sondagem realizada para a SIC e para o “Expresso”, com trabalho de campo da GfK Metris e 625 inquiridos, o grau de confiança quanto à situação financeira do agregado familiar se as restrições do Estado de Emergência se prolongarem mais um mês, como já foi admitido ser provável pelos responsáveis políticos, revela maiores preocupações. São 12% aqueles que vão deixar de conseguir pagar as despesas básicas, enquanto 40% vão reduzir as mesmas despesas e outros 40% consideram que vão continuar a pagar as despesas normais.

Particularmente atingidos serão aqueles que já viviam com muita dificuldade com o rendimento auferido, pois 46% pensam que deixarão de poder fazer face a despesas básicas, descendo ligeiramente a percentagem para os que viviam com alguma dificuldade (38%) e sendo bastante baixa entre os que viviam razoavelmente (9%) e confortavelmente (3%) antes de a pandemia chegar a Portugal.
Esperança no verão
Quase metade dos entrevistados (45%) pensam que a vida voltará ao normal até ao verão, e os mais otimistas acreditam que tudo está normalizado até ao fim de abril (18%). Em sentido contrário, 17% apontam ao final deste ano como o horizonte de recuperação e 4% acreditam que demorará ainda mais.
No entanto, 27% dos portugueses dizem que só sentem preparados para viver sob as atuais restrições até ao final de abril, com outros 32% a responderem que suportariam a manutenção do Estado de Emergência até ao verão e 8% a apontarem para o fim do ano, enquanto outros 8% consideram-se preparados para aguentar ainda mais tempo numa conjuntura de distanciamento social, teletrabalho (ou desemprego) e limites à circulação.
A mesma sondagem indica que António Costa é a figura em quem os portugueses mais confiam para gerir a crise de saúde pública (com 75%), ligeiramente acima do Presidente da República (Marcelo Rebelo de Sousa merece a confiança de 74% dos inquiridos) e que praticamente todos concordam com a declaração do Estado de Emergência: 51% consideram as medidas adequadas e 44% dizem que são necessárias medidas mais restritivas, sendo apenas 3% aqueles que respondem que a decisão tomada pelo Chefe de Estado e aprovada pela Assembleia da República foi desnecessária.
Por outro lado, 59% deixaram de ir ao local de trabalho e 27% passaram a utilizar máscara de proteção em lugares públicos, entre outras alterações de comportamentos ditadas pelo risco de contágio com o coronavírus.
FICHA TÉCNICA
Este relatório baseia-se numa sondagem cujo trabalho de campo decorreu entre os dias 20 e 22 de março de 2020. Foi coordenada por uma equipa do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa (ICS-ULisboa) e do ISCTE – Instituto Universitário de Lisboa (ISCTE- IUL), tendo o trabalho de campo sido realizado pela GfK Metris. O universo da sondagem é constituído pelos indivíduos, de ambos os sexos, com idade igual ou superior a 18 anos, residentes em Portugal (Continente e Regiões Autónomas) ou em domicílios com telefone fixo ou dispondo de telemóvel. Os números fixos, cerca de 33% do total, foram extraídos aleatoriamente, proporcionalmente à distribuição por prefixos no território. Os números móveis, cerca de 66% do total, foram extraídos aleatoriamente, proporcionalmente à distribuição por operadoras. Os respondentes foram selecionados através do método de quotas, com base numa matriz que cruza as variáveis Sexo, Idade (4 grupos) e Região (7 Regiões NUTII).

A informação foi recolhida através de entrevista telefónica, em sistema CATI. Foram tentados contactos com 4092 números de telefone cuja existência foi confirmada. Desses, foi possível determinar 1343 números correspondentes a indivíduos/lares elegíveis. Desses, foram obtidas 625 entrevistas válidas. A taxa de resposta foi assim de 13,4% e a taxa de cooperação de 48,1%. O trabalho de campo foi realizado por 36 entrevistadores, que receberam formação adequada às especificidades do estudo. Todos os resultados foram sujeitos a ponderação por pós-estratificação, de acordo com a distribuição da população com 18 ou mais anos residente em Portugal por três escalões de instrução (3.º ciclo ou menos, secundária ou superior). A margem de erro máxima associada a uma amostra aleatória simples de 625 inquiridos é de +/- 4%, com um nível de confiança de 95% (Jornnal Económico, texto de Leonardo Ralha)

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