quarta-feira, março 25, 2020

Portugueses confiam em Costa (e depois em Marcelo) na gestão da crise. E acham “necessário” o estado de emergência

Mais de 75% dos portugueses afirmam ter “muita” ou “alguma confiança” na resposta que as instituições estão a dar à crise da Covid-19. Uma sondagem ICS/ISCTE para o Expresso e a SIC mostra que Marcelo Rebelo de Sousa perdeu para António Costa a taça da confiança, mas a esmagadora maioria dos inquiridos concorda com o Presidente na necessidade do estado de emergência. Marta Temido está 11 pontos abaixo da Direção-Geral da Saúde (os técnicos ganham aos políticos). E num país monofocado — 80% acompanha as notícias com “muita atenção” — a fonte de informação em que 91% mais confiam é a televisão. Os portugueses estão tranquilos com a forma como as instituições estão a gerir a epidemia e o primeiro-ministro é o político melhor cotado segundo uma sondagem ICS/ISCTE para o Expresso e a SIC realizada entre os dias 20 e 22, já com o estado de emergência em vigor.
Marcelo Rebelo de Sousa perde o seu habitual lugar destacado nos estudos de opinião, surgindo um ponto abaixo de António Costa (74% contra 75%) na confiança que os inquiridos mostram ter no papel das diferentes instituições na gestão crise. Esta diferença acentua-se no universo da esquerda (onde Costa arrecada 92% contra 81% de Marcelo), mas o Presidente da República também não é poupado pelo eleitorado de direita, onde recolhe a confiança de 79% dos inquiridos contra 81% que mostram confiar no chefe do Governo.

Estes números confirmam o desgaste que a quarentena a que o Presidente se submeteu ficando fechado em casa durante quase duas semanas lhe provocou na imagem, bem como a troca de papéis que essa quarentena acabou por determinar no seu 'ombro a ombro' com o primeiro-ministro. António Costa, como mostra a sondagem, sai beneficiado por ter sido 'o' protagonista, diariamente presente no terreno e nos media enquanto o Chefe de Estado permanecia afastado.
95% acham estado de emergência “necessário”
Já quanto à decisão que dividiu Marcelo e Costa na gestão da crise - decretar ou não o estado de emergência - a sondagem é clara: a esmagadora maioria dos portugueses (95%) concorda que era necessário dar esse passo. Deste universo, 51% acha que que as restrições decididas pelo Governo são as adequadas, mas 44% defende que são necessárias ainda mais restrições. O universo dos que dispensavam o estado de emergência é residual - apenas 3%, com 1% sem opinião.
A necessidade de segurança é confirmada na sondagem pela confiança que os inquiridos revelam nas Forças de Segurança, polícia e GNR, que surgem em primeiro lugar, com 79%. Seguem-se a Direção-Geral de Saúde (77%), o primeiro-ministro (75%) e do Presidente da República (74%) e o sinal parece claro - sem deixar de confiar nos políticos, os portugueses dão prioridade ao respaldo técnico, científico e securitário. António Costa sabe-o e, nas entrevistas que tem dado nestes dias, remete sempre para os "especialistas" parte das respostas que é convocado a dar, apostado em passar a mensagem que a decisão política está sempre dependente do parecer técnico-científico.
Mas a avaliação das instituições altera-se consoante os inquiridos se situam à esquerda ou à direita. A percentagem dos que mostram ter "muita" ou "alguma" confiança é menor nos que se situam à direita do espetro político - com duas exceções, as forças de segurança e o poder local - e a forma como cada um dos universos hierarquiza os polos da sua confiança também muda.
Assim, para os inquiridos de esquerda, a confiança máxima está no primeiro-ministro (92%), seguido das forças de segurança (83%), da ministra da Saúde (83%), da DGS (82%) e só depois do Presidente da República (11 pontos abaixo de António Costa, com 81%).
Para os inquiridos de direita, o campeão da confiança muda e passa para as mãos das forças de segurança. E a diferença entre Costa e Marcelo estreita-se para dois pontos, embora o primeiro-ministro continue à frente do Presidente (81% contra 79%). Nesta área ideológica, o grande rombo é na confiança depositada na ministra da Saúde, que surge como última no ranking, com apenas 64%.
Globalmente, a dupla que o país se habituou a ver diariamente nos balanços televisivos diários - Graça Freitas, o rosto da Direção-Geral da Saúde e Marta Temido, a ministra - não resiste intacta à avaliação dos portugueses. A responsável política aparece 11 pontos abaixo da Direção-Geral (77% contra 66%). E autarcas e deputados também perdem neste cotejo de confiança entre técnicos e políticos na gestão da crise. A Assembleia da República, que aprovou o decreto do estado de emergência, surge em último lugar com 62% e o poder local, chamado a gerir no dia a dia a proximidade com os cidadãos, integra o grupo de instituições pior cotadas, com 68%.
Um país a ver televisão
Focados na evolução e gestão da crise, 80% dos inquiridos mostram estar a acompanhar as notícias sobre a epidemia "com muita atenção", 16% com "alguma", 2% com "pouca" e apenas 1% com "nenhuma". E a fonte de informação em que mais depositam "muita" ou "alguma" confiança é a televisão (91%). Em segundo lugar surgem os amigos e a família, com 85%.
Quem sofre um rombo neste ranking de confiança são as redes sociais, que aparecem em último e atrás da imprensa escrita, jornais e revistas. A distância é bastante expressiva - 55% dos inquiridos dizem confiar na imprensa escrita e apenas 28% mostram confiar nas redes para se manterem informados sobre a epidemia.
FICHA TÉCNICA - Este relatório baseia-se numa sondagem cujo trabalho de campo decorreu entre os dias 20 e 22 de março de 2020. Foi coordenada por uma equipa do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa (ICS-ULisboa) e do ISCTE - Instituto Universitário de Lisboa (ISCTEIUL), tendo o trabalho de campo sido realizado pela GfK Metris. O universo da sondagem é constituído pelos indivíduos, de ambos os sexos, com idade igual ou superior a 18 anos, residentes em Portugal (Continente e Regiões Autónomas) ou em domicílios com telefone fixo ou dispondo de telemóvel. Os números fixos, cerca de [[% do total, foram extraídos aleatoriamente, proporcionalmente à distribuição por prefixos no território. Os números móveis, cerca de 66% do total, foram extraídos aleatoriamente, proporcionalmente à distribuição por operadoras. Os respondentes foram selecionados através do método de quotas, com base numa matriz que cruza as variáveis Sexo, Idade (4grupos) e Região (7 Regiões NUTII). A informação foi recolhida através de entrevista telefónica, em sistema CATI. Foram tentados contactos com 4092 números de telefone cuja existência foi confirmada. Desses, foi possível determinar 1343 números correspondentes a indivíduos/lares elegíveis. Desses, foram obtidas 625 entrevistas válidas. A taxa de resposta foi assim de 13,4% e a taxa de cooperação de 48,1%. O trabalho de campo foi realizado por 36 entrevistadores, que receberam formação adequada às especificidades do estudo. Todos os resultados foram sujeitos a ponderação por pós-estratificação, de acordo com a distribuição da população com 18 ou mais anos residente em Portugal por três escalões de instrução (3º ciclo ou menos, secundária ou superior). A margem de erro máxima associada a uma amostra aleatória simples de 625 inquiridos é de +/-4%, com um nível de confiança de 95% (Expresso, texto de Ângela Silva Infografia de Sofia Miguel Rosa)

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