Ex-ministro das Finanças fez questão de se destacar dos demais deputados socialistas aquando da votação da moção de confiança ao Governo - fez uma declaração de voto para mostrar que está descontente com o facto de não se ter evitado o cenário de eleições antecipadas Sendo certo que o PS “vai obviamente unir-se” para as próximas eleições, num aparente “estado de união” agora que tem a “perspetiva de voltar ao poder”, o politólogo André Azevedo Alves acredita que, “se Pedro Nuno Santos perder, vai ser corrido da liderança”.
“O PS está há muito tempo numa guerra civil interna”, afirma André Azevedo Alves, referindo-se às divisões entre a ala moderada e a ala mais radical dos socialistas. Também o politólogo José Filipe Pinto entende que “Pedro Nuno Santos está com problemas a nível interno”, uma vez que o discurso do líder “está a aproximar-se perigosamente do discurso do Chega”, nomeadamente ao “alimentar um clima de suspeição” em torno de Luís Montenegro. Sendo o rosto da “ala mais radical” do PS, Pedro Nuno Santos até “pode colher [votos] junto do Bloco de Esquerda, do Livre, mas não colhe junto de uma parte considerável do PS”, teoriza José Filipe Pinto. “Esta insistência num discurso agressivo, num ad hominem, num discurso de suspeição, não vai acolher junto do eleitorado, nem dentro do próprio PS. E Pedro Nuno Santos, se perder as eleições, vai ser responsabilizado internamente por ter apostado numa via que não é uma via de diálogo, de pacificação. É uma via de confronto”, afirma José Filipe Pinto, descrevendo esta narrativa de Pedro Nuno como “uma posição antissistema”, contrária à que seria de esperar “de um partido que é um dos grandes construtores e pilares do sistema”.
Assim sendo, e caso o PS saia derrotado destas eleições, “Fernando Medina, que é uma das figuras da ala oposta à de Pedro Nuno Santos, é uma possibilidade séria para a liderança do PS”, considera André Azevedo Alves. Hugo Soares, líder parlamentar do PSD, foi o primeiro a sugerir isso mesmo, em entrevista à TVI/CNN Portugal, quando destacou a declaração de voto pedida por Fernando Medina. "Estou curioso para ler a declaração de voto de Fernando Medina e perceber se não é o primeiro passo, aí sim, para disputar a liderança do PS com Pedro Nuno Santos - se Pedro Nuno Santos perder as eleições", vaticinou o líder da bancada parlamentar do PSD.
O ex-ministro das Finanças e agora deputado socialista foi o único a anunciar a apresentação de uma declaração de voto individual aquando da votação da moção de confiança ao Governo. Esta quarta-feira, em entrevista à Antena 1, explicou que o fez para vincar um ponto: “Lamento não termos conseguido evitar as eleições”. Com esta declaração, fica claro para o politólogo André Azevedo Alves que Fernando Medina “está claramente a preparar o terreno” para suceder a Pedro Nuno Santos na liderança do PS.
"Eu interpretei precisamente a declaração de voto como [Fernando Medina] a marcar o terreno - e neste momento também não é expectável que seja muito vocal", considera André Azevedo Alves, explicando que não podemos esperar que "Fernando Medina se ponha por aí a dar uma série de entrevistas a criticar Pedro Nuno Santos". "Acho que não é o momento para fazer isso e podia ser contraproducente até para a sua própria candidatura a uma eventual liderança do PS."
"Mas acho que claramente está a marcar o terreno para depois poder dizer 'atenção, as coisas correram mal e eu na altura avisei que não pareceu que isto fosse uma boa forma de proceder'", afirma André Azevedo Alves. Para o politólogo André Azevedo Alves, tanto Luís Montenegro como Pedro Nuno Santos vão ser os rostos da próxima campanha eleitoral. "Depois das eleições, muito provavelmente um dos dois, nomeadamente o que perder, sairá." E nomeadamente Medina saberá se poderá entrar (CNN-Portugal, texto da jornalista Beatriz Céu)
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